Chegados praticamente ao fim de mais um ano lectivo, que, pelo que vejo, alunos e professores aguardavam com indisfarçável impaciência, e em que as avaliações escolares já foram publicadas, ocorrem-me algumas questões. Li, há dias, um psicólogo espanhol que dizia que quando as crianças se queixam de injustiça costumam ter razão. E, digo eu, as crianças e também os adolescentes. Comparam o trabalho feito, a participação, a assiduidade e depois, muitos deles, dizem que o colega X e Y tiveram notas mais favorecidas. Os seus argumentos têm-me parecido objectivos, porque se baseiam em factos. Mas nem é essa provável injustiça de avaliação que me suscita reflexão. Sim, o mérito dos bons alunos, dos que conseguem resultados a nível académico, deveria ser reconhecido, o que significa que deveria ser público. Dou de barato que não se chame Quadro de Honra a esse documento. Sei que muita gente não concorda comigo quando digo isto. Mas então, esse aparente igualitarismo, ao dar o mesmo valor ao mérito e ao demérito será justo e motivador? Mas há outros aspectos importantes da actuação dos nossos alunos que deveriam ser realçados em Diplomas de Valor, por exemplo.
Todos os dias se ouvem e lêem professores a queixar-se da indisciplina na sala de aula, na falta de pontualidade, na assiduidade reduzida ao máximo, da falta de educação, do egoísmo, etc., etc. Mas tenho a certeza de que estes professores têm também alunos cujo comportamento é um bálsamo no meio da confusão. Estou a pensar naqueles que se sentam nas cadeiras da frente, que quase nos querem absorver quando estamos a falar com eles, que se viram para trás com ar reprovador perante o barulho. Estou a lembrar-me dos alunos que nunca faltam ou que quando faltam nos procuram para dar uma explicação e perguntar se há algum aspecto importante a colmatar. Estou a recordar aqueles que se oferecem para estudar com colegas, que lhes tiram as dúvidas (e eles podem ser muito melhores nisso do que nós, para quem tudo é tão óbvio que nem percebemos onde está a dificuldade…). Tenho saudades dos que se lembram do aniversário dos colegas. Ainda me comovo com os que se preocupam com os problemas de quem tem o pai desempregado. Ou que vêm falar connosco para nos dar conta de dificuldades de outros que nem pressentimos. Os que colaboram em todas as campanhas de solidariedade. Os que se oferecem para organizar eventos escolares. Os que estão sempre disponíveis para ajudar.
Tenho a certeza de que todos temos alunos destes em cada turma. Até pode ser só um. Pois que seja! Não terá ele o direito inalienável a ver reconhecidas as suas qualidades no meio de tantos cujo esforço está voltado para tudo menos para receber o que a Escola lhe quer dar?
Entre os chamados alunos academicamente brilhantes e estes que se distinguem por qualidades humanas, há ainda os alunos que merecem ver o seu nome no Diploma de Aplicação. São os esforçados, os que não desistem, os que cumprem metas, os que querem mesmo aprender, apesar das suas dificuldades pessoais, apesar do barulho e da indisciplina dos colegas, apesar de a turma ser tão grande que eles sabem que, de facto, o professor não tem muito mais tempo para eles. Mas que, mesmo assim teimam, persistem, pedem ajuda e avançam.
Um facto: estes alunos têm, geralmente, direito a estar nos Diplomas de Valor… Sei-o por experiência.
Boas férias para a maior parte, muito sucesso para quem anda em exames, e mais respeito pelos professores, que ainda estão a trabalhar e que precisam também de muita paciência.
P.S. Tenho uma irresistível vontade de fazer esta pergunta: no último parágrafo, a oração começada por “que ainda estão a trabalhar”, é relativa restritiva ou relativa explicativa?
É cá por coisas… como se diz em registo informal.
Maria do Carmo Cruz