Frederico Pimenta Nas vésperas do sexagésimo aniversário da sagração da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, nunca esquecendo o seu papel central quer na paróquia quer no ambiente escolar, importa recordar, forçosamente num contorno sintético, os aspetos principais da sua edificação concreta e do acolhimento às diferentes gerações. Linhas convergentes _____________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 1964 – A igreja de Nossa Senhora Auxiliadora Nas vésperas do sexagésimo aniversário da sagração da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, nunca esquecendo o seu papel central quer na paróquia quer no ambiente escolar, importa recordar, forçosamente num contorno sintético, os aspetos principais da sua edificação concreta e do acolhimento às diferentes gerações. No ano de 1964, procedeu-se à inauguração da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, afastada do projeto inicial elaborado pelo arquiteto Mario Cerradini o qual se apresentou inexequível pela exuberância arquitetónica e comensuração económica distante da realidade da obra salesiana em Lisboa. Agregados ao longo de várias décadas, alunos e famílias percorreram os bancos do templo para, em comunidade, celebrarem a vida nos diferentes momentos da existência humana. Campo principal dos três espaços da pedagogia salesiana, este edificado desenrola-se no abraço ao pátio e salas de aulas. A igreja continuava o edifício primevo que, na opinião do Diário Popular de 9 de março de 1960, “É – tenhamos a coragem de o dizer – um feio, inestético edifício semelhante a muitos outros daquela época de transição arquitectónica.” (1) “A construção desta igreja é uma necessidade de primeira ordem.” “Hoje, mais do que nunca, impõe-se a construção urgente dum grandioso templo na Capital da Nação dedicado à Virgem Auxiliadora dos Cristãos.” (2)E esta necessidade foi suprida pela futura igreja da Paróquia dos Prazeres. “Iniciaram-se, já no fim de Fevereiro, os trabalhos de sondagem para o lançamento dos alicerces da nova igreja de Nossa Senhora Auxiliadora (…). No passado dia 19 de Março, Festa de S. José, começaram definitivamente as obras em grande escala.” (3) Esta constatação foi alicerçada com um documento fotográfico que certificou esse memorável instante dos primeiros labores no encetar dos alicerces. Datado de 13 de janeiro de 1964, foi elaborado um documento com os principais momentos da inauguração da igreja de Nossa Senhora Auxiliadora e outros apêndices significativos. Este documento foi assinado pelo Provincial, pelo Diretor das OSJ de Lisboa e pelo Delegado Nacional da Pia União dos Cooperadores Salesianos, respetivamente Pe. Armando da Costa Monteiro, Pe. Lino Ferreira e Pe. Francisco António Pereira. Nele se anuncia, no dia 26 de janeiro, o desenrolar da I Reunião anual da “Terceira Família Salesiana do Centro de Lisboa”. A mesa da presidência e os demais auditores presentes ouviram, em sapiente conferência, o Pe. Amador dos Anjos Servo, personalidade que uma vez mais referenciamos como ilustre historiador e homem de cultura. No dia 28, realizou-se um Tríduo de Preparação e, no dia 29, teve lugar a Festa de S. Francisco de Sales. No dia 30, além das missas celebradas, realizou-se igualmente a procissão das relíquias (S. João Bosco, S. Timóteo, S. Domingos Sávio e Sta. Daria) da igreja do Santo Condestável para a igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, onde, pelas 17.30h, se procedeu à Consagração da igreja e dos altares e teve lugar o solene Pontifical da Dedicação presidido pelo Núncio Apostólico. No dia 31, realizou-se a Festa de João Bosco e a cerimónia da bênção da Primeira Pedra para o novo bloco de aulas a erguer junto à igreja e onde se encontram atualmente as instalações da Casa D. Bosco, Direção, Administração e o 2.º ciclo. Estes momentos contaram com a presença do Chefe de Estado deste período histórico “…na capela-mor, onde tomou lugar num trono com espaldar revestido de panejamentos vermelhos bordados a ouro e assente em estrado de três degraus cobertos de veludo vermelho.” (4) O encerramento destas celebrações deu-se com um Solene TE DEUM em ação de graças. Todas as presenças salesianas estiveram representadas pelos diretores e superiores. O Boletim Salesiano (5) elencou exaustivamente todos os envolvidos, instituições e Superiores de Ordens e Congregações Religiosas que presenciaram a memorável Festa de S. João Bosco, do ano de 1964. O traço da igreja foi do arquiteto João Simões (o arquiteto, além de numerosas obras de extraordinário valor, foi autor, em 1940, do projeto do primeiro Estádio da Luz que sofreu alterações ao longo dos anos), estando a construção à responsabilidade da Sociedade de Construções Amadeu Gaudêncio e das Oficinas de S. José nos trabalhos de carpintaria e serralharia. A observação pormenorizada do seu rigor arquitetónico e demais elementos da gramática da Constituição Conciliar da Sagrada Liturgia permitiram análises e críticas ao elemento arquitetónico elevado nos Prazeres. O Boletim de Informação Pastoral (6) tece uma súmula de debilidades na elaboração do templo, escrevendo “que foi edificada à margem de todo o movimento de renovação litúrgico-pastoral em pleno desenvolvimento na Igreja…”. Elenca, entre outras e unicamente a título exemplificativo, “A igreja desintegrada do conjunto dos edifícios da comunidade…”, “…artificialismo, de procura fácil de efeito”, “A predominância do órgão monumental…”, “…faz tábua rasa das actuais orientações que visam valorizar o altar…”, “E talvez por isso mereça ser visitada, estudada, discutida.” Aspetos que o tempo e a ação das gerações aplainaram. No ano de 1994, num trabalho do artista plástico Luís de Matos, foi edificado o Batistério Paroquial numa – referindo-se à igreja – “das mais notáveis obras de arquitectura da segunda metade deste século, em Lisboa”. (7) Na celebração dos 200 anos do nascimento de S. João Bosco, em fevereiro de 2012, também o artista plástico Nuno Gonçalves Quaresma elaborou o painel presente na escadaria exterior da igreja. Diferentes e sólidas intervenções decorreram nas últimas décadas com vista ao embelezamento e funcionalidade deste espaço primordial da presença salesiana em Lisboa no campo das ações cultural, escolar e paroquial. ______________________________________________________________________ (1) Boletim Salesiano, Órgão das Obras de D. Bosco, Ano XVIII – N.º 153, maio, 1960. (2) Boletim Salesiano, Órgão das Obras de D. Bosco, Ano XIX – N.º 173, março, 1962. (3) Boletim Salesiano, Órgão das Obras de D. Bosco, Ano XIX – N.º 174, abril, 1962. (4) Boletim Salesiano, Ano XXI – N.º 195, março – 1964. (5) Ibidem. (6) Boletim de Informação Pastoral, Ano VI, 1964, Maio-Junho, N.º 31., N.º 334, 1994. (7) Boletim Paroquial, Paróquia de N. S. dos Prazeres, N.º 334, 1994.