1948 – A Europa, Portugal e os Salesianos

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Frederico Pimenta Linhas convergentes ________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 1948 – A Europa, Portugal e os Salesianos Em 1945 terminou a 2º Guerra Mundial com todas as consequências herdadas deste inexplicável momento. Data igualmente de 24 de outubro de 1945 a fundação oficial das Nações Unidas. Portugal manteve a não intervenção no conflito conseguindo alguma prosperidade que não foi aproveitada para o desenvolvimento do país. Só no final da década de 40 se notou alguma melhoria na evolução, em especial no âmbito da agricultura e indústria. Politicamente, o país atravessou um período de instabilidade que culminou em 1945 com a criação do MUD (1) e, mais tarde, em 1949, a candidatura de Norton de Matos a presidente da república. (2) É, portanto, neste contexto, a que voltaremos oportunamente, que localizamos, neste momento, a ação dos salesianos no ano específico de 1948. “Embora perdurem ainda as consequências da época tristíssima que atravessámos, o decorrido ano de 1947 parece-nos, no entanto bem menos duro que os anteriores (…)”. (3) No ano de 1948, na D. Bosco – Revista da Acção e Cooperação Salesiana, desenvolveu-se um importantíssimo, embora sintético, relato das atividades e progresso das presenças salesianas em Portugal. Nesta dissecação, agora iniciada, abandonando momentaneamente outras, começo por Lisboa e as Oficinas de S. José . Datada de 24 de dezembro de 1947, foi dada à leitura uma missiva enviada pelo Provincial (Reitor Maior) Pe. Pedro Ricaldone sobre a sua mensagem para o ano de 1948 a que vulgarmente se designa de Estreia . O tema explanado nesse ano foi: “(…) pratiquemos a virtude da temperança no uso dos sentidos e nos cuidados do corpo.” (4) Também nesse ano se realizou e se dá notícia do XVI Capítulo Geral da Congregação Salesiana, realizado de 24 de agosto de 1947 a 11 de setembro do mesmo ano, em Turim, e da reeleição do Pe. Ricaldone. Por último, nesta abordagem inicial, destaque ufano para a canonização de S. José Cafasso. Neste noticiário do ano em destaque, observa-se que, nas Oficinas de S. José , o ano letivo iniciou-se a 8 de outubro de 1947 (primárias, cursos comercial e industrial). “O Tríduo foi pregado pelo Rev.mo Padre Amador dos Anjos Servo, Professor do Estudantado Filosófico-Teológico Salesiano do Estoril.” (5) Referência, ainda, para o Centro da Mocidade Portuguesa e a sua participação nas atividades no teatro da Trindade, as Festas de Santa Cecília, do 1º de dezembro, da Imaculada Conceição e do Natal com a presença dos alunos externos e a distribuição de prémios. De visita à escola esteve o Governador Militar de Lisboa. Classificado como o acontecimento mais importante do ano, pois perspetivava o futuro dos alunos no mundo do trabalho, surge o realce sobre a compra e inauguração, na festa de S. João Bosco desse ano, “ (…) duma máquina moderna de compor “Intertype” que permitirá aos nossos aprendizes (…) de entrar em qualquer oficina tipográfica.” (6) A máquina foi estreada na véspera de Natal e recebeu o nome de São Francisco de Sales . A nomeação deste Doutor da Igreja,(7) que em 1923 Pio XI proclamou patrono dos escritores, jornalistas e usuário habitual de folhetos e livros para divulgação das suas ideias, continua o pensamento de D. Bosco, que desde o início da sua ação teve “(…) o projeto de criar uma congregação para o serviço da sua obra, sugerido pelo ministro Rattazi e apoiado por Pio IX, se concretiza com a fundação da Pia Sociedade de São Francisco de Sales (18 de dezembro de 1859): é uma guinada que determinará o desenvolvimento futuro da Obra Salesiana.” (8) 1948 fica marcado, igualmente, pela saliência dada ao desaparecimento do cardeal Salotti, ocorrido a 24 de outubro de 1947, e à sua importância para a congregação salesiana. Somos elucidados, em relação às Oficinas de S. José , sobre o número de alunos e outros itens de referência: “Alunos internos – 175; alunos externos – 180; Alunos do Oratório Festivo (além dos das aulas) – 250; sopas diárias (num bimestre) 1.144.” (9) Marcado este ano ficou igualmente “(…) por uma sessão transmitida pelo Rádio Clube Português (…) tendo o nosso querido Conselheiro Rev.