A publicação de junho-agosto recorda os grandes momentos desse ano de 1926: Cinquentenário das Missões Salesianas, os festejos de Maria do ano de 1926, a Exposição Missionária, as festas de 24 de maio e o Congresso dos Cooperadores Salesianos.
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Por Frederico Pimenta
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
1926 – seis ideias do Boletim Salesiano
Olhando as páginas iniciais do Boletim Salesiano do ano de 1926, pretende-se dar uma panorâmica dos desígnios salesianos então partilhados com os Cooperadores, como acontece nos dias de hoje. Relativamente às notícias, nesse ano, no território luso, elas foram escassas.
Évora – outubro 1927
Olhamos aqui a que se pode chamar “primeira página” do Boletim Salesiano deste ano de 1926, espaço meão da segunda década do século XX.
Na publicação de janeiro-fevereiro, como no início de todos os anos anteriores, o Reitor-mor, Pe. Filipe Rinaldi, apresenta um computo do ano de 1925 e perspetiva o de 1926. Evoca a figura de D. Bosco aconselhando “Sejamos fieis aos ensinos e aos exemplos de Dom Bosco (…)”. Recorda as “Commemorações Cincoentenarias da partida dos primeiros missionários, (…)”, evocando os primevos espaços onde os Salesianos iniciaram o seu desenvolvimento e igualmente as Filhas de Maria Auxiliadora. Desenvolvimento sentido nas palavras coevas do Reitor Mor: “Hoje sobem a mais de 1100 as casas dos Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora em todas as partes do mundo”. No exemplo deste desenvolvimento, acrescenta ainda o número de 224 novos missionários e missionárias e mais de 1000 inscritos nas congregações feminina das Filhas de Maria Auxiliadora e masculina dos Salesianos. Ainda na retrospetiva de 1925 e incluída nas quarenta novas fundações erigidas, destaque para a alusão ao início do oratório festivo de Évora, temática que já abordámos em artigo anterior, mas que é sempre imperativo recordar bem como a figura do Pe. Carlo Frigo e o seu estonteante trabalho na cidade alentejana. Lembre-se, simultaneamente, a figura do seu companheiro de viagem então realizada, de Itália para Portugal, Arquiles Marchetti, que aportou nas Oficinas de S. José após o período de afastamento subsequente à implantação da república e que, nesse mesmo ano, acrescentou um trabalho de extraordinário desenvolvimento desta presença salesiana na cidade de Lisboa. Em Évora, o Pe. Luís Sutera era o diretor. Centrando-se, então, no ano de 1926, alude o Pe. Rinaldi à data de 9 de maio deste mesmo ano como o momento em que se completaram cinquenta anos do reconhecimento, pelo Papa Pio IX, das associações União dos Cooperadores Salesianos e Obra de Maria Auxiliadora. Sobre elas, historiando e contextualizando de forma clara e pormenorizando os diferentes aspetos inerentes às instituições com excelente recorte literário, estimulou todos os membros do movimento salesiano ao desenvolvimento e proteção de ambas. Na explicação das características da celebração cinquentenária, enumera três momentos a terem lugar nesse ano de 1926: “Este anno, no dia 24 de cada mez as solemnidades de N. Senhora Auxiliadora terão em todas as casas Salesianas o caracter especifico de solemne agradecimento (…)”, “Em Maio reunir-se-á em Turim um Congresso Internacional de Cooperação Salesiana (…)” e, por último, “(…) uma festa ainda mais solemne em honra do Coração Sacratissimo de Jesus (…)”. Termina o seu contacto com os leitores, solicitando “Rezae de modo especial, pela Causa de Beatificação do nosso Veneravel Fundador. (…) pela de Domingos Sávio, (…) e de Maria Mazzarello (…)”.
Na dupla publicação de março-abril, evoca-se o decreto do Papa Pio X sobre a Comunhão das crianças e em evidência a Comunhão quotidiana. Destaca-se esse desiderato de D. Bosco e a vivência dos jovens Domingos Savio e Miguel Magone. Na dissecação do percurso educativo de D. Bosco, sobressai, nas linhas do Boletim Salesiano, a figura de Margarida Bosco e a influência que teve no jovem João, documentada com a redação das vivências tidas. São palavras introdutórias para a aproximação, nesse ano, do centenário da Primeira Comunhão de D. Bosco e a oportunidade para a celebração, nas diversas presenças salesianas.
O número de maio-junho é praticamente dedicado ao falecimento do Cardeal Cagliero, ocorrido no dia 28 de fevereiro de 1926. Dele se elabora a história pessoal e a da Congregação, recordando a data de 14 de maio de 1862: “(…) no humilde quarto do Veneravel pronunciaram os primeiros votos religiosos salesianos e constituíram se os primeiros membros da Congregação”. Ainda na primeira página do Boletim Salesiano destes meses, sabemos que o Cardeal então falecido foi 64 anos sacerdote, 42 bispo e 11 Cardeal.
Em Portugal, no enquadramento e contextualização com a publicação de maio-junho destaca-se a data de 28 de maio desse ano e a movimentação militar que deu origem à ditadura chefiada pelo general Gomes da Costa, que foi o embrião, dois anos mais tarde, do Estado Novo.
A publicação de junho-agosto recorda os grandes momentos desse ano de 1926: Cinquentenário das Missões Salesianas, os festejos de Maria do ano de 1926, a Exposição Missionária, as festas de 24 de maio e o Congresso dos Cooperadores Salesianos. Elenco portentoso repleto de êxito que transparece nas linhas iniciais do Boletim Salesiano sob o título Entre uma quinzena de Maio…um punhado de festas. Ainda sobre estes assuntos, destaca-se o enriquecedor conteúdo deste Boletim com descrições pormenorizadíssimas das movimentações festivas e dos espaços museológicos.
O escrito de setembro-outubro trouxe-nos a exaltação do movimento missionário impulsionado pelo Papa Pio XI, as realizações, após o ano santo de 1925 e, a presença imperativa de D. Bosco nesse sonho missionário que marcou profundamente a Congregação. Os desejos finais do escrito Missão e Santidade fixam-se na esperada beatificação de D. Bosco, o que se verificaria em 1929.
Termina o ano de 1926 com as habituais envolvências de felicitações e as perspetivas para o ano vindouro: “Os órfãos, a mocidade, as famílias e os selvagens, devem ser o objecto das nossas solicitudes no anno que vae começar”.
O diretor das Oficinas de S. José, no ano de 1926, era o Pe. Luis Maffini, que protagonizou um progresso ímpar na presença salesiana de Lisboa.
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(1) Todas as transcrições inclusas neste texto respeitam as normas de ortografia em vigor aquando da sua redação primitiva.
(2) Todas as transcrições foram retiradas dos cinco números publicados no ano de 1926, respetivamente janeiro/fevereiro; março/abril; maio/junho; julho/agosto; setembro/outubro e novembro/dezembro.