Presença salesiana em ambiente castrense no triénio 1967/1968/1969

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Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

Presença salesiana em ambiente castrense no triénio 1967/1968/1969

Procuramos, nestas linhas, relançar olhares sobre uma outra realidade, mantendo o espectro cronológico apontado em artigos anteriores que ilustram a presença salesiana em outros ambientes seculares, demonstrativos do contributo social que têm desenvolvido ao longo dos anos. Portugal vivia, no triénio indicado no título, momentos trágicos da denominada Guerra Colonial, que se desenvolvia, sobretudo em África. Situemo-nos, então, nos anos de 1967, 1968 e 1969, não esquecendo os nomes de tantos outros salesianos que serviram, até à atualidade, nas Forças Armadas.  Neste artigo mantemos a fonte de informação na coletânea do Boletim Salesiano correspondente.

No ano de 1967, no Boletim Salesiano, deu-se notícia dos padres salesianos que desempenhavam funções de capelães, nos territórios então denominados ultramarinos e que se encontravam desde 1961 em guerra pela sua independência perante Portugal. Nele, desenvolveu-se o elenco das atividades realizadas por estes homens que o fizeram em diferentes cenários, incluindo os instantes mais difíceis da luta armada. Neste contexto, surge a figura do Padre Nazário Domingos, Capitão, e o reconhecimento das suas qualidades “(…) em que foi louvado pelos comandos militares”. (1)

O Boletim Salesiano de novembro (2) prosseguiu com a notícia da condecoração do Padre Nazário Domingos pelo trabalho realizado, “(…) num esforço contínuo de recuperação social, restituindo confiança e serenidade às populações”. Na altura desta premiação, o Padre Nazário desempenhava a sua atividade na denominada Costa do Sol, em Portugal.  Igualmente elencados surgem outros nomes assim descritos e arrumados pela geografia, como segue: na Guiné, o Tenente Capelão Padre Serafim Gama, e em Angola, o Tenente Capelão Padre Júlio dos Santos Rosa. Deste último, e mantendo a fonte histórica, apresentou-se um conjunto de vivências nesses lugares africanos. O Boletim Salesiano intitulou quatro dessas experiências, como segue: “Ao serviço de Deus e da Pátria”, “Dificuldades e a protecção do Céu”, “Horas de recreio” e “A mina esperou o momento para explodir”. Destas partições escritas observou-se o estado de espírito das tropas destacadas em zonas de conflito e a descrição de alguns desses momentos mais difíceis, os jogos e instantes de lazer, o teatro, conjuntos musicais equipados com instrumentos executados com os materiais e objetos existentes, as canções e a alegria que, apesar da situação vivida, nunca deixou de existir, tendo subjacente o espírito salesiano.

Utilizando o mesmo esquema, o Boletim Salesiano de Janeiro de 1968 continuou a redação das vivências do Tenente Capelão citado sob o título geral já usado no Boletim Salesiano de novembro do ano anterior: “O Tenente Capelão Padre Júlio dos Santos Rosa testemunha quanto Nossa Senhora protegeu os seus homens”. Aqui, nesta publicação, (3) os subtítulos surgem assim elencados: “Rezamos o terço às 8 horas da tarde”, “À espera do Correio”, O primeiro ataque”, “A bala inofensiva” e “Faríamos figura com instrumentos de música”. Os temas abordados nesta sequência debruçam-se sobre a família e a dor do afastamento, as notícias que chegam de avião, os momentos de luta armada e outros de lazer.

Em maio de 1968, este tema é retomado no Boletim Salesiano sob o título “A protecção de Nossa Senhora em terras do ultramar”. Premente observação que nos dá conta de que “Em todas as funções religiosas os soldados e oficiais tomam parte activa nos papéis que lhe estão reservados pela nova liturgia do Vaticano II”. (4) Alude-se ao Natal: “Passámos um Natal muito alegre, graças a Deus”, (5) salientando-se a inexistência de imagens para a composição do presépio, sendo tal arduidade rapidamente resolvida, pois “Fomos à ribeira próxima, arrancámos um pouco de barro, amassámo-lo, e fizemos imagens (…)”. (6) Termina a crónica com uma referência ao dia 30 de outubro de 1966, aquando da Festa do Cristo Rei, e com um episódio marcante das duras condições da vida experimentada naquelas geografias e a ligação à fé daqueles homens. A continuação destas recordações do Padre Rosa alonga-se pelo Boletim Salesiano de agosto/setembro de 1968, onde, sob o título geral, se encontra os subtítulos “Oração e alegria” e “A bala furou o capacete e seguiu sem causar prejuízo”. Novamente se transmitiu a alegria, agora da Páscoa, vivida em situações mais complexas e, sinal salesiano por excelência, alude-se à música: “Até instrumentos de música, por muito pobres que sejam; basta que façam barulho! O soldado precisa de se recrear”. (7)

Anatomizando o ano de 1969, igualmente sobre o ambiente castrense e como consequência das informações anteriores, destacou-se no Boletim Salesiano respetivo o reconhecimento feito ao Padre Rosa por parte dos Comandos Militares “pela competência e dedicação como sempre desempenhou as suas funções de capelão”. (8) Sabemos, pela consulta da mesma fonte, da existência de cinco capelães salesianos neste triénio: os Padres Capitão Domingos Nazário, Tenente Serafim Alves da Gama, Tenente Júlio Rosa, Alferes Aníbal Afonso e Alferes Alfredo Silva.

O elenco anterior foi atualizado no Boletim Salesiano correspondente ao “Número Comemorativo do 75.º aniversário da chegada dos primeiros Salesianos a Portugal”. Com essa explanação, terminou, neste triénio, a apresentação do trabalho realizado nas presenças salesianas nos territórios africanos. Hoje, 55 anos após essa publicação, retomamos o destaque do nome daqueles que militaram noutros ambientes e neles deixaram fluir o carisma salesiano. “O capelão militar está com os militares e para os militares (…) São actualmente capelães militares os seguintes sacerdotes: P.e Nazário Domingos de Carvalho; P.e Aníbal David Afonso; P.e Serafim Monteiro Alves da Gama; P.e Alfredo Augusto da Silva; P.e Júlio Macedo; P.e Delfim Santos e P.e Antero Ferreira”. (9) Nomes que testemunham um tempo e um lugar onde “Também os Salesianos marcaram a sua presença entre a juventude que na Guiné, em Angola, e Moçambique cumprem os seus deveres cívicos”. (10)

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(1)            Boletim Salesiano, Ano XXV, Agosto/Setembro, N.º232, 1967.
(2)            Boletim Salesiano, Ano XXIV, Novembro, N.º 234, 1967.
(3)            Boletim Salesiano, Ano XXIV, Janeiro, N.º 235-236, 1967.
(4)            Boletim Salesiano, Ano XXV, Maio, N.º 239, 1968.
(5)            Ibidem.
(6)            Ibid.
(7)            Boletim Salesiano, Ano XXV, Agosto/Setembro, N.º 242, 1968.
(8)            Boletim Salesiano, Ano XXVI, Fevereiro, N.º 246, 1969.
(9)            Boletim Salesiano, Ano XXVI, Novembro/Dezembro, N.º 254, 1969.
(10)         Ibidem.