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O Direito À Ternura
É um direito quase clandestino. Não
consta dos tratados e catálogos internacionais.
Fugazmente aparece nos
tratados pedagógicos ou nos projetos educativos.
Sobrevive nalguns olhares, gestos, palavras. Nas margens.
Vivemos num mundo que é um campo
de batalha em que só há lugar para os
vencedores. (Quem escreverá a história
dos vencidos?) Existimos, muito
mais para fazer o outro perder, do que
para ganharmos. O jogo de soma positiva
em que todos podemos e devemos
ganhar parece arredado das nossas
preocupações essenciais. Sofremos
o síndrome do analfabetismo afetivo.
Vivemos a dualidade dificilmente conjugável
da cognição e do afeto. No
espaço público só há direito para o
triunfo da razão. A ternura que acaricia,
que liberta, que protege, que acalenta
só raramente ocupa o palco das
nossas relações sociais.
E na relação pedagógica, na sala de
aula, teremos de criar pequenas ilhas
de ternura, Pequenos momentos de
ternura e afeto. De compreensão. De
compaixão. De humanidade. Porque há
um terrível défice sentimental. E é (também)
por isso que a solidão cresce.
Que a revolta lateja. Que um terço das
jovens já tomou a pílula do dia seguinte.
Bem sei que nenhuma reforma passa
por aqui. Só uma consciência acesa
de ser profissional. Dedicado. Atento.
Disponível. Felizmente como muitos daquelas
professoras e professores que
vêm passando por aqui.

JMA