º Padre Armando Monteiro pronunciado uma brilhante alocução sobre «D. Bosco, gigante de espirito» (…)”(10) Encontramos a descrição (11) da festa de homenagem ao Padre Inspetor Hermenegildo Carrá pela sua presença na província portuguesa durante 14 anos e todo o trabalho desenvolvido: “número de casas subiu de 5 para 11 e o número de efectivos subiu de 71 para 208, (…)” (12) Surge ainda uma interessantíssima entrevista com o Pe. Eugénio Magni, diretor das Oficinas de S. José de Lisboa entre 1946 e 1950, feita pelo diário A Voz , de Lisboa: breve sequência dos inícios das Oficinas de S. José , o ideal salesiano, com os números da realidade de 1948, a que já aludimos e agora dilatamos: 175 alunos internos, 180 externos, 250 frequências do Oratório, os projetos de futuro com compra de terrenos juntos aos já existentes, elevação do número de alunos da obra para 400 alunos internos e 1000 externos, a importância dos Oratórios e a inauguração de novas máquinas para as oficinas. O jornalista, autor desta entrevista, impressionado, garante: “aos nossos ouvidos chegava o ruído esfusiante dos alunos que nos recreios expandiam largamente a sua alegria e loquacidade. Fomos vê-los. Saltavam, brincavam, corriam, berravam, jogavam – era uma Lisboa dentro doutra Lisboa.” (13) Anota-se, por último, neste instante, a notícia do falecimento do Pe. Luís Sutera que fora, além de outros cargos, diretor do colégio de S. Caetano de Braga, do Orfanato João Baptista Machado e das Oficinas de S. José do Porto. Morreu em 1948 no Brasil, onde se encontrava desde 1927. Neste ano de 1948, destacaram-se, além dos referidos anteriormente, a ordenação de quatro novos padres salesianos, a solenidade do Pentecostes a 16 de maio e, em simultâneo, a festa do Diretor; no dia 30 de maio, a festa de Nossa Senhora Auxiliadora; o encerramento das atividades da Mocidade Portuguesa; no dia 10, um passeio geral à Praia do Guincho e aos salesianos do Estoril; “No dia de S. Pedro, festejámos o Papa. À tarde foi administrado o S. Crisma a uns 100 alunos (…).(14) No decorrer do ano (15) realçou-se o falecimento do Pe. Cruz (16) e a sua importância no início da presença salesiana em Portugal. Destaque para dois ensejos escritos pelo falecido: o primeiro em dezembro de 1910, após a eclosão da república e ineludíveis consequências, e o segundo em 1945, no cinquentenário da obra salesiana em Portugal. A revista D. Bosco de 1948 termina com a publicação do Calendário Salesiano para o ano de 1949. Igualmente se anuncia: “A Nossa Revista – O D. Bosco passará a denominar-se, de ora em diante, por determinação superior, BOLETIM SALESIANO.” Descrição cronologicamente elencada, indiciadora de um futuro bem mais tranquilo do que as notícias que chegavam então da restante Europa sobre a situação pós-guerra e neste particular da Alemanha: “O espectáculo das nossas Casas no fim da guerra era verdadeiramente desolador. Metade delas destruídas, sequestradas ou gravemente prejudicadas.” (17) (1) Movimento de Unidade Democrática. Concorreu a diferentes atos eleitorais que sempre foram classificados de falazes. (2) Garcia, José Manuel, História de Portugal – uma visão global , pp. 244 a 245, Editorial Presença, Lisboa, 1981. (3) D. Bosco – Revista da Acção e Cooperação Salesiana , Janeiro – Fevereiro, 1948, Ano VII, Número 56, (4) Ibidem. (5) Ibid. (6) Ibid. (7) Francisco de Sales nasceu em 21 de agosto de 1567 e morreu em 28 de setembro de 1622, no território da atual França. É igualmente padroeiro dos confessores, dos surdos e dos educadores. (8) Fontes salesianas 1. Dom Bosco e sua obra: coletânea antológica / Instituto Histórico Salesiano. _ Brasília, DF : EDB, 2015. (9) D. Bosco – Revista das obras e missões salesianas (para os seus cooperadores) , Março – Abril, 1948, Ano VII, Número 57. (10) Ibidem. (11) D. Bosco – Revista das obras e missões salesianas (para os seus cooperadores), Maio – Junho, 1948, Ano VII, Número 58. (12) Anjos, Amador , Centenário da Obra Salesiana em Portugal 1894-1994, p.55, Lisboa, 1995. (13) D. Bosco – Revista das obras e missões salesianas (para os seus cooperadores), Maio – Junho, 1948, Ano VII, Número 58. (14) D. Bosco – Revista das obras e missões salesianas (para os seus cooperadores), Julho – Agosto, 1948, Ano VII, Número 59. (15) D. Bosco – Revista das obras e missões salesianas (para os seus cooperadores), Julho – Agosto, 1948, Ano VII, Número 60. (16) Já abordado em artigo anterior o seu papel na presença dos Salesianos em Portugal. (17) D. Bosco – Revista das obras e missões salesianas (para os seus cooperadores), Setembro – Outubro, 1948, Ano VII, Número 60.