A escola deve ser uma ampla avenida, plana, com árvores e bancos onde se pode descansar, conversar, ou simplesmente estar. Nessa avenida os semáforos não existem, porque nela apenas circulam pessoas. Como é plana e sem barreiras, as cadeiras de rodas, os patins ou os ténis deslizam sem esforço. Uns correm, outros andam, mas vão na mesma direção e ninguém se sente perdido, ou atrasado, ou excluído. Nessa avenida existem fontes de água potável, onde todos bebem consoante as suas necessidades. Alguns param nessas fontes porque são revigorantes. Nela circulam enfermeiros, médicos, psicólogos, professores, filhos e pais. Todos pessoas. Cada uma dessas pessoas não tem outro objetivo que não seja dar o seu melhor para ajudar cada um a chegar onde deve chegar, e a ser o que deve ser.
Por vezes, ao olharmos para a nossa escola, em vez de uma avenida encontramos um engenhoso labirinto, cujo objetivo é tornar complexo e longo, um percurso que poderia ser curto e natural. Alguns chegam ao fim com facilidade, outros com dificuldade atingem esse mesmo fim, alguns perdem-se, outros desistem, outros são obrigados a voltar atrás para recomeçar, com o rótulo de quem não conseguiu.
“O “chumbo” (retenção) é, em princípio proibido por lei; pode excecionalmente ser proposto, mas tem sempre de ser aceite pelo aluno e pela família. Em contrapartida são organizados sistematicamente grupos de apoio para os alunos que manifestam dificuldades numa ou noutra disciplina, e é colocado na sala um professor assistente para os ajudar.” (Robert, 2010: 13-14).
Ao olharmos para a nossa escola custa-nos admitir que existem túneis para nela entrar. Custa-nos ainda mais admitir que colocamos constantemente obstáculos para filtrar a passagem a algumas pessoas que nela já conseguiram entrar. Toca-nos particularmente a forma como David Justino descreve esta realidade, referindo-se a ela como uma “corrida de obstáculos.”
“a imagem que melhor traduz este comportamento é a de uma corrida de 400 metros barreiras em que à passagem de cada barreira há sempre alguns atletas que caem e ficam para trás. À medida que se avança na corrida, maior número de atletas são eliminados após a passagem da barreira. Os que chegam à meta são, assim, uma minoria relativamente àqueles que iniciaram a corrida… O problema está em saber porque é que o trajeto escolar tem de ser uma “corrida de obstáculos” colocados em determinados pontos do percurso e não uma progressão natural, tanto quanto possível capacitadora das qualidades “atléticas” dos “corredores”… O sistema de ensino, tal como está organizado, não é vocacionado para promover o sucesso dos alunos, mas tão-só para os selecionar ao longo do seu trajeto educativo.” (Justino, 2010: 63).
José Morais | Diretor Pedagógico