Frederico Pimenta O ano de 1894 foi determinante nos anais da Congregação Salesiana em Portugal. Durante muitos anos, a obra iniciada por D. Bosco chamou a atenção de numerosas personalidades que, pelo contato direto que tiveram com o Pai e Mestre dos Jovens ou pelas crónicas que circulavam em abundância, descritoras da eficácia do Sistema Educativo praticado, desejaram a presença do Ideal Salesiano em Portugal. Linhas convergentes________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 50 anos em Portugal – Subsídios para o estudo da presença Salesiana em Portugal O ano de 1894 foi determinante nos anais da Congregação Salesiana em Portugal. Durante muitos anos, a obra iniciada por D. Bosco chamou a atenção de numerosas personalidades que, pelo contato direto que tiveram com o Pai e Mestre dos Jovens ou pelas crónicas que circulavam em abundância, descritoras da eficácia do Sistema Educativo praticado, desejaram a presença do Ideal Salesiano em Portugal. Este desejo esteve ainda alicerçado nos ambientes social, político e económico vigentes nos finais do século XIX e início do século XX, com especial destaque para a juventude desprotegida. A chegada à cidade de Braga marca o início da presença salesiana em Portugal, cinquenta anos iniciados em 1894, no dia 8 de novembro, e comemorados em 1944. Em janeiro de 1945, o Boletim D. Bosco reúne, num número comemorativo do cinquentenário salesiano em Portugal, (1) os principais documentos elaborados na ocasião, recolha historicamente importante para a assimilação e contextualização do percurso da Congregação em Portugal. Apresento uma recolta lacunar desses contributos, respeitante unicamente a essa edição comemorativa. Em jeito de introdução, surgem, sob o título “50 anos ao serviço de Deus e Portugal”, as palavras “Venerandos Prelados, sábios professores, distintos amigos trazem aqui os seus depoimentos sobre a figura imortal de D. Bosco e sôbre os frutos da Obra que ele fundou”. (ibid., p. 1) O Papa Pio XII enviou a sua nota sobre estes acontecimentos. As figuras dos Presidentes da República e do Conselho tiveram destaque na publicação, mencionando-se a visita de ambos às Oficinas de S. José de Lisboa e igualmente a visita do segundo ao Asilo de S. António do Estoril. Como testemunhos da sua atenção, transcreveram-se duas frases pronunciadas pelos dois estadistas em momentos celebrativos. Também D. Manuel Cerejeira, Cardeal Patriarca, expressou, numa breve nota, o seu reconhecimento pelo trabalho desenvolvido pelos Salesianos, e o Núncio Apostólico, D. Piero Ciriaci, afirmou: “Em Lisboa não há quem desconheça o grande bem que à Capital do Império têm prestado as Oficinas de S. José, as quais, pela sua acção eficaz na formação dos rapazes das classes mais pobres, merecem ser chamadas verdadeiras fábricas de homens”. (ibid., P. 7) O Superior Geral, D. Pedro Ricaldone, em carta enviada ao Pe. Hermenegildo Carrá, manifestou o desalento por não comparecer em Lisboa e destacou o papel dos benfeitores da Obra Salesiana, a quem expressou “as minhas afectuosas saudações e vivos agradecimentos aos nossos queridos amigos, benfeitores, cooperadores e cooperadoras a quem tanto deve a obra salesiana em Portugal”. (ibid., p. 9) Os cooperadores e a beneficência tiveram duas páginas de fina redação, “Cooperadores Salesianos Presentes! Presentes!” e “A Página da Beneficência”, sendo esta última a página de honra. O Redator-principal do jornal” A voz”, Pedro Correia Marques, traçou com extraordinário poder de síntese e conhecimento robusto sobre o assunto assinalado um artigo intitulado “S. João Bosco e Portugal”, o qual, a par de outros grafados, se afigura como um dos principais documentos para a história da Congregação. D. António, Arcebispo Primaz, escreveu, desde Braga, notas importantes sobre o início da Obra Salesiana e o seu termo naquela cidade: “Cinquentenário jubiloso, saudoso e esperançoso”. Sobre a importância da Obra Salesiana para a sociedade em geral, escreveu D. João, Bispo de Vatarba, brevíssimas anotações na redação de “No cinquentenário da primeira casa salesiana em Portugal”. Presente em todas as atividades dos Salesianos, Carlos Zeferino Pinto Coelho apresentou, nesta publicação, o título “Depoimento autorizado dum cooperador”. (ibid., p. 17) Com muitas personalidades conversou e colaborou para a edificação da Obra e nestas linhas elencou nomes excecionais das memórias salesianas. O