O que nos dizem os livros…

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Leonor Fernandes

A obra O Monte dos Vendavais, escrita por Emily Brontë, foi publicada em 1847 sob o pseudónimo de “Ellis Bell”, para evitar as críticas da sociedade daquela época (século XIX) uma vez que não era bem-visto naquela altura uma mulher ser escritora. O livro aborda inúmeros temas, entre os quais, o amor e a obsessão, a vingança, as classes sociais e as desigualdades, a redenção e a reconciliação, entre outros.

Deste modo, a obra, narrada principalmente em analepse por Nelly Dean, a empregada doméstica, a Sr. Loockwood, um inquilino da Granja Thrushcross, é um romance sombrio e apaixonante de duas gerações marcadas por amores intensos, vingança e conflitos familiares. A trama centra-se na relação de Heathcliff, um órfão acolhido pela família Earnshaw, que é motivado pelo desejo de vingança contra aqueles que o rejeitaram e o humilharam, e Catherine Earnshaw, a filha do patriarca, que vive um conflito interno, entre o amor que tem por Heathcliff e a ambição de ascender socialmente. Tendo crescido juntos no Monte dos Vendavais, acabam por desenvolver um amor obsessivo e destrutivo, que vem a afetar as gerações seguintes, pois Catherine cede à ambição de ascender socialmente e casa-se com Edgar Linton, um homem gentil e de boas maneiras. Com o passar dos anos, Heathcliff acaba por perder a obsessão por Catherine e o interesse por vingança, morrendo no quarto desta. Com a sua morte, o ciclo de ódio e de vingança acaba, e a filha de Catherine e de Edgar, Cathy Linton, e o sobrinho de Catherine, Hareton Earnshaw, apaixonam-se e casam-se, abandonando, assim, o Monte dos Vendavais.

Primeiramente, a forma como a autora transmite a ideia do amor como uma força obsessiva e destrutiva, é, verdadeiramente, impressionante. Na verdade, este sentimento é perspetivado na obra como um sentimento destrutivo, sobretudo se guiado por uma paixão desmedida e sem possibilidade de reconciliação. Tal ideia é, então, visível quando Heathcliff ouve Catherine dizer que ela “é Heathcliff”, e começa a acreditar que o amor entre eles é tão forte que nada os pode separar, nem mesmo a morte. Assim, como não consegue aceitar a separação de Catherine, chegando a afirmar que não pode viver sem ela, acaba por levar uma vida marcada pelo sofrimento, obsessão e vingança.

Seguidamente, a escritora aborda, de forma perspicaz, temas como o prestígio social e as desigualdades que influenciam tanto as relações entre as personagens como os seus destinos. Deste modo, essa ideia é visível não só com a origem humilde de Heathcliff cujo estatuto de órfão adotado o tornam num alvo de discriminação – tanto dentro da família Earnshaw como na sociedade em geral-, mas também com o casamento de Catharine e Edgar Linton, motivado pela segurança e ascensão social, que evidencia claramente como as classes socais moldam os relacionamentos e reforçam hierarquias. Assim, a maneira como Emily Brontë transmite esta necessidade de ascensão social e a discriminação sentida por outros de classes mais humildes é, simplesmente, magnífica.

Concluindo, O Monte dos Vendavais de Emily Brontë é uma excelente e brilhante obra literária, que deveria ser lida por todos, não só pela visão que oferece da sociedade daquela época, como também pela ideia do amor como uma obsessão. Do mesmo modo, tornando a narrativa ainda mais envolvente, é fascinante quer a abordagem à discriminação e à necessidade de segurança quer a ideia do amor como uma força destrutiva.

Leonor Fernandes, 11.º H2