> Seara > Do espanto

José Morais Padrinho fosse, querida escola, e chamar-te-ia… Maria do Mar Querida Maria do Mar Desejo que estejas bem. Todos os teus filhos me surpreendem diariamente. São tão diferentes, os teus filhos! São tão lindos os teus filhos, por serem tão diferentes! Dir-me-ás que basta que sejam filhos, porque o resto vive nos meus olhos e nos olhos daqueles que desejam ver. Eu sei, estimada Maria, é apenas um desabafo e uma necessidade de recordar a mim mesmo essa evidência. Sinto-me cego muitas vezes, e receio que essa minha cegueira pise alguns dos sonhos destes teus filhos. Tenho observado o Martim. Que riqueza, este miúdo! Os seus olhos cheios de curiosidade são uma interpelação constante e transportam com eles um enorme mundo de possibilidades. Para que continuemos em sintonia, partilho contigo uma mensagem que escrevi para ele e para mim. À minha caixa de correio já chegou, à dele chegará um dia. Não precisas responder. Trata-se apenas de mais uma reflexão cujo objetivo é trazer alguma luz e rasgar aquela penumbra que, dia após dia, teima em persistir. Talvez seja um jogo que gosto de jogar comigo mesmo, numa tentativa de ver e perceber o que me parece evidente e o que está para além dele. Se quiseres, um esforço para continuar a alimentar e a reencontrar o espanto. Ao olhar para o Martim, lembro-me que, em criança, sem experiência do mundo, tudo o que eu imaginava ou sonhava me parecia possível. Com estas palavras pretendo deixar-te algum conforto e reforçar que estou desperto e consciente do enorme potencial do nosso menino. Hoje Martim, amanhã José, depois de amanhã Catarina. O espanto, Maria do Mar. Guarda em ti esta palavra. “Gosto muito da definição de espanto dada por Adorno: “Espanto é um longo e inocente olhar sobre o objeto”. […] O espanto obriga-nos a uma revisão do que sabemos de nós próprios e do mundo. Obriga-nos a recomeçar, como se fosse um nascer. O amor, o conhecimento, a poesia ou a santidade principiam com ele.” (Mendonça, J., 2017:20). Que espanto, não achas? Muita saúde, Maria do Mar. Abraço-te. José Morais | Diretor Pedagógico