Pe. Luís Almeida No próximo domingo vamos celebrar a solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do universo. Esta é uma celebração recente da Igreja. Foi o Papa Pio XI que a instituiu em 1925 com a encíclica Quas primas. Aqueles eram tempos conturbados, em que a Igreja viu como necessário reafirmar a soberania real de Jesus e dos seus ensinamentos, num mundo que se ia afastando cada vez mais de Deus. Eram tempos em que a verdade era vista como algo a ser debatido unicamente pela filosofia e por correntes modernistas, e em que o empirismo – a ciência experimental – aparecia quase como o único garante da verdade. À Igreja não era reconhecida a autoridade de pensamento esclarecido que tem para apontar o Evangelhos como Verdade para a humanidade. Verdade essa que, em último, é o próprio Cristo Senhor. Hoje, quase 100 anos depois, pode parecer que a festa de Cristo Rei é deslocada e longínqua da realidade que vivemos, mas se olharmos às razões que levaram o Papa Pio XI a instituí-la, vemos que não é bem assim. Basta que façamos uma pergunta: “está o mundo a caminhar mais com e para cristo do que estava em 1925?” Não parece ser o caso. Pelo menos não se olharmos com profundidade para a nossa realidade. Se seguirmos os mesmos critérios dos tempos de Pio XI, talvez hoje com mais razão ainda precisemos de afirmar a realeza de Cristo. Cada vez mais a fé é vista como algo que não tem lugar na vida pública. É relegada para o mundo privado de cada um, quase como se fosse somente mais uma opinião que se pode ter. Cada vez mais não é reconhecido à igreja o direito que tem de falar e apresentar a verdade, tal como lhe foi revelada por Jesus Cristo. Cada vez mais os próprios cristãos têm receio de apresentar a fé como fundamento da vida, e deixam-na como algo que vivem no interior de casa ou, com sorte, naquela hora que vão à paróquia ao domingo. Talvez seja mesmo necessário voltar a afirmar que Cristo é Rei, porque essa afirmação traz em si outra fundamental: nós somos seus súbditos! E somos felizes em sê-lo! Muitos dizem que se olharmos para os reis de antigamente, que tinham um poder absoluto sobre os seus povos, vemos como muitas vezes esse poder acaba por corromper o coração do homem. Mas também é verdade que a história da cristandade nos dá testemunho de muitos santos reis e rainhas que vale a pena conhecer: São Luís (França), Santo Henrique (Baviera), Santo Estêvão da Hungria, São Venceslau (Polónia), Santa Isabel da Hungria, Santa Isabel de Portugal, Santa Margarida da Escócia, e isto só para citar alguns. Seja como for, a realeza de Jesus é de outra natureza da realeza do mundo. A realeza de Jesus é a sua divindade, que Ele manifestou colocando-se ao serviço da humanidade. E mesmo esse serviço que Jesus oferece é diferente de qualquer outro prestado por pessoas poderosas. Por mais poderoso que fosse um rei nunca poderia dar-nos a salvação, o perdão dos pecados ou a possibilidade de voltar à amizade com Deus. O verdadeiro serviço de Jesus foi mostrar que somos criaturas de Deus, filhos muito amados por Ele, feridos pelo pecado, mas que Nele podemos encontrar de novo o sentido das nossas vidas, e que sem Ele andamos completamente perdidos. Para além disto, Jesus é verdadeiramente Rei do universo e de toda a humanidade, porque Ele é a imagem da criação inteira. Ele é o destino de todo o universo, porque é Ele que o leva à plenitude. Ele é o Rei da humanidade inteira, porque Ele é a autêntica humanidade como Deus a concebeu, a quis e a criou. Todas as vezes que rezamos o Pai-Nosso, pedimos que o seu Reino – ou seja, a sua realeza, o seu domínio – venha sobre nós, mas dispomo-nos verdadeiramente a isso? Estará o nosso coração preparado para reconhecer o seu verdadeiro Rei e aceitá-lo? No nosso mundo, que muito fala de autonomia, de segurança, que pretende controlar tudo, esta festa de Cristo Rei vem recordar-nos que Aquele que verdadeiramente reina é somente Cristo. Não somente porque tem poder, mas porque ama. E só o amor é credível e digno de reverência. Por último, lembremo-nos que com esta festa de Cristo Rei terminamos o ano litúrgico. Isto quer dizer que nos aviamos já para o início do tempo santo do advento, rumo ao Natal do Senhor Jesus. Também isto é significativo. A festa de Cristo Rei coloca-nos já na atitude correta a ter perante o Natal: aquele menino que vai nascer e que vemos pequenino e frágil nos braços de Nossa Senhora é, na realidade, o Rei de todo o Universo! Foi a partir dele que todas as coisas foram feitas e é nele que todas serão renovadas. Senhor, “venha a nós a o vosso Reino!” “Reino eterno e universal: Reino de verdade e de vida, Reino de santidade e de graça, Reino de justiça, de amor e de paz” (Prefácio da festa de Cristo Rei).
Pe. Luís Almeida | SDB