advogado, político e jornalista José de Almeida Eusébio dissertou sobre a figura de D. Bosco no texto “S. João Bosco” e com estonteantes comparações e convicções escreveu “É assim S. João Bosco, santo nosso contemporâneo, pode dizer-se, que quási andou ao nosso lado a calcurriar as sendas da vida”. (ibid., p. 18) Duarte de Araújo, licenciado em Direito, enobreceu a publicação com um texto profundo sobre o papel da escola na transição entre os séculos XIX e XX “D. João Bosco, Pioneiro de novos rumos”. Um interessante conjunto de impressões sobre a vida de D. Bosco e sobre uma visita feita por Rosado Fernandes, autor do texto “Dom Bosco, Retrato num discípulo”, à Casa-mãe de Turim prosseguiu a dignificar a publicação Dom Bosco. Três professores deixaram o seu contributo nas páginas da publicação comemorativa, O Dr. David Pacheco, a Dra. Margarida da Silva, reitora do Liceu de D. Filipa de Lencastre e a Dra. Domitilia de Carvalho, professora liceal e deputada da Nação. O primeiro com “Obreiro da Paz Social”, onde ordena um subtil traço da proposta de D. Bosco naqueles tempos conturbados do inicio da Obra Salesiana; a segunda com uma nota bastante significativa “D. Bosco, guia das almas juvenis” onde afirma “(…) só Êle, o Santo, o Astro Rei saberia eternizar com o seu sistema: o Método Preventivo” (ibid., p. 32); e a terceira com o texto “Palavras dum brilhante espirito feminino”, sobre a vida de D. Bosco. As missões não foram esquecidas nesta comemoração cinquentenária e num enquadramento sob o título “Palavras de Bispos Missionários”, discorreram Frei Teófilo de Andrade, Bispo de Nampula, D. Manuel Maria, Bispo de Gurza e D. Rafael da Assunção, Bispo de Limira, com um texto sobre “Os Salesianos em Moçambique “, remontando aos anos de 1896. Nesta rubrica, ainda sobressai o texto “Missionários Salesianos na Diocese de Cabo Verde” da autoria de D. Faustino, Bispo de Cabo Verde. Na continuação destas pequenas subvenções da publicação cinquentenária da presença salesiana, surge, da autoria de D. António, Bispo Conde, a explanação “Deus, nos desígnios admiráveis da sua Providência, suscita sempre alguém que, pela sua envergadura moral e santidade extraordinária possa opor à torrente do mal um dique inabalável”. (ibid., p. 26) Aludindo a D. Bosco, enaltece no artigo “O Santo Providencial do século XIX” a sua obra social e cristã. Também D. João Evangelista, Arcebispo-Bispo de Aveiro, o faz realçando a chegada dos Salesianos a Mogofores. Da pena de Juvenal d’Araujo, advogado e deputado da Nação, chegou da cidade do Funchal a exaltação da figura de D. Bosco e o desejo de ver o nome dos Salesianos naquelas paragens insulares no título “O anseio e o voto da Madeira”. Num extenso texto, “A Pedagogia de D. Bosco”, José Vieira da Luz partilhou um crisol sobre a obra de D. Bosco no seu contexto e profundidade enriquecedora. Sobre o Santo, escreveu ainda D. Manuel, Arcebispo de Évora, “Glória que não morre”. Pinheiro Torres, jornalista, advogado e político, fundador do Centro Católico Português, colaborou igualmente no número comemorativo do cinquentenário com “A minha homenagem”, onde enaltece os valores da escola e da educação. Ainda neste âmbito, sob o título “Muito Simples e muito fácil”, o Diretor Geral do Ensino no Ministério das Colónias, Dr. Braga Paixão apelou aos valores da pedagogia Salesiana: “Por isso a sua pedagogia é activa e alegre; assenta no exercício equilibrado das funções”. (ibid., p. 48) O Bispo de Leiria, D. José, e D. Domingos, Bispo de Portalegre, inscreveram os seus escritos, respetivamente “Como conheci a obra de D. Bosco” e “A humildade de S. João Bosco”. Foi dada à estampa um texto sem identificação com achegas de enorme valor sobre as “Missões Salesianas”. Destaque final para duas páginas, uma com “Um documento histórico da vida salesiana”, que inclui a transcrição da carta de entrada dos Salesianos em Braga dirigida ao Pe. Miguel Rua, e “A palavra do Padre Cruz”, sobre o mesmo acontecimento datado de 1894. A publicação Dom Bosco, número comemorativo do cinquentenário salesiano em Portugal cerra com documentos fotográficos das diferentes presenças salesianas, elenco dos superiores provinciais e breves resumos históricos das casas existentes. __________________________________________________________________ (1) Dom Bosco, Órgão dos cooperadores salesianos em Portugal, Ano IV – 2ª fase- números 37 e 38, janeiro de 1945.