> Seara > Tesouro

seara-18-tesouroCaros pais,

envio em anexo o livro “O tesouro” relativo ao 25 de abril, caso tenham um bocadinho para ler em família […]
Desejo um bom fim de semana.
Beijinho

Professora [J]

Querida [Professora J],

Pus um filho de cada lado e li-lhes esta história. A dada altura tive de pedir ao Duarte que o acabasse de ler porque eu tinha a voz embargada e as lágrimas já desciam.

Mostrei-lhes a fotografia do avô Nuno na rua e contei que a bisavó Biá e a avó Madalena tinham sido presas, a avó com o tio Mário na barriga. E que o bisavô Agostinho tinha ajudado a fazer a revolução às escondidas.

— E tu já existias, mãe?

Não. Só 4 anos depois.

— Ah, tiveste sorte!

Eu gostava de cá ter estado. Mas mesmo tendo nascido em liberdade, comovo-me com a falta dela. A nossa passada, a nossa presente, a de tantos países no mundo. Esta flor frágil, este tesouro sempre em risco. Por isso lhes toquei nos peitos e os apertei com muita força, olhando fixamente nos olhos do Duarte ao ler as últimas palavras do livro:

“Esse país agora já não se chama País das Pessoas Tristes, chama-se Portugal e é o teu [o vosso] país. E o tesouro pertence-te a ti, és tu que agora tens de cuidar dele, guardando-o muito bem no fundo do teu coração para que ninguém to roube outra vez.”

Obrigada pela partilha. Obrigada por ser a excelente professora que é e, já consegui perceber, a excelente pessoa que é.

Obrigada por todo o esforço que tem dedicado a ensiná-los a partir do seu lar, neste momento tão difícil, com a mesma calma, alegria e profissionalismo com que os ensina na escola.

Feliz 25 de abril. Que nunca falte a liberdade aos nossos filhos e aos futuros filhos deles.

Um beijinho grande,

Mãe [L]

Querida mãe

[…] Obrigada pelas suas palavras, não só as que me são dirigidas a mim diretamente (que são uma delícia!) mas pelas outras, que dirigiu aos seus filhos, são absolutamente maravilhosas!

Sinto-me muito nervosa e sensível, mas quando vou ter com os meus alunos, dou tudo para lhes proporcionar um bom momento, quero que tenham boas recordações minhas, tal como eu deles e que guardo com tanto carinho.

Havemos de escrever um tesouro acerca do momento que vivemos e havemos de o ler num momento aconchegante como o que vocês tiveram aí em casa, mas com o gosto de termos recuperado a nossa liberdade.

Um beijinho grande e muito obrigada por tudo,

Professora [J]