As escolas, pelas razões que todos conhecemos, esforçam-se por criar mecanismos internos de resposta para os alunos com fraco aproveitamento. Os populares apoios. É evidente que estes apoios continuam a fazer sentido. No entanto, temos verificado ao longo dos últimos tempos, que no nosso contexto e sobretudo no ensino secundário, outros alunos vivem diariamente com a ansiedade e o sofrimento por companheiros, necessitando de apoio e, sobretudo, de olhares lavados que sejam capazes de ver. Estes são os bons alunos que existem em todas as escolas, mais ou menos pacientes, obedecendo aos travões de uma pesada máquina que teima em limitar a velocidade da sua capacidade de aprender. Acontece que estes têm metas muito mais ambiciosas e, para as atingirem, necessitam com frequência de tanto apoio como todos os outros. Se tal não acontecer, corre-se o risco de serem estes os excluídos!
Frequentemente alunos brilhantes vivem angustiados por não conseguirem atingir o muito que é necessário para poderem entrar na universidade e no curso pretendidos. Frequentemente alunos mais fracos, com médias mais baixas e objetivos menos ambiciosos, conseguem outras alternativas, sendo provavelmente muito mais felizes do que aqueles. Frequentemente alunos com um enorme potencial necessitam de acompanhamento mais atento e personalizado para que as suas asas não fiquem presas na rede silenciosa da uniformização. Frequentemente alunos brilhantes carregam o peso de verem o seu brilho ofuscado pelo sucesso académico e profissional dos pais que, de forma inconsciente, transformam um dezoito vitorioso num simples escravo do dezanove. É, por isso, evidente, que todos os alunos necessitam de apoios, porque todos têm necessidades educativas especiais. Os que parecem não ter, poderão ser os excluídos.
É então urgente criar na escola estruturas de apoio para bons alunos, com educadores apaixonados, espaços e equipamentos adequados, tendo na mira a excelência aguardada pelo seu enorme potencial. Muitos destes alunos trituram horas da sua vida a ouvir o que já pouco ou nada lhes diz.
Sabemos que, nos designados contextos favorecidos, também habitam órfãos com pais que tudo dão aos filhos, deixando-os ébrios de quase nada. A escola nunca poderá substituir a família. Deverá, sim, estar em sintonia com ela, num processo onde todos aprendem, onde todos ensinam, onde todos erram e corrigem os erros, onde todos celebram vitórias e engolem derrotas. Parece-nos da maior pertinência dar atenção ainda a outros, excluídos de famílias “normais”, que vivem em famílias “virtuais”, seres humanos que não estando excluídos na e da escola, muitas vezes se excluem de si próprios procurando refúgio em dinâmicas de proteção no sofrimento, juntando-se a colegas mais ou menos incluídos numa exclusão mascarada. A sensibilidade de educadores competentes e bem formados para a compreensão de fenómenos desta natureza, é, em nossa opinião, outro dos fatores decisivos para que cada um se possa encontrar em primeiro lugar a si, encontrar e aceitar o outro e, sobretudo, a singularidade de cada um.
José Morais | Diretor Pedagógico