O Ministério da Educação autorizou a realização, nas escolas de todo o país, de momentos significativos no que respeita a “(…) uma preleção sobre a figura de S. João Bosco (…) “. Linhas convergentes Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 1945 – Tributo nacional Na sequência da celebração do cinquentenário da presença salesiana em Portugal, a que aludimos em escrito anterior, e satisfazendo o objetivo de enquadrar a vida dessa presença na estrutura da sociedade dos tempos coetâneos, damos nota da iniciativa que marcou o tempo letivo dos anos de 1944/1945. Em Portugal, subsistiam ainda ecos da enriquecedora visita do Pe. Pedro Berrutti, Prefeito Geral, e do Pe. Renato Ziggiotti, Diretor Geral dos Estudos da Sociedade Salesiana , (1 ) no início da década de quarenta. Dela nos dão testemunho o documento fotográfico com origem nas Oficinas de S. José de Lisboa, que auxilia este escrito, e a repercussão das palavras que o Pe. Berruti dirigiu, no Porto, “o Padre Berruti dirigiu sua paternal palavra a todos os presentes, manifestando também visível complacência pelo verdadeiro espírito de família que reinava nesse belo conjunto formado de salesianos, alunos, ex-alunos (…)”. (2) Esta deslocação a Portugal marcou profundamente todos os que com eles conviveram e refletiram, “Il 27 marzo si riunirono attorno ai visitatori tutti i direttori per trattare i problemi più vitaali per lo sviluppo dell’Opera Salesiana nel Portogallo”. (3) Ainda nos primeiros anos desta década, no ano de 1944, aquando da inauguração do Estádio Nacional, contrapondo à alegria sentida, existiu a tristeza pela perda de três alunos das Oficinas de José durante o trajeto para os ensaios do desfile que então teve lugar naquele novo projeto desportivo. O desastre de automóvel ocorrido no dia 3 de junho enlutou as Oficinas de José, no entanto “No dia 10 de Junho – festa nacional – 150 alunos das Oficinas tomaram parte na grandiosa parada de ginástica do Estado Nacional”. (4) No âmbito internacional, o ano de 1945 ficou fundamentalmente marcado pelo fim da Segunda Guerra Mundial. Em Portugal, no ano de 1944, o Ministério da Educação autorizou a realização, nas escolas de todo o país, de momentos significativos no que respeita a “(…) uma preleção sobre a figura de S. João Bosco (…) “. (5) A resposta a esta formulação foi, de acordo com a Dom Bosco , “(…) muito bem recebida nos meios docentes (…)”. (6) Estava em causa a tomada de consciencialização do trabalho desenvolvido pelos Salesianos e em especial o conhecimento sobre “(…) o grande reformador dos métodos pedagógicos e o criador do Ensino Profissional, técnico e agrícola”. (7) José Caeiro da Mata (8)era o Ministro da Educação. Este apelo, de acordo com os ecos coevos, foi de entusiástica aderência. Neste sinóptico exercício, procuramos apresentar os protagonistas dessa aderência por dispersão geográfica e, em especial, pela proximidade da Casa Mãe das Oficinas de S. José, de Lisboa. As sessões, nas diferentes escolas, realizaram-se nas seguintes localidades: Porto, Chaves, Viana do Castelo, Braga, Tomar, Coimbra, Covilhã, Figueira da Foz, Castelo Branco, Leiria, Marinha Grande, Guimarães, Póvoa do Varzim, Vila Real, Lamego, Aveiro, Águeda, Alcobaça, Santarém Portalegre, Extremoz, Setúbal, Évora, Portimão, Lagos, Faro, Funchal, Ponta Delgada, Angra do Heroísmo, Horta e Sá da Bandeira (Angola). As abordagens realizadas revelaram a figura de D. Bosco de extrema relevância, e o seu papel na sociedade e na educação, especificamente. As abordagens foram elaboradas, maioritariamente, pelos Professores de Educação Moral e Cívica, privilegiando os grandes encontros com todos os elementos que compunham o ambiente educativo de cada escola. Lista extensa que abrangeu numerosos liceus. Está incompleta, pois não focou Lisboa. Sobre ela abordaremos