Uma iniciativa da CONFAP e da LEYA pretendeu promover e distinguir, no ano letivo 2017-18, as escolas realmente amigas das crianças. Foram muitas as escolas distinguidas [cerca de 3 centenas] que puseram em marcha ideias “inéditas, originais, extraordinárias”. E o denominador comum dessa distinção foi a promoção e a realização de projetos de natureza extracurricular. Gostaria de elencar, de forma sumária, os atributos que devem epistemologicamente qualificar uma escola amiga das crianças.
Como tese geral, sustento que uma escola só é amiga das crianças se promover de forma intencional, sistemática e universal as máximas aprendizagens possíveis de cada um dos seus alunos, nos domínios da instrução (competências cognitivas, emocionais…), da socialização (integração e participação social) e da estimulação (capacidades e talentos).
Isto quer dizer muitas coisas e não podemos aqui rever todas as implicações desta tese. Mas, por exemplo, uma escola não é amiga se tiver níveis de reprovação e abandono elevados, se a qualidade das aprendizagens for deficitária, se tiver um clima escolar “agressivo”, se houver um número elevado de alunos que não gostam de a frequentar.
Nesta nota, destaco sete variáveis, a meu ver essenciais, de uma escola amiga das crianças. Assim, uma escola é amiga quando:
1.Escuta de forma sistemática as falas e os silêncios dos alunos. Porque a escuta é uma condição essencial de humanidade e de acolhimento. Escutar para compreender, para valorizar, para incluir. Que formas e estratégias adota a escola para escutar todos os seus alunos e levar a consideração o que eles dizem, sentem, ocultam?
2. Promove aprendizagens situadas e sensíveis. Porque a escola é a casa do conhecimento, (dos conhecimentos) tem de fazer deles o pilar essencial da sua atividade. As crianças têm de aprender para terem uma vida digna e decente. Aprender a conhecer, a fazer, a ser, a interagir. A escola não pode ser uma instituição particular de solidariedade social (IPSS) marcada pelo signo da hospitalidade. É importante, mas claramente insuficiente.
3. Inclui todos e cada um no conhecimento, na cidadania, na liberdade e na responsabilidade. Pois, como se enunciou, a escola é a casa do conhecimento (que se transmite, que se constrói de forma interativa, colaborativa…), a casa e a dinâmica da participação cidadã, da promoção ativa da liberdade e da responsabilidade.
4. Constrói laços que reforçam o sentido de comunidade. Porque a escola não pode deixar de ser um espaço e um tempo da convivência, do aprender a viver (e a crescer) juntos. Daí a centralidade de um clima escolar aberto, “amigo”, exigente, pacífico, estimulante. Que seja como uma casa. De humanidade.
5. Estimula a sede de aprender. Porque, mais importante do que as múltiplas aprendizagens que a escola deve promover e, se possível, garantir a todos e a cada um – ainda que de forma plural – deve gerar a vontade, a sede, a fome do conhecimento. Esta é a semente vital. Estimular a curiosidade, a procura, a descoberta das respostas para as perguntas que fazemos.
6. Descobre e promove talentos em todos os alunos. Porque a missão da escola não é apenas “dar a matéria”, “dar o programa”, “cumprir o currículo” prescrito e pré-definido. Cada pessoa, cada aluno é também uma fonte relevante das aprendizagens a desenvolver. As escolas e os professores têm a obrigação institucional e profissional de descobrir e valorizar os talentos de cada um.
7. Aprende, ela mesmo, com o que faz. Porque uma escola amiga das crianças sabe que sempre pode fazer mais e melhor. Tem a consciência da sua incompletude e inacabamento. E pode melhorar a gramática das aprendizagens, as estratégias de ensino, as práticas de avaliação pedagógica.
Há muitas formas da escola ser amiga das crianças. Tendencialmente de todas as crianças (e não apenas de algumas). Mas esta pluralidade de ser amigo não pode prescindir da promoção dos conhecimentos que nos elevam e humanizam e nos incluem como autores numa ordem social cidadã.
José Matias Alves