Poética do tempo que passa…

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seara-16-poetica“Qual é a diferença entre ver e olhar?” A pergunta lançada para a plateia dos alunos despertava a curiosidade para uma viagem com cerca de quarenta e cinco minutos. Uma viagem pela arte, pela pintura, um percurso anunciado pelo tempo que passa e muda a nossa maneira de ver o mundo e o homem…

Surgem no ecrã os renascentistas e, pela mão de quem já se habituou a tratar estas iluminuras por tu, começam a desenhar-se pormenores outrora desconhecidos. Do academismo na arte ao rigor poético, de Rafael a Camões, o professor João Dionísio vai encaminhando com a sua maneira cativante de ensinar os alunos às mudanças do século XIX que se espelham inevitavelmente na pintura e na literatura… 

E no vapor das máquinas da revolução industrial, a máquina fotográfica vem anunciar o fim da arte. Será mesmo o fim? Poderá a pintura sobreviver a este real objetivo que numa fração de segundos eterniza o quotidiano? A resposta vem pela mão de Monet e de outros impressionistas que nos arrebatam o olhar com as cores vivas das suas telas e nos puxam para a balbúrdia de uma esplanada ou para o rodopio de uma bailarina…

E eis que, de súbito, “uma visão de artista”, um fragmento de um poema de Cesário Verde surge a concretizar por palavras o que o pincel de um pintor havia feito na tela… Caminhamos com o sujeito poético pelas ruas de Lisboa, pelas avenidas “macadamizadas”, onde a luz do sol torna ainda mais alvas as paredes das casas dos burgueses que lentamente vão despertando. É já um espaço que se desenha ante os nossos olhos… “Um bairro moderno”… Afinal, Cesário Verde não é apenas mais um escritor, um repórter do quotidiano atento aos fragmentos fugazes do real… Cesário Verde deslumbra-nos com a sua capacidade de pintar com as palavras… Fica a promessa, a viagem chega ao fim, e enquanto o comboio se volta a fixar na gare de Saint Lazare, vai-se  abandonando o espaço da aula, todos mais conscientes da necessidade de ver mais em vez de olhar, todos mais atentos aos cheiros, aos sons e aos movimentos anunciados pelas palavras…

Iolanda Batista | Professora