em particular aquelas que se encontravam mais perto das Oficinas de S. José. No liceu Passos Manuel a palestra realizou-se no dia 1 de fevereiro de 1945, às 15.15h, e foi conferencista o Professor de Educação Moral e Cívica, Pe. João Diogo Crespo. “Realizou uma prelecção sobre a figura de S. João Bosco cujo resumo foi publicado na revista Flama .” (9) Como curiosidade acrescente-se que, nesta cerimónia, foram entregues os prémios pecuniários aos alunos mais classificados nos exames de 1944. No liceu Pedro Nunes, no dia 7 de março desse ano de 1945, a orientação seguida dirigiu-se para os Professores e Estagiários daquela escola. A “(…) conferência pedagógica (…)” (10) foi realizada pelo Professor-Metodólogo, Gaspar José Machado. A Diretora do Instituto de Odivelas, Aida da Conceição, assumiu essa tarefa e conferenciou com as alunas. Igualmente no liceu de D. Filipa de Lencastre, a própria Diretora, Maria Margarida da Silva, assumiu essa empreitada, no dia 27 de janeiro, também no ano referido nestes parágrafos. Aludiu à publicação elaborada para a celebração “(…) do cinquentenário salesiano em Portugal: – Sonho e realidade ”, (11) aconselhando a sua leitura. No liceu de Maria Amália Vaz de Carvalho, no dia 30 de janeiro de 1945, a presidente da União Noelista Portuguesa, (12)Maria Terêsa Navarro, “(…) descreveu a obra das Oficinas de S. José e focou alguns aspectos da vida do fundador da ordem salesiana”. (13) A abordagem, na Escola Comercial de Ferreira Borges, consistiu na interpretação do tema através de exposições verbais de aspetos da vida de D. Bosco aos alunos e da apresentação de trabalhos realizados por estes últimos. A Professora Joaquina Matoso de Oliveira Flores, da Escola Industrial de Fonseca Benevides, realizou, no dia 5 de fevereiro do mesmo ano, uma palestra com o título S. João Bosco, Sua época, Vida e Obra . O tema foi apresentado de “(…) forma despretensiosa e atraente (…)” e “A oradora foi muito felicitada pelo belo trabalho que expôs”. (14) Na Escola Industrial António Arroio, os Professores de Educação Moral e Cívica asseguraram as intervenções sobre o tema proposto. Responderam a esta solicitação 48 escolas, sendo oito de Lisboa e 40 do restante país. Concretizaram desta forma as celebrações do cinquentenário da presença salesiana, salientando a importância das Oficinas de S. José de Lisboa, no particular e dos Salesianos no contexto da Educação em Portugal. (1) O Pe. Ziggiotti voltaria a visitar Portugal em 1953 e 1961, na qualidade de Reitor-Mor dos Salesianos. Nesta última data, recebeu a Grã-Cruz da Ordem da Benemerência. (2) Boletim Salesiano, Órgão dos Cooperadores Salesianos , Ano XXXVII-Num. 6, Junho, 1940. (3) Zerbino, Pietro, Don Pietro Berruti – Luminosa figura di Salesiano , Società Editrice Internazionale, Turim, janeiro, 1964. (4) Boletim Salesiano, Órgão dos Cooperadores Salesianos , Ano III – 2.ª Fase, Número 35 – III, Maio – Junho, 1944. (5) Dom Bosco, Órgão dos cooperadores salesianos em Portugal , Ano IV – 2.ª Fase, Número 39, Abril de 1945. (6) Ibidem. (7) Ibid. (8) Nasceu em 1877, em Arraiolos, e morreu em Lisboa, iniciava-se o ano de 1963. Foi jurista, professor e político de relevo no período denominado Estado Novo. (9) Dom Bosco, Órgão dos cooperadores salesianos em Portugal , Ano IV – 2.ª Fase, Número 40, Junho de 1945. Flama – jornal da Juventude Escolar Católica, fundado em 1937. (10) Ibidem. (11) Ibid. (12) “O Noelismo tem como linhas de orientação uma formação espiritual exigente, uma inserção no mundo através de uma vida familiar, profissional e social exercida ao serviço do bem de todos e uma constante preocupação com os problemas essenciais dos homens.” In Anuário Católico 2023. (13) Dom Bosco, Órgão dos cooperadores salesianos em Portugal , Ano IV – 2.ª Fase, Número 40, Junho de 1945. (14) Ibidem.