O que nos dizem os livros…

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Leonor Garrido Se isto é um Homem é um livro impactante escrito por Primo Levi, um sobrevivente do Holocausto e químico italiano.
O mesmo foi publicado pela primeira vez em 1947 e descreve as experiências de Levi enquanto prisioneiro de Auschwitz, um campo de concentração nazista que ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial. Dito isto, o autor, ao escrever este clássico da literatura italiana, deixa para a posteridade uma experiência dramática e terrível da história da humanidade para que não se esqueça, nem se apague da memória. É, portanto, uma obra dura de se ler e, não sendo apenas um registo verídico e desapaixonado de uma situação extrema, é também uma reflexão sobre a condição humana e um legado que é deixado para que a humanidade não volte a repetir os mesmos erros. Primeiramente, é necessário sublinhar a autenticidade desta obra. De facto, o autor, ao oferecer um relato de primeira mão da sua experiência em Auschwitz, faz com que a sua narrativa seja mais do que um simples registo histórico, é um testemunho direto e pessoal, o que o torna uma fonte valiosa para compreender os horrores do Holocausto. Na verdade, a obra é uma narrativa intensamente honesta e brutal, oferecendo uma visão vívida das condições desumanas enfrentadas pelos prisioneiros, pois Levi não poupa detalhes ao descrever o sofrimento físico e psicológico, além de explorar as profundezas da degradação humana. Deste modo, esta veracidade e intensidade da escrita do autor poderão ser vistas, por exemplo, na passagem: “Entravam para o campo os que o acaso fazia descer de um lado do comboio; iam para o gás os outros. Assim morreu Emília, que tinha três anos; porque aos alemães parecia evidente a necessidade histórica de matar os filhos dos judeus.” (pág. 18). Seguidamente, esta produção literária destaca, de uma maneira excecional, a resiliência humana no meio da adversidade extrema. A narrativa não retrata apenas o horror do Holocausto, examina também a capacidade de o ser humano manter a dignidade e a humanidade, mesmo nas circunstâncias mais desesperadoras. Na verdade, no meio do horror, do sem sentido da vida no campo, do nunca saber se no dia seguinte ainda se está vivo, de os nazis tudo fazerem para que não houvesse uma réstia de humanidade entre aqueles cadáveres que se arrastavam e agonizavam cheios de fome, frio e cansaço, Primo Levi realça alguns presos que se distinguiram porque conseguiram ser diferentes naquela massa humana sem poder, sem voz, cujo nome fora substituído por um número tatuado no braço. Entre eles estava Lorenzo, que em muito impactou o percurso do autor no campo, algo visível na seguinte passagem: “As personagens destas páginas não são homens. A sua humanidade está sepultada, ou eles mesmos a sepultaram, debaixo da ofensa que sofreram ou que infligiram a outrem. (…), Mas Lorenzo era um homem; a sua humanidade era pura e incontaminada, estava fora deste mundo de negação. Graças a Lorenzo, aconteceu-me não esquecer que também eu era um homem.” (página 129). Concluindo, S e Isto é um Homem é uma obra-prima da literatura testemunhal do Holocausto, oferecendo uma visão única e angustiante de um dos períodos mais sombrios da história. Assim, não só é de louvar a autenticidade da obra e a intensidade da escrita, que a elevam a outro patamar, como também a sua capacidade de demonstrar que, mesmo nas condições mais adversas, o ser humano é capaz de bondade. Deste modo, é um livro assombroso e arrepiante, um testemunho valioso que leva o leitor a uma reflexão que nenhuma ficção alguma vez conseguirá alcançar. É, por isso, muito recomendada a sua leitura! Leonor Garrido, 12.º T1