Frederico Pimenta
Com o título de “O ensino profissional nas escolas salesianas demonstrado através duma importante exposição”, o Boletim Salesiano de agosto/setembro, Ano XIII, N.º 94 – 95, de 1954, deu notícia deste certame que engrandeceu a cidade de Lisboa, realizado no Palácio Foz, bem no centro do Largo dos Restauradores. Estávamos, então, no ano de 1954. Paralelamente, no Vaticano, foi proclamada a Canonização de Domingos Sávio, concretamente a 13 de junho desse ano.
Linhas convergentes
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
A antevisão deste acontecimento fora dada no Boletim Salesiano de maio/junho/julho de 1953, alocada na importante e extensa notícia do 1.º Centenário das Escolas Profissionais Salesianas, celebrado em Lisboa. Nela pode-se ler: “Como complemento das Comemorações do Primeiro Centenário das Escolas Profissionais Salesianas, realizar-se-á em Novembro próximo em Lisboa uma exposição profissional, que será mais uma afirmação prática do valor e do desenvolvimento das Escolas de D. Bosco em favor do jovem operário”. (1)
Em 1954, no complemento do centenário da fundação das Escolas Profissionais alicerçadas por D. Bosco, realizou-se, então em Lisboa, a 1.ª Exposição comemorativa desse centenário. Hoje, em 2024, recordamos uma vez mais esta efeméride, nos 170 anos da sua concretização e nos 70 anos do acontecimento impulsor deste artigo, recordando a data de 1954.
A exposição esteve patente numa grande sala do Secretariado Nacional de Informação, Cultura Popular e Turismo (SNI), de 1 a 24 de julho desse ano. O SNI, criado no ano de 1933, sofreu alteração de denominação ao longo dos anos, mas desempenhou sempre marcante papel até ao derrube do Estado Novo.
O Boletim Salesiano levou até aos seus leitores as repercussões desta iniciativa, transcrevendo o parecer da imprensa da época, neste caso usando o articulista de A Voz do dia 2 de julho de 1954.
O articulado jornalístico refere então:
Sente-se e vive-se ali a grandiosa obra empreendida por S. João Bosco. (…) Uma exposição que fala. (…) O nome de D. Bosco não é desconhecido para nenhum educador. (…) S. João Bosco viu o problema social como ninguém (…). Os artificies salesianos são dos melhores que se formam em escolas profissionais. (…) Quatro profissões estão representadas na exposição, (…) artes gráficas, alfaiataria, marcenaria e entalhador. (…) Esta Exposição Salesiana era necessária para que Lisboa pudesse melhor conhecer o que é a Escola Profissional Salesiana que possui nas Oficinas de S. José (…). (2)
Uma vez mais, verificamos a ligação da Obra Salesiana ao ambiente político da época, estabelecendo-se pronunciações entre um e outro, sem esquecer o mais importante que era e, ainda do jornal A Voz, citando D. Bosco: “O fim das nossas Escolas Profissionais e Agrícolas é fazer com que os alunos, enquanto aprendem uma profissão com que ganhem honradamente a sua vida, sejam instruídos na Religião e adquirem os conhecimentos científicos e culturais próprios do seu estado”. (3)
A notícia reproduzida no Boletim Salesiano (4) encontra-se estruturada em dois títulos: ”A obra dos salesianos” e “À inauguração da exposição assistiram membros do Governo e do Corpo Diplomático”. Destacam-se as presenças do Núncio Apostólico, dos Ministros da Presidência, do Interior, da Educação Nacional e das Corporações, do Subsecretário de Estado da Assistência, além de Embaixadores, Adidos Culturais, do Presidente da Câmara de Lisboa e outras individualidades. O Pe. Armando Monteiro, Diretor das Oficinas de José, no início das comemorações, aclamou: “Uma palavra de saudação ao Ex.mo Governo de Salazar, aqui tão altamente representado (…) e “Uma palavra de saudação ao venerando Núncio Apostólico (…)”. (5) Nas suas palavras contextualizou o carisma de D. Bosco e o papel fundamental na estrutura da sociedade: “(…) apresenta o trabalho como instrumento indispensável para o valor do homem e para a virtude do cristão”. (6)
Os títulos da imprensa coeva deste acontecimento que se encontram representados no Arquivo Histórico Pe. Amador Anjos são os seguintes: Diário de Lisboa, Diário Popular, Novidades, A Voz, Diário de Notícias, O Século, Diário da Manhã e O Primeiro de Janeiro.
O Arquivo Histórico Pe. Amador Anjos detém ainda importantíssimos documentos fotográficos deste acontecimento, destacando-se as personalidades nele presentes e os diferentes ambientes expositivos. Destaque para a edição do selo comemorativo do Centenário das Escolas Profissionais Salesianas e para a 1.ª Exposição Nacional, e respectivo cartaz alusivo, apenso a este artigo, do qual se imprimiram cinco mil exemplares.
Nos números estatísticos alavancados nesta descrição apresentada pelo jornal A Voz, (8) soubemos da existência de 17500 salesianos no mundo, 1173 colégios e 272 escolas profissionais a nível igualmente mundial; em Portugal, neste ano de 1954, existiam 23 casas salesianas, 13 escolas profissionais a nível continental, insular e ultramarino, num total de 6400 alunos.
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- Boletim Salesiano, Ano XII, Maio/Junho/Julho, n.º 86, 1953.
- Boletim Salesiano, Ano XIII, Agosto/Setembro, n.º 94/95, 1954.
- Ibidem.
- Ibid.
- Ibid.
- Ibid.
- Ibid.