| Ensino, aprendizagem e maternagem |

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Imaginemos – ou relembremos – três práticas da educação.

A primeira prática é o ensino. Um saber (anterior) é transmitido pelo discurso oral ou escrito, rolado no fluxo dos enunciados (livros, manuais, cursos).

A segunda prática é a aprendizagem. O «mestre» (nenhuma conotação de autoridade: a referência seria antes oriental), o mestre, pois, trabalha para si mesmo diante do aprendiz; não fala, ou pelo menos não debita um discurso; o seu dizer é puramente deítico: «aqui, diz ele, faço isto  para evitar aquilo…». Transmite-se uma competência em silêncio, monta-se um espetáculo (o de um fazer) no qual o aprendiz, entrando na ribalta, se introduz pouco a pouco.

A terceira prática é a maternagem. Quando a criança aprende a andar, a mãe não discorre nem demonstra; ela não ensina a marcha, não a representa (não se põe a andar diante da criança): apoia, encoraja, chama (recua e chama): incita e protege: a criança pede a mãe e a mãe deseja a marcha da criança.

No seminário (é a sua definição) todo o ensino é rejeitado: nenhum saber é transmitido (mas pode ser criado um saber), nenhum discurso é  mantido  (mas há um texto que se busca): o ensino é dececionado. Ou alguém trabalha, investiga, produz,  reúne, escreve diante dos outros; ou todos se incitam, se chamam, põem em circulação o objeto a produzir, as atitudes a compor, que passam assim de mão em mão, suspensas pelo fio do desejo, como o anel no jogo do furão.

Seabra. J.A. (org) (1979). Barthes – Discurso – Escrita – Texto. Braga: Livraria Editora PAX (pp. 69-78)