Cerimónia de entrega dos prémios de Valor e Excelência
Salesianos de Lisboa, 20 de outubro de 2018
Caros alunos premiados,
Estimados pais, Encarregados de Educação e outros familiares,
Apreciados educadores desta Escola Salesiana
Sejam todos muito bem-vindos a esta solene cerimónia de entrega dos prémios de valor e excelência, neste magnifico espaço engalanado para o efeito.
Gostaria de começar citando a Sagrada Escritura. Ela é sempre Palavra de Deus para o aqui e agora da nossa existência, e por isso fonte de inspiração para o momento que vivemos hoje.
Diz o evangelista São Lucas que um dia, quando os setenta e dois discípulos regressavam de novo para junto de Jesus e lhe contavam tudo o que tinham realizado de maravilhoso em Seu nome, este alegrou-se com eles, mas não só: ajudou-os a perceber, numa constelação mais ampla, o sentido daquilo que eles terminavam de viver. Disse-lhes expressamente: “não vos alegreis tanto porque os espíritos vos obedeceram; alegrai-vos sobretudo porque os vossos nomes estão escritos no Céu”. (Lc 10, 20)
Reunimo-nos hoje aqui para reconhecer o trabalho, a dedicação e o empenho incansáveis de muitos dos alunos da nossa escola. Reconhecemo-lo, felicitamo-los e alegramo-nos com eles, por tudo o que de maravilhoso realizaram, por tudo o que este prémio representa de consagração e responsabilidade. Parabéns a todos! A Comunidade Educativa dos Salesianos de Lisboa partilha da vossa alegria e felicita-vos pelo vosso mérito e resultados alcançados.
Como Jesus fez com os seus discípulos, também eu gostaria de alargar os horizontes da vossa alegria para que esta não fique circunscrita ao que de tão sublime realizastes, mas sobretudo àquilo que ela significa de beleza e construção de humanidade. Ouso, por isso, convidar-vos à alegria não só pelos resultados alcançados, mas sobretudo pelo que eles presenteiam de realização à vossa vida, à vida de quantos partilham convosco o existir, diria mesmo, pelo que oferecem de bondade a toda a humanidade. Com o vosso trabalho e dedicação escrevestes os vossos nomes não só nestes trofeus, não só na vossa vida, mas também na vida de tantos homens e mulheres, do hoje e do amanhã, porque a vossa dedicação e empenho de hoje projetam-se num horizonte de futuro e de construção de uma nova humanidade que vai para além do vosso pequeno existir atual. Sois cidadãos do mundo, e o amanhã começa já hoje a lançar os primeiros raios de luz e esperança.
Vivemos um período histórico que muitos denominam de transição epocal, que tem base nas determinações provocadas pela modernidade e o iluminismo. O iluminismo provocou uma autêntica revolução na forma do homem se compreender a si mesmo e à realidade circundante. Este passa a ser o protagonista da sua própria definição e da realidade que o rodeia. Um homem marcado pela liberdade e pela capacidade da autodeterminação. Uma forma de ver o universo codificada pelos resultados oriundos das ciências positivas, dotando-o de leis e dinamismos de funcionamento autónomo, onde a técnica surge como elemento determinante desta nova configuração.
E no meio de toda esta realidade estamos nós, está a inteira humanidade, está cada homem com os seus dons e capacidades para tornar tudo isto numa realidade nova, sonhada desde sempre por Deus, marcada pelos valores da fraternidade, da justiça e da caridade.
Caríssimos jovens! Com os vossos dons e capacidades, com a vossa dedicação e empenho que hoje de forma explícita reconhecemos, estais a assumir o vosso papel de protagonistas nesta nova realidade social e cristã.
Uma sociedade plural como aquela que habitamos, tem necessidade de mestres e guias, mas sobretudo requer testemunhas, como ensinava o Papa Paulo VI (cfr. EN, 41), recentemente canonizado pelo Papa Francisco. O mundo de hoje e amanhã precisa de vós, estimados jovens homenageados, precisa dos vossos conhecimentos, do vosso saber, mas sobretudo necessita do vosso viver exemplar, da vossa integridade, do vosso compromisso. São João Bosco, cuja pedagogia nos inspira, repetia com insistência que aquilo que sonhava para os seus jovens era que fossem bons cristãos e honestos cidadãos, felizes por participar ativamente na história da salvação.
Os novos céus e a nova terra, a civilização da bondade e do amor, a realidade de uma família melhor, de uma sociedade melhor, de um país melhor, de um mundo melhor, de um cristianismo mais autêntico, depende em parte de cada um de vós, depende desta vossa capacidade de colocar ao serviço de todos os dons e aptidões que Deus vos concedeu.
Um caminho que se faz caminhando, com passos firmes e progressivos, mas sobretudo um caminho que se faz acompanhado. Permiti que ao reconhecer justamente o vosso mérito nestes prémios, possamos aludir igualmente ao mérito de quantos colaboraram convosco de formas tão diversas e em tantos momentos. Pais e irmãos, educadores e amigos, palavras e silêncios, presenças e ausências, insistências e criação de espaço, tempos físicos e psicológicos, alegrias e dores…. É de justiça reconhecê-lo e agradecer. “Somos como anões aos ombros de gigantes”. Sem eles não teríeis conseguido alcançar a visão que hoje vos é permitido vislumbrar.
Por outro lado, é de grandeza de alma, corresponder a tanta entrega e devoção. Como todos os dons, também os prémios que hoje recebeis são um compromisso. Compromisso de continuar a caminhar rumo à realização. Compromisso de usar os dons recebidos para o bem. Compromisso de construir maravilhas, sonhar novos caminhos, ser luz, ser mensagem de esperança, ser construção de infinito.
Comecei por vos citar a Sagrada Escritura, tentei com breves pinceladas descrever o vosso lugar no mundo em que vivemos. Permiti agora que termine citando um pensador cristão da atualidade que nos fala do essencial, do coração.
Na sua obra A Mística do instante (Paulinas, 2014), José Tolentino Mendonça, recentemente consagrado arcebispo e nomeado arquivista do Arquivo Secreto do Vaticano e Bibliotecário da Biblioteca Apostólica Vaticana, escreve o seguinte:
O místico é aquele que descobre que não pode deixar de caminhar. Seguro daquilo que lhe falta, percebe que cada lugar por onde passa é ainda provisório e que a demanda continua. Não pode ser só isto. E essa espécie de excesso que é o seu desejo, fá-lo exceder, atravessar e perder os lugares (pág. 42)
Todos levamos em nós esta realidade de ser místicos, do desejo de caminhar sempre e cada vez mais, de alcançar novos horizontes. Somos por natureza buscadores de infinito. E desta forma tornamo-nos cada vez mais imagem de Deus. Santo Irineu nos primeiros tempos da Igreja, dizia que a “a glória de Deus é o homem vivente”, isto é, o homem capaz de viver e desenvolver em plenitude todas as suas capacidades. Pois muito bem, que também Deus hoje possa exultar de alegria pela vossa vida e felicidade, pelo vosso compromisso em ser protagonistas e construtores de uma nova humanidade, por ousardes sonhar um mundo melhor.
Parabéns a todos! Parabéns pelo vosso mérito e dedicação! Parabéns por aquilo que sois e que significais! Parabéns pela bondade que dais a este mundo e pelo que continuareis a realizar de bom e de belo em favor de todos!
Parabéns e que Deus a todos abençoe, hoje e sempre.
Pe. João Chaves | Diretor – Salesianos de Lisboa