Linhas convergentes ________________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 1928 – Subsídios para o seu estudo – “Mais um anno que Deus nos permitte começar, mas que não nos promete findar”. (1) No dealbar do novo ano de 1928, o Provincial Salesiano escreve aos Cooperadores, partilhando, entre outros assuntos, as fundações de novas casas no mundo salesiano. No ano anterior, em 1927, o computo apresentado cataloga sessenta novas casas dos Salesianos e Filhas de Maria Auxiliadora, respetivamente, no primeiro caso, em Itália, França, Bélgica, Alemanha, “Tcheco-Slovaquia”, Hungria, Espanha, Brasil, Perú, Equador, Venezuela, Estados Unidos, Congo Belga, Timor, Austrália, China e, no segundo, Itália, Espanha, Inglaterra, Polónia, Egito, América, Venezuela, Brasil. Universo extenso que guiou ontem, como hoje, o anseio de D. Bosco. Para organização do ano de 1928, o Pe. Felippe Rinaldi, Provincial, afirma: ”A 17 de março p. f. completa-se 25 annos em que com decreto pontificio, foi coroada a imagem De Maria Auxiliadora. (…) Onde existem Casas salesianas, se realizem com a melhor organização possivel, Congressos locaes, Regionaes e Nacionaes sobre o culto de Maria SS. Auxiliadora, em preparação ao XI Congresso Internacional Salesiano, (…) Aos Cooperadores sacerdotes recomendo de promover por toda a parte, a pia pratica do dia 24 do mez (…)“. (2) Conjunto de propostas que, por si só, justificam o destaque dado a este ano de 1928, no particular da nação portuguesa e atividades aí desenvolvidas, neste caso, em especial, das breves notícias que chegaram do espaço das Oficinas de José de Lisboa, incluídas no Boletim Salesiano no ano apontado. No espaço político português, a situação económica encontrava-se numa posição gravíssima. O golpe militar de 28 de maio de 1926 não encontrara a tranquilidade e prosperidade desejadas. O ministro Sinel de Cortes procurou resolver essa situação, recorrendo a um empréstimo externo que não teve êxito por razões profundas, as quais, fazendo parte do contexto envolvente do desenvolvimento da obra salesiana em Portugal, não trataremos, propositadamente, neste escrito. No ano de 1928, que abordamos, no mês de abril, concretamente no dia 26, tomou posse do cargo de ministro das finanças, o Professor António de Oliveira Salazar, que “(…) tornou-se o politico português que talvez mais tenha afectado com as suas decisões quase todos os sectores da vida nacional”. (3) No Boletim Salesiano , número 2, de março-abril de 1928, no meio de um verdadeiro oceano de informação proveniente do Brasil sobre o exuberante trilho da obra salesiana naquele país, surge o primeiro apontamento da presença salesiana na cidade de Lisboa. Transcrevendo do jornal A Voz , o Boletim Salesiano apresenta um desfilar de apontamentos sobre a história da obra salesiana, no atual lugar dos Prazeres. Numa linha cronológica, desfilam figuras e acontecimentos de importante relevo para a história dos herdeiros de D. Bosco, como o marquês de Liveri, o Pe. Pedro Cogliolo, o arquiteto Mario Ceradini, a transformação do construído em quartel e o retorno à direção, por parte dos Salesianos, após a implantação da república e o restauro do edificado. O artigo, com ligeiro desacerto de datas, faz sobressair a figura do Pe. Paulo Consolini, “Sacerdote exemplaríssimo e culto, com uma preparação pedagógica especial e um grande gosto artístico (…)”. (4) O artigo transcrito indica-nos a visita às instalações das Oficinas de S. José feita pelo diretor na companhia do jornalista de A Voz, “(…) das senhoras D. Maria Adelaide Dinis de Sampaio e D. Maria Margarida da Costa Pereira”. Na troca de palavras, o diretor salientou a permanente falta de verbas para manter a escola e o trabalho incansável que a “(…) sra. Duqueza de Palmela está procurando resolver (…)”. (5) É, portanto, no momento do Pe. Consolini como diretor das Oficinas de S. José que recordamos estas notas festivas do ano de 1928. A presença deste diretor foi exígua e pouco consensual pois o trabalho salesiano desenvolvido decorre predominantemente