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Saudáveis Diferenças“Todos temos limitações. Deixarmo-nos definir por alguma em particular é a pior limitação que podemos ter” (Miguéns, 2008: 41). Habita em nós, educadores, um enorme respeito por tudo o que é humano e pelas vidas que se vão cruzando connosco, vidas essas mais ou menos frágeis como as realidades onde habitam ou por onde passam. Essas vidas, quando temos a sabedoria e a capacidade de as saber ver por dentro, deixam-nos sempre marcas e sinais que nos ajudam a compreender melhor outras vidas e, por vezes, a nossa própria vida. Sabemos, porém, que as realidades e as histórias que convivem com essas vidas têm muitos lados. Habituámo-nos a olhar para todos os lados ao mesmo tempo, com a consciência de que apenas conseguimos ver um ou alguns, que podem não ser necessariamente os mais significativos. Como educadores, temos diariamente de fazer o esforço para acordarmos esta realidade e para esta realidade.

Na escola, cada criança ou jovem corre sérios riscos de entrar num “campo de treino” (Postman, 2002: 47) que o pode levar para demasiado longe de si mesmo. Por outro lado, importa ainda ter consciência de que cada ser humano é um “produto inacabado”, uma pedra que, conforme vai sendo trabalhada pelo escultor, revela aos poucos o rosto que ele soube ou quis revelar. Um dos muitos possíveis rostos que aquela pedra poderia gerar, dependendo apenas das mãos e da sensibilidade do escultor. É este potencial que existe em cada ser humano e que cabe ao educador saber aproveitá-lo. “O homem que se reconhece incompleto acaba por descobrir que o seu inacabamento sendo, por um lado, uma lacuna, constitui, por outro lado, uma grande virtualidade, pelo mundo de possíveis que oferece e abre.” (Cunha, 2005: 18).

Nesta linha de pensamento, recordamos a importância de se ajustar o currículo aos contextos sociais e culturais onde cada escola está inserida; Dar lugar à verdadeira autonomia pedagógica das escolas. Recriar o currículo e o programa em função dos alunos; a importância de os professores centrarem a lecionação mais nas atividades do que nos conteúdos, relacionando estes últimos com os contextos de vida dos alunos; tornar evidente, sempre que possível e oportuno, a “empregabilidade social e pessoal dos conhecimentos”; incorporar as inteligências múltiplas no desenvolvimento do currículo e relevar a importância das aprendizagens emocionais, relacionais, cognitivas, para a vida. Simplesmente, ligar o ensino à vida.

José Morais | Diretor Pedagógico