O que nos dizem os livros…

> Seara > O que nos dizem os livros…

Leonor Melo

O livro O homem mais feliz do mundo da autoria de Eddie Jaku, foi publicado pela primeira vez em janeiro de 2021 pela Editora Objectiva, e versa sobre o testemunho de vida do próprio autor, que relata a sobrevivência como judeu alemão na Segunda Guerra Mundial.

Neste contexto, justifica-se uma breve nota biográfica do autor: este nasceu a 4/04/1920 na Alemanha com o nome de Abraham Jakubowicz, tendo mais tarde alterado para Eddie Jaku, e faleceu em outubro de 2021 após uma longa vida de mais de 100 anos, concretamente 101 anos.

Como já referido, Eddie era um judeu alemão. No entanto, a sua família considerava-se, acima de tudo, alemã colocando a identidade judaica em segundo plano. Na verdade, tinha uma vida normal, como qualquer outro alemão. Contudo, naquela que ficou conhecida como a Noite de Cristal, a 9/11/1938, tudo mudou. Foi nesse dia que, ao regressar do colégio interno, se deparou com a sua casa vazia sendo, de seguida, agredido e levado por soldados nazis para um campo de concentração. Posteriormente, conseguiu fugir com o pai para a Bélgica, mas voltou a ser capturado. Após outra fuga e outra captura, Eddie e a sua família são enviados para o campo de concentração de Auschwitz, onde perde os pais e é exposto a condições desumanas. Porém, em 1945, consegue libertar-se e, em 1950, ruma com a sua mulher para a Austrália onde passam o resto da vida.

É após sobreviver a tais horrores e perder os seus familiares e amigos que Eddie faz a promessa de todos os dias ser o homem mais feliz do mundo. Para além disso, é devido a esse compromisso que o autor escreveu este livro testemunhando os obstáculos que atravessou e explicitando como é que a felicidade pode ser encontrada em qualquer lugar.

Na verdade, o aspeto que mais sobressai nesta obra é a forma magistral como o autor consegue captar a atenção e o interesse do leitor. Efetivamente, a organização temporal deste livro é marcada pela alternância entre momentos durante a guerra e outros pós-guerra com o intuito de representar as consequências diretas de certas ações levadas a cabo pelos soldados nazis. Neste âmbito, um exemplo deste aspeto é quando Eddie relata o efeito que o café, disponibilizado em Auschwitz, teve no futuro de um amigo seu levando-o a ficar incapacitado de ter filhos devido ao químico que era posto, intencionalmente, nesta bebida.

Para além disso, um outro aspeto digno de ser realçado é a simplicidade do vocabulário utilizado, marcado pelo predomínio de nomes e verbos e por uma menor frequência de adjetivos e advérbios, motivado pelo pendor narrativo desta obra. Na verdade, este género de vocabulário permite destacar o estilo de vida simples e modesto que o autor tinha, aspeto este patente ao longo de toda a obra.

Acresce que este livro apresenta alguns recursos expressivos, nomeadamente a comparação, a enumeração e o eufemismo, que o enriquecem bastante. Desta maneira, estes são utilizados principalmente para garantir que o leitor consegue visualizar os acontecimentos relatados e, também, para suavizar determinadas situações sensíveis como a morte dos pais do autor.

Relativamente à estrutura da obra, esta encontra-se dividida em 15 capítulos que começam invariavelmente com uma frase introdutória sintetizando o assunto que será abordado e que apresenta uma manifesta intenção reflexiva.

Concluindo, a obra O homem mais feliz do mundo de Eddie Jaku relata, ao longo de 15 capítulos, a história de vida do próprio autor durante a Segunda Guerra Mundial, sendo de destacar da obra em apreço a simplicidade do vocabulário, a sua organização temporal e os recursos expressivos utilizados.

Leonor Melo, 12.º T1