| Mandem as crianças para a rua |

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| Mandem as crianças para a rua |

Por favor

Esta ideia que nos leva a todos a aceitar que as crianças aprendem melhor quando estão quietas, caladas e fechadas devia preocupar-nos. Não se trata de as vivermos como se tivéssemos de ter com elas uma relação bucólica e “ecológica”. E, muito menos, como se elas não suportassem o espaço de uma sala onde aprendam. Por mais que a sala de aulas não ganhe tanto assim se continuar a ser um conjunto de “bancos de autocarro” onde as crianças se “vejam” de costas umas às outras. Seja como for, ninguém ganha se continuarmos a ser complacentes com esta separação entre o recreio e a sala de aula. Como se o recreio servisse para distrair, para brincar e para conviver. E a sala de aula para coisas mais “sérias”.

Se nos deixarmos ir por aqui, a forma como não levamos as aulas para o recreio e não trazemos o recreio para a sala de aulas irá fazer com que se acentue o divórcio entre aquilo que se ensina e a utilidade de tudo o que se aprende.

Por isso mesmo, aceite o desafio e… “mande as crianças para a rua!”. E, da mesma forma que não faz sentido que elas vão “de castigo” para a biblioteca, deixe de fazer do elas irem “para a rua” o “topo de gama” de todas as repreensões. As crianças precisam de rua! Nos berçários e nos infantários. Precisam de rua na escola. E precisam de rua quando estão ao cuidado dos pais: de passear, de brincar na rua e de viver a rua. As crianças precisam de rua e a rua precisa das crianças. Em todas as estações! A rua suja-as. A rua desarruma-as. A rua traz perguntas e põe problemas. A rua encanta e assusta. A rua enche-as de pessoas. A rua traz escola de vida. Mas as crianças aprendem na rua e aprendem com a rua como não aprendem com mais ninguém!

Por isso mesmo, não permita que sejam precisas muitas mais vezes dias como o de hoje para se alertar e conversar sobre a bênção que são as aulas ao ar livre. Comemorá-lo é reconhecermos que as crianças estão, ainda, a crescer demasiado quietas, caladas e fechadas. E enquanto for assim, a escola e a família estarão a ser, mais do que deviam, “estufas” de crianças.

“Crianças de estufa” dão-se mal com a rua. “Crianças de estufa” dão-se mal com a vida. Dão-se mal com a diversidade e com os outros. São crianças assustadiças e de “porcelana”. “Crianças de estufa” são crianças zangadas com a infância. E isso é mau!

Por isso, no Dia das Aulas ao Ar Livre, tire as crianças de casa. Recomende que a escola dos seus filhos não desperdice o recreio e o ar livre. E aceite que a rua é uma sala. De aulas!

Eduardo Sá 

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