“Educar em tempos de emergência”

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seara-13-emergenciaNo âmbito da Semana de Educação Moral e Religiosa Católica (EMRC), que decorreu entre os dias 24 e 31 de janeiro, recebemos no dia 28 de janeiro o jornalista António Marujo, diretor do jornal digital “7Margens”, que falou aos educadores sobre “Educar em tempos de emergência”.

Iniciou a sua intervenção referindo que a Igreja tem dificuldade em dialogar e debater. Neste sentido, recordou o episódio dos Atos dos Apóstolos (capítulo 15), em que Paulo e Barnabé se encontravam em discordância. Questionou-se sobre o porquê de termos tantas dificuldades em falar com aqueles que têm ideias diferentes das nossas.

A apresentação prosseguiu com dez pontos, que procuraram abordar algumas problemáticas presentes na sociedade, nas quais o religioso pode ter um papel importante, seja no sentido de alertar, seja no de agir. De seguida, apresentam-se breves apontamentos sobre as várias urgências abordadas por António Marujo:

1. Clima: Vivemos num pessimismo relativamente ao futuro, porque verificamos a incapacidade dos Governos para agir no que às questões climáticas diz respeito. Em poucas décadas, o ser humano tem vindo a destruir o que na Criação «Deus viu que era bom». Temos consciência das fragilidades do nosso planeta. O Papa Francisco incentiva-nos a exercer uma ecologia integral. Alertou-se para o facto de, em muitos sítios, ainda não se realizar a separação básica do lixo.

2. Pobreza: O Papa tem sensibilizado para a necessidade dos frutos da terra chegarem a todos. Na sua reflexão, questionou-nos se conhecemos quem vive em dificuldades e como chegou a essa situação. Alertou para a necessidade de se repensar o sistema financeiro internacional. Falou de S. João Bosco, que foi ao encontro dos que mais precisavam.

3. Cuidado: S. Francisco de Assis é o exemplo por excelência. Precisamos de estar atentos, pois olhar para o outro é praticar o cuidado. Vivemos um crescimento desmesurado, sendo fundamental pensar sobre a finitude dos recursos. Alertou para a dependência da tecnologia. Falou-nos também sobre como nos sentimos esgotados, sendo necessário repensar o modo como trabalhamos, com o objetivo de reduzir esse tempo, para que também tenhamos tempo para o lazer e para o descanso. Reduzir os dias de trabalho, seria uma forma de possibilitar um emprego a mais pessoas.

4. Discurso de ódio: No mundo virtual, este sucede e torna-se mais forte. Vivemos numa sociedade que parece ter necessidade de se sobrepor ao outro. Recordou que «O que sai da boca é que torna a pessoa impura».

5. Pessoas descartáveis: Falou-nos sobre os povos que migravam à procura de terra para cultivar, ou seja, à procura de uma vida melhor. Recordando a queda do Muro de Berlim, referiu também que, há 4 anos, ainda existiam 70 muros entre países.

6. Reaprender os afetos: Deu-se um exemplo de Eduardo Sá, que defende que se deve evitar que as crianças estejam em funerais. É fundamental aprender a encarar os afetos, em contacto com a realidade.

7. Combater a ignorância e o preconceito: Temos uma opinião sobre tudo o que o outro faz, e isso é uma forma de colocar um rótulo na pessoa. Referenciou e refletiu sobre o filme “Clube dos Poetas Mortos”.

8. Aprender a escutar e o silêncio: Revelou que sempre gostou de realizar reportagens em Mosteiros, pois neles sucedem roturas com a sociedade: tempo, trabalho, ruído (só dizem o essencial e capacitam-se para a escuta).

9. Liberdade: Em Portugal não se educa para a cidadania, mas pede-se que se cumpra um catálogo de regras. Questionou sobre como se envolvem os pais na escola de hoje, e referiu o debate entre a escola pública e privada, refletindo também sobre a burocracia excessiva, que descentraliza para a atividade da educação.

10. Paz: Estão a decorrer tantas guerras, mas são silenciadas. São conflitos que retiram das pessoas a capacidade de ter esperança. Neste sentido, é preciso educar para a não-violência e para a cidadania.

Foram muitas as temáticas para as quais António Marujo sensibilizou os presentes, destacando que educar não é uma tarefa fácil, mas que é necessário puxar pela criatividade, pelo envolvimento e pelo empenho dos alunos. Concluiu referindo que Jesus propõe um modelo de vida, que se fosse levado mais a sério pelos crentes, talvez a nossa sociedade fosse diferente.

O Departamento de EMRC agradece ao António Marujo pela sua disponibilidade e partilha, bem como a todos os presentes.

Joana Veigas | Professora de EMRC