| Vai ver ao dicionário |

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| Vai ver ao dicionário |Quando eu era pequenina, azucrinava a vida dos meus primos, pais e outros seres, com as minhas perguntas que terminavam sempre em “e porquê?”. Lembro-me que invariavelmente alguém se fartava e só me venciam pelo cansaço: porque sim!
 
Vejo que vivemos num tempo em que nós os educadores (pais, professores e outros espécimes) temos cada vez mais dificuldade em perceber o que responder às perguntas dos filhos. No bom sentido. Damos-lhes as respostas? Apertamos a trela ou largamos? Quando? Como?
 
O meu pai nunca me respondeu porque sim. Pelo menos que me lembre. Às vezes, dizia “vai ver ao dicionário” ou “pensa”.  
 
“Vai ver ao dicionário”, para mim, era uma resposta espectacular. O meu pai – que eu achava que sabia tudo sobre todos os temas (e continuo a achar) – confiava que eu era digna de ir descobrir o que ele próprio já sabia; o meu pai nunca me poupou o caminho, ajudou-me sempre a ser protagonista. 
 
“Vai ver ao dicionário” não era uma desresponsabilização, muito pelo contrário! Era a tónica da nossa relação: eu, que te quero todo o bem do mundo, deixo-te enfrentar os desafios que a vida te traz, indico-te o caminho, vou contigo para que possamos viver esta aventura juntos.
 
Eu sabia e sei que dentro de uma relação de amor, é possível saber tudo, descobrir tudo. E o meu pai ficava a olhar para mim, sorridente, enquanto eu folheava a enciclopédia, porque o dicionário já não era suficiente. E era aquele olhar do meu pai que me fazia crescer.
 
Obrigada papi.
Catarina Almeida

Fonte: http://fundacaomariaulrich.pt/2019/02/15/vai-ver-ao-dicionario/