Linhas convergentes
Por Frederico Pimenta
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
Cantar é rezar
Em documentação datada essencialmente dos anos de 1954 e 1955, existe nos arquivos da Casa D. Bosco, como fonte refrescante de informação, um conjunto de cartas e anotações que desvendam os projetos, as alegrias, as compreensões e as dificuldades de elaborar uma coleção de cânticos a que se deu o nome de Cantar é Rezar.
A extensa correspondência não nos permite, neste contexto de escrita, proceder à análise de todos os grafados. Tão somente, abordaremos seis destaques exemplificativos e testemunhais, devidamente assinalados, a que demos o nome de “Foco”.
Apesar da extensão, não excluímos os emissores e destinatários das diferentes missivas e deles apresentamos, como estudo singular, o respetivo elenco.
Como redatores das diferentes cartas emitidas pela Província Portuguesa da Sociedade Salesiana, especificamente para pedidos de autorização, destacamos os Padres Agenor Vieira Pontes, José Maria Alves, Benedito Nunes e Armando Monteiro.
Os destinatários existentes na pasta referente a este assunto, em grande cômputo, encontram-se assim elencados: Pe. João de Lima Torres, Bispo de Priene (D. Manuel dos Santos Roca), Pe. Manuel de Jesus Raposo (Missionário do Espírito Santo), Pe. Marvão, Pe. Juan Manuel de Beobide (SDB), Pe. Júlio Marinho, Pe. Alexandrino Monteiro, Pe. Paulo Durão (SJ), Pe. Luís Gonzaga Mariz, Professor José Neves (Conservatório de Música do Porto), Pe. Maurício dos Santos (SJ), Professor Fausto Neves, César da Silva, Pe. Luís de S. Rodrigues (Reitor da Lapa, Porto), Livraria Lopes da Silva (Porto), Casa Moreira de Sá (Porto), Pe. Benjamim Salgado, Paolo Viano (Libreria Editrice Internazionale, Torino), Frederico Caudana (Organista del Duomo, Cremona), Editora Boileau Bernasconi (Casa Editorial de Música, Barcelona), Pe. António de Castro Reis (Seminário Conciliar, Braga), Pe. Joaquim Dias Parente, Pe. José Maria de Jesus Rodrigues, Vaticano (Secreteria di Stato di Sua Santita).
Recordando o que atrás se escreveu como finalidade do escrito, as missivas patenteiam a concessão de autorização para publicação de trabalhos já existentes, umas, e respostas obtidas, outras.
São assim:
Foco 1
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Estoril, 29 de julho de 1954
Carta endereçada a Pe. João de Lima Torres.
Remetida por Pe. Provincial.
Traslados da carta:
“Para bem da Música na nossa querida Pátria neste ano cinquentenário do Motu Proprio do glorioso Pio X queira V. Revª acolher este nosso pedido e responder com a maior brevidade que lhe for possível”.
Barcelos, 1 de agosto de 1954
Carta endereçada a Pe. Agenor Vieira Pontes.
Remetida por Pe. João de Lima Torres.
Traslados da carta:
“Com a prontidão possível, venho dar resposta á carta recebida, dizendo «Que de boa vontade condescendo com o pedido feito».”
Estoril, 1 de setembro de 1954
Carta endereçada a Pe. Lima Torres.
Remetida por Pe. Provincial.
Traslados da carta:
“Agradeço muito penhoradamente a sua resposta de 1 de Agosto à nossa de 29 de Julho, e a gentileza com que V.Rev.ª tão nobremente nos cedeu as devidas liçenças, bem como a informação tão delicada feita ao Sr. Gualdino Correia, de quem já recebemos os exemplares do Hino a Cristo Rei.”
Foco 2 _____________________________________________________________________
Lisboa, 31 de julho de 1954
Carta endereçada a D. Juan Manuel de Beobide.
Remetida por Pe. Inspetor.
Traslados da carta:
“Nuestra muy amada inspectoria de Santo António de Portugal está preparando para fines de publicación una antologia musical de tipo coral.”
San Sebastián, 7 de agosto de 1954
Carta endereçada a Pe. Agenor Pontes
Remetida por Pe. D.Juan Manuel de Beobide.
Traslados da carta:
“Respecto a mi canción «Oh, Señor, yo no soy digno», no tengo ningún incovaniente en autorizarles su publicación, y para facilitarles el trabajo le envio por coreo aparte la música, editada por nuestra S.E.I. de Madrid hace un año.”
Estoril, 8 de setembro de 1954
Carta endereçada a D. Juan Manuel de Beobide.
Remetida por Pe. Inspetor.
Traslados da carta:
“Vengo hoy a decirle de mi reconocimiento por su amabilidade en atender nuestro pedido, y por el modo como tan generosamente nos concedió el permisso para publicaçión de su «Oh! Señor, yo non soy digno”, y también por el envio de su impresso y copias de otras composiciones.”
