Cláudia Vale e alunos do 11.º ano No Dia Mundial da Poesia, proporcionou-se uma aula de Português diferente, juntando duas turmas de áreas distintas, ciências e de humanidades, na mesma sala. A propósito do estudo da obra de Cesário Verde, os alunos assistiram a um documentário e depois à declamação do poema “O Sentimento dum Ocidental”, que os inspirou a escreverem também uma quadra que transfigurasse poeticamente o real da cidade de Lisboa hoje, tal como cada aluno a vê no presente, em pleno século XXI. Foi uma aula que os alunos apreciaram bastante, pelo dinamismo, interação e criatividade, manifestando a vontade de repetir este tipo de iniciativas. Eis o resultado! Professora Cláudia Vale 11.º T4 Lisboa, cidade das sete colinas, Onde o sol brilha em tardes tão divinas, De fado e saudade é feito um coração Em tuas ruas vive sempre a emoção! Entre as ruas e vielas de Lisboa Vejo a vida a pulsar sem parar O Tejo a brilhar ao sol que se evoca E a saudade que não quer cessar. Oh, Lisboa, cidade de mil encantos, Com suas ruas cheias de vida e de cor, Nas tuas praças se encontram tantos, E o Tejo sempre a banhar-te com amor. Lisboa, cidade de eterna paixão, Onde o sol brilha mais intensamente, Nas tuas esquinas, o passado e o presente, Fundem-se em harmonia e comunhão. Lisboa, cidade de encanto singular, Onde o passado e o presente se fundem… E nas suas vielas podemos viajar Para um tempo que nunca se desvanece. Duas igrejas num saudoso largo, Lançam a tragédia do clero: Nelas a solidão atinge A população em severo. Com o Padrão dos Descobrimentos Erguido à beira-mar, Lisboa lembra-se dos tempos Em que o mundo quis conquistar. A Torre de Belém é um touro, Com sua pedra pobre e imponente, De Portugal é símbolo de ouro E da sua história é um presente. No metro do Rato arengam desempregados. Saio do submundo e ofusca-me o som. As idosas senhoras olham-me das janelas, E nas ruas jovens estudantes correm apoquentados. Na cidade agitada e demente O homem corre sem parar, Esquece a vida, esquece a mente, Só pensa em trabalhar. Nas ruas de Lisboa tão belas, São tantos os elétricos Que transportam pessoas singelas, Com os seus corpos já esqueléticos! Nas ruas vazias de pessoas Mas cheias de seres humanos, Ninguém se sente acompanhado Assim se passam dias, meses, anos. Que a noite me leve Até ao amanhecer, Num sonho acordado, Que nada me faz mexer. Lisboa, cidade das sete colinas, Cheia de pessoas, cheia de contrastes imensos. Lisboa, onde o fado é cantado pelas meninas E o aroma do Tejo chega trazido pelos ventos. Ruas repletas de pessoas e de riquezas, Mesmo assim não escapamos à pobreza, Nesta cidade central, nada mais que tristezas, Cada vez mais sozinhos, perseguidos por incerteza. Em Lisboa, cidade de luz e poesia, A brisa do mar mistura-se com o ar. E, nas suas ruas, a melodia Do fado convida-nos a sonhar. No doce sabor do pastel de Belém, A tradição faz-se presente em cada mordida, A massa crocante e o creme quente, Uma iguaria que enche a alma e a barriga. 11.º H Ó Lisboa, menina e moça, Cidade de Camões e linda capital, Toda a tua beleza e história Espelha a grandeza de Portugal. Na parte onde se abateu a desgraça, Muram-se os prédios retos, iguais, crescidos, Apontam-me, sempre, as suas íngremes e difíceis vidas E os sinos dum tanger sempre igual, nunca bonitos. Lisboa vive, mas presa pelos edifícios Que há séculos foram construídos. Os erros do passado, não aprendidos, Refletem-se na pobreza da Lisboa de hoje. Mas a quimera azul faz-me sonhar Com o desejo de transmigrar E voar por esse céu sem fim, Num mundo puro, cheio de… enfim! Na cidade, nas suas ruas escuras e solitárias, O sofrimento torna-se um desejo, um prazer, Submetido à agitação do rio, à névoa do céu, À perturbação interminável que se alastra por toda a parte… E a polícia, que revista o povo, Caminha de algemas e sem justiça, Acusada sempre de ser metediça, Desespera, gritando, “estão a protestar de novo!” … Sofrimento estimulado, sofrimento concretizado, Dor e amor, esplendor prevaricador. Oh, coitado é aquele que se perde na imprudência do amor, Que, contaminado pela paixão, se repica com ardor. Batem os copos cheios na noite, Os sorrisos premeditados e polidos… Vêm-me à cabeça outros tempos, Não eram fingidos, mas por mim não foram vividos. Assim me entrego à fantasia, E sigo em frente, sem agonia, Pois sei que há muito a descobrir, Nesse teto fundo de oxigénio a fluir. E nestas ensolaradas ruelas Passam por mim os cheiros a sardinhas, Na ida com amor por esta nossa Lisboa, Cantam o fado as nossas varinas. O teto fundo de oxigénio, de ar, Parece um mar aberto a navegar, Entre trapeiros que deixam passar Lágrimas de leis dos astros a chorar. Os espaços cada vez mais apertados, Cada vez mais cheios de pessoas e do seu fel, Na rua estamos rodeados, mas sós e isolados. O que é isto, oh, cidade, mundo cruel?! Entre a Baixa e as colinas, Lisboa pulsa em movimento, Arquiteturas modernas brilham, Num cenário de encantamento. Lisboa do século XXI, Cosmopolita e vibrante, Entre tradição e inovação, Sempre bela e deslumbrante.