1905 – OSJ – A bandeira

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Frederico Pimenta A premiação dos alunos, no final do ano letivo, marcou, e marca, profundamente a vida do ambiente salesiano desde o início da sua presença em Portugal. Em 1905, a realização de mais um momento traz ao conhecimento a simbologia crescente da instituição. Paralelamente, neste momento festivo, entalha-se “O premio Oliveira Martins que, como sabem os nossos leitores, foi instituído pelo Exmo Sr. Dr. Guilherme d’Oliveira Martins para ser entregue ao alumno de marcenaria das Officinas de S. José que mais se distinguiu durante o anno, coube ao alumno José Philippe Souto Maior (…)“ Linhas convergentes ________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 1905 – OSJ – A bandeira No dia 18 de abril de 1905 realizou-se a festa do Jubileu episcopal de S. Em. o Cardeal D. José III, Patriarca de Lisboa. José Sebastião de Almeida Neto teve grande presença junto da família real portuguesa tendo consorciado D. Carlos I e D. Amélia, além do batizado, primeira comunhão, crisma e casamento de D. Manuel II, assuntos expostos em escrito anterior. A relação harmoniosa que manteve com os Salesianos foi igualmente marcante e evidenciou constantemente “o perfeito conhecimento que tem das obras salesianas e o affectuoso interesse que sempre lhes consagra.” (1) Ao fazer referência a este acontecimento, sobrelevamos o seu momento cronológico, pois nos sintoniza com a publicação da fotografia da bandeira das Oficinas de S. José coeva do relato da cerimónia do jubileu aludido. O pendão surge, novamente em fotografia, na publicação do mês seguinte, (2) agregada à festa da distribuição de prémios. A premiação dos alunos, no final do ano letivo, marcou, e marca, profundamente a vida do ambiente salesiano desde o início da sua presença em Portugal. Em 1905, a realização de mais um momento traz ao conhecimento a simbologia crescente da instituição. Paralelamente, neste momento festivo, entalha-se “O premio Oliveira Martins que, como sabem os nossos leitores, foi instituído pelo Exmo Sr. Dr. Guilherme d’Oliveira Martins para ser entregue ao alumno de marcenaria das Officinas de S. José que mais se distinguiu durante o anno, coube ao alumno José Philippe Souto Maior (…)“ (3) Referentes a esta data específica, existem dois documentos fotográficos que, pela sua riqueza, acareio para a sua descrição. Na solene sessão do dia 4 de junho desse ano, o cronista apresenta numa sequência encantadora, reforço da documentação visual, os pujantes jardins das antigas Oficinas de S. José, à Lapa; neste possante testemunho certifica-se as centenas (segundo o testemunho escrito seriam mais de quatrocentas) de participantes e, em lugar de destaque, as figuras do Sr. Núncio Apostólico, o ministro das Obras Públicas e o Sr. Arcebispo de Mitilene, respetivamente D. José Macchi, Conselheiro D. José d’Alarcão e D. José Alves de Mattos. No segundo documento fotográfico vislumbram-se os alunos premiados na inaudita festa e os respetivos superiores, além da figura de D. Bosco e a bandeira das Oficinas de S. José. Sobre esta última, passaremos a uma breve síntese. Verificámos, em escritos anteriores, as inúmeras deslocações que os rapazes das Oficinas de S. José faziam, quer em passeios, nomeadamente ao Palácio das Necessidades – onde tiveram lugar, na Capela Real, no caloroso acompanhamento musical dos atos litúrgicos e a saudação a instituições e famílias -, quer noutros encontros na cidade de Lisboa e nos então afastados arredores da urbe lisboeta. Essas deslocações eram realizadas em formatura ordenada, marchando ruas e caminhos e despertando persistente curiosidade e, na maioria das situações, simpatia por onde passavam. A descrição, no Boletim Salesiano, da bandeira em causa elaborou-se contextualizando historicamente a importância dos símbolos ao longo dos tempos: “Nos tempos heroicos da cavalaria medio-eval bastava um nome gravado em escudo ou bardado em charpa para infundir num só homem animo e valor contra mil.” (4) Olhando, nos documentos fotográficos elencados, o contraste dos cinzentos, faltavam as luminosidades das cores usadas no primitivo estandarte. Na sua falta, as palavras derramam a sua identidade e acrescentam o lema orientador do projeto salesiano: “Virtude e trabalho: eis o lemma gravado a ouro em alvo campo de seda, aureolado de azul do céo, na rica, posto que singela, bandeira que agora se hasteia á frente dos alumnos das Oficinas, quando saem incorporados.” (5) Contíguo se sente a premência de clarificar o lema gravado na insígnia, sintonizando de forma clara com a influência dos Papas Leão XIII e Pio X através das respetivas encíclicas: “Virtude e trabalho! Mas vistos pelo prisma do catholicismo em pratica. Virtude e trabalho! Mas como os quer a Egreja. Virtude e trabalho! Mas como os querem as immortaes encyclicas dos Pontifices.” (6) Relembramos a importância da encíclica Rerum Novarum, datada de 1891, emanada por Leão XIII, e a encíclica de Pio X, Acerbo Nimis, de 15 de abril de 1905, dois anos após o falecimento de Leão XIII e a eleição de Pio X. Ambos os documentos tiveram ampla divulgação no Boletim Salesiano coevo e concretização na obra salesiana. A descrição da bandeira continua harmonizando as cores com o regime monárquico então vigente e com a igreja, concluindo com a nomeação da sua impulsora, onde se denota, uma vez mais, o cuidado colocado nos benfeitores que acompanhavam a presença salesiana no país e neste concreto, em Lisboa da primeira década do século XX: “Este alvi-ceruleo pendão, symbolo da pátria nas cores e da santa religião no lemma, deve-se á generosa munificência da Ex. ma Snra. Condessa das Antas dedicadissima entre as mais dedicadas bem-feitoras desta caridosa instituição.” (7) _____________________________________________________________________________ (1) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno IV, Julho de 1905, N.7. (2) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno IV, Agosto de 1905, N.8. (3) Ibidem. (4) Boletim Salesiano, Revista das Obras de Dom Bosco, Anno IV, Julho de 1905, N.7. (5) Ibidem. (6) Ibid. (7) Ibid.