Frederico Pimenta “S. Majestade Fidelissima o Rei de Portugal honrou com a Commenda de Santiago (de merito industrial, civil, litterario e religioso) o ingenheiro Ceradini, pelo seu elegante e singelo projecto dos novos edifícios das officinas de S. José de Lisbôa, de que apenas está construída uma pequena parte.” Linhasconvergentes_______________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. Arquiteto Mario Ceradini Olhando do pátio norte da nossa escola, é evidente a presença do vetusto edifício que marca profundamente o espaço e a história da escola salesiana de Lisboa. Grandes transformações se realizaram e sobre elas se podem escrever longas reflexões, sombreadas por esta edificação. Já centenárias, as salas que hoje albergam o 3.º ciclo e outras valências testemunharam acontecimentos que estruturam as histórias pessoais, da instituição e do país. No início do século XX, os terrenos que aquartelaram os suportes da construção deste edifício não apresentaram as condições ideais para um primórdio de obra tranquilo. Muitos cuidados foram tomados para o crescimento desta estrutura física. Estruturas de suporte, a vinte metros de profundidade, dão ideia dessas dificuldades e das soluções encontradas. A ideia de construção surge da necessidade de materializar o projeto das Oficinas de S. José, que, anos antes, se desenvolvia na cidade de Lisboa, primeiro por uma Associação de Beneficência e, mais tarde, após um dilatado período de pedidos e cartas entre Turim e Portugal, orientada diretamente pelos Salesianos de D. Bosco. A este ponto histórico voltaremos em futuras linhas. Centrando a nossa atenção no atual edifício das Oficinas de S. José, somos obrigados a contextualizá-lo relativamente ao autor do projeto arquitetónico. O nome e a eficácia do trabalho de Mario Ceradini eram comuns nos meios do ensino e do trabalho de arquitetura, no ambiente italiano e em especial na cidade de Turim. O arquiteto nasceu em Veneza, no ano de 1864, e morreu em San Remo, no ano de 1940. Desenvolveu os seus trabalhos, de forma empenhada, até 1938, data do último projeto. Ceradini foi Professor de arquitetura e Mestre de desenho na Academia Albertina de Turim e foi seu presidente em 1931. Foi ainda Diretor da Escola Superior de Arquitetura de Turim até 1935. Foi um grande apaixonado pelo montanhismo e praticante fervoroso desta atividade. Entre 1900 e 1936, Mario Ceradini colaborou intensamente com a Congregação Salesiana, edificando inúmeras obras que dinamizaram e enriqueceram ainda mais a sua carreira internacional (1). Sob dinamização do Pe. Luigi Rocca, na altura ecónomo dos Salesianos, traçou o projeto arquitetónico para as Oficinas de S. José, em Lisboa, no local onde hoje se encontram. Existem inúmeras referências a este projeto, ao qual voltaremos noutro momento. As publicações coevas, elencam a grandeza do projeto e a austera simplicidade aurífica da criação de estruturas dedicadas ao ensino de qualidade na Lisboa do final do século XIX e princípio do século XX, fazendo frente às inúmeras necessidades, de diversa ordem, existentes naquela época. Internacionalmente, o arquiteto Mario Cerradini recebeu inúmeras distinções, o mesmo acontecendo em Portugal sob os auspícios do Senhor Dom Carlos I, rei de Portugal, que distinguiu, publicamente, através de premiação, o arrojo do projeto arquitetónico idealizado para Lisboa, no espaço da denominada Travessa do Forno, no Alto dos Prazeres. As soluções em termos de ventilação e saneamento eram superiores às existentes, na generalidade do parque habitacional em Portugal. O Boletim Salesiano, vol. II – nº11, de novembro de 1906, destaca esta premiação: “S. Majestade Fidelissima o Rei de Portugal honrou com a Commenda de Santiago (de merito industrial, civil, litterario e religioso) o ingenheiro Ceradini, pelo seu elegante e singelo projecto dos novos edifícios das officinas de S. José de Lisbôa, de que apenas está construída uma pequena parte” (2). As obras, realizadas pelo arquiteto Mario Ceradini, espraiam-se pelos vários continentes. A igreja de Testaccio e o edifício da Universidade de Bangkok são as suas obras mais observadas e admiradas. A última criação do arquiteto Mario Ceradini foi o altar de S. João Bosco, na igreja de Nossa Senhora Auxiliadora, em Turim. O arquiteto inicia, com o edificado na zona do atual Campo de Ourique, a grandiosa obra salesiana, que, desde 1906, prestigia a zona de Campo de Ourique, fazendo fronteira com o traçado geométrico idealizado pelo técnico Augusto César dos Santos, em 1878, (3) sob responsabilidade do engenheiro Frederico Ressano Garcia. _________________________ (1) Spesso, Marco, Mario Ceradini – diffusione internazionale dell’architettura modernista italiana, Genova University Press, Genova, 2021. (2) Respeitou-se, na transcrição, a ortografia da época. (3) Diniz, Susana Pais de Almeida Maia e Silva, O bairro de Campo de Ourique: projetos e atuações (1878-1958), Lisboa, Dissertação de Mestrado e História da Arte Contemporânea apresentada na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, UNL, novembro, 2013. Frederico Pimenta