Foco 3 _____________________________________________________________________
Lisboa, 1955
Carta endereçada a Pe. Manuel Raposo.
Remetida por Pe. José Maria Alves.
Traslados da carta:
“recebemos uma carta de S. Ex. Rev.ma o Sr. Bispo de Priene, e por ela tomámos conhecimento de que na Antologia a publicar «Cantar é Rezar», há trinta e três cantos que já figuram na Antologia «Cantai ao Senhor» e na «Missa dos Pequeninos», e uns nove, de entre eles, com a letra alterada.”
“Não conhecemos quais são os trinta e três cantos a que se refere, (…)”
Lisboa OSJ, 24 de fevereiro de 1955
Carta endereçada a Bispo de Priene.
Remetida por Pe. José Maria Alves.
Traslados da carta:
“Por incumbência do nosso Rev.mo Provincial, ausente de Lisboa, venho agradecer, muito penhorado, a prezada carta de V. Ex.cia Rev., datada de 21 do corrente mês.”
“Logo que tenha os resposta, daremos a V. Ex.cia Rev. os esclarecimentos pedidos.”
“É nosso desejo que tudo se solucione dentro do bom espírito de compreensão que anima ambos os Institutos Religiosos.”
Foco 4 _____________________________________________________________________
Estoril, 8 de setembro de 1954
Carta endereçada a Pe. Júlio Marinho.
Remetida por Pe. Provincial.
Traslados da carta:
“(…) venho mais uma vez recorrer à sua generosidade solicitando as devidas licenças para inserir com novas harmonizações, as melodias do falecido e saudoso Pe. A. Menezes (…).”
Lisboa, 10 de setembro de 1954
Carta endereçada a Pe. Provincial.
Remetida por Pe. Júlio Marinho.
Traslados da carta:
“De muito bom grado concedo autorização pedida.”
Foco 5 _____________________________________________________________________
Estoril, 28 de julho de 1954
Carta endereçada a Pe. Alexandrino Monteiro.
Remetida por Pe. Agenor Vieira Pontes.
Traslados da carta:
“Ora para maior valorização de tal Antologia Musical, pela popularidade, beleza, arte e inspiração que exornam a abaixo mencionada poesia de V. Exª para poder incluir na sua colecção (…).”
Fortaleza / Ceará, 12 de Agosto de 1954
Carta endereçada a Pe. Agenor Vieira Pontes.
Remetida por Pe. Alexandrino Monteiro.
Traslados da carta:
“(…) dou plena faculdade a V. R. para incluir na preciosa Antologia Musical a poesia mencionada (…).”
“Dando a V. R. os parabéns pela tão desejada Antologia que V. R. vai publicar, peço que me mande um exemplar de amostra.”
Estoril, 8 de setembro de 1954
Carta endereçada a Pe. Alexandrino Monteiro.
Remetida por Pe. Provincial.
Traslados da carta:
“Penhoradamente vimos agradecer, por esta, a gentileza e amabilidade com que se dignou acolher o nosso pedido concedendo-nos as devidas licenças (…)”
Foco 6 _______________________________________________________________________
Dal Vaticano, 29 de março de 1955
Carta endereçada à Província Portuguesa da Sociedade Salesiana.
Remetida por Secreteria di Stato di Sua Santita`.
Traslados da carta:
“A Secretaria de Estado de Sua Santidade cumpre o honroso dever de comunicar que o Augusto Pontificie recebeu e agradece a homenagem da colecção «Cantar é Rezar» (…) concede de todo o coração a Bênção Apostólica.”
Deixando de lado estes parcos testemunhos escritos, verificamos que o trabalho final Cantar é Rezar apresenta inicialmente algumas advertências, para melhor interpretação da respetiva leitura, da autoria do organista Filipe Rosa de Carvalho que colaborou de forma irrestrita na concretização da inaudita coleção de cânticos.
Além do destaque do item anterior, a planificação da coleção expôs um “Frontispício” com transcrições do pensamento de Santo Agostinho e do Papa Pio X (Motu Proprio) sobre a música sacra.
No “Prólogo”, da autoria do Pe. José Maria Alves, sobressai o pensamento de S. João Bosco, afirmando-se: “S. João Bosco viu na música e no canto coral um dos seus melhores auxiliares na missão de educar a juventude”. (1) O grande objetivo desta realização é, pois, “(…) queremos contribuir deste modo com a nossa cooperação para a difusão cada vez mais vasta do canto nas igrejas”. (2)
Sondando sucintamente os índices da coleção, apuramos que estão demarcados três setores: “Alfabético”, “Metódico” e “Autores”.
Conclui-se, anotando-se que a correspondência, as autorizações de publicação e outros assuntos datam, de acordo com as balizas cronológicas apresentadas anteriormente, dos anos de 1954 e 1955.
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- Cantar é Rezar, colecção de cantos religiosos populares em latim e em português com companhamento de órgão ou de harmónio, Edições Salesianas, 1955.
- Ibidem.