Leonor Moura Charles Dickens é o mais célebre romancista da era vitoriana. Ao utilizar um tom irónico e melodramático, o autor britânico escrevia, de uma forma erudita, a sua revolta contra as injustiças que marcavam a época em que vivia. Oliver Twist diferencia-se de outros clássicos do autor por ser uma tentativa extraordinária de descrever, por meio de cenários fantasiosos, uma sociedade ignorante marcada pela desigualdade. A famosa obra leva-nos para o século XIX, na cidade de Londres, retratando a história de um jovem órfão com o mesmo nome – Oliver Twist. Vítima da tirania e exploração das inúmeras casas de correção por onde passou na sua juventude, o menino decide fugir. No entanto, para sua infelicidade, é acolhido por um grupo de criminosos, comandados por Fagin, o mais experiente e vil antagonista de Oliver. Antes de mais, é, de facto, formidável que Dickens tenha escolhido uma criança como protagonista para este romance, algo extremamente inovador para a época. Propositadamente ou não, o vocábulo “twist” presente no título parece ter sugerido isso mesmo. A inocência de Oliver torna o desprezo do Estado, da justiça, das entidades que deviam cuidar do jovem, mais injusto. Acresce o facto de tudo ser amplificado, pois o indivíduo, para além de criança, é órfão. Na verdade, a exploração física e psicológica que Oliver sofre, nas casas de correção e, mais tarde, nas ruas de Londres, prova a crua realidade a que as crianças inglesas com esta condição estavam sujeitas. Este abuso infantil é retratado quando o jovem, por estar faminto, pede corajosamente a Mr. Bumble, seu superior, mais alimento, e, de seguida, como castigo, é trancado numa divisão escura, onde acaba por ficar durante uma semana inteira. Efetivamente, todo o ser humano julga esta ação condenável. Além disso, o contraste entre o bem e o mal é um dos temas mais constantes no decorrer da obra, assim conduzindo o leitor a uma reflexão sobre as suas próprias ações. Por um lado, Oliver é associado ao bem. O jovem mantém-se altruísta, honesto e solidário, apesar das tentações no seu caminho, ao ser repetidamente testado pelo mal, por exemplo, quando Fagin tenta envolvê-lo num roubo e este rejeita a sua proposta. É, deste modo, algo de louvar. Por outro lado, Fagin remete para o mal, já que manipula os órfãos mais jovens a roubarem, apenas para proveito próprio. Aliás, exemplificando, quando Oliver é erradamente detido, o antagonista, só demonstra preocupação em saber se foi visto perto do jovem. Assim, é interessante ver como pessoas sujeitas a uma mesma realidade possuem valores tão distintos. Em suma, Oliver Twist retrata, de uma maneira nunca antes vista, a sociedade inglesa da época, tendo como protagonista um jovem sujeito, como tantos outros, a condições desumanas. Paralelamente, o bem surge em Oliver, em oposição ao mal, de Fagin. Depois, esta obra tanto comove profundamente como entretém soberbamente o leitor, incentivando-o a refletir sobre a sociedade em que se enquadra, sendo, por isso, um livro vivamente aconselhado! Leonor Moura, 10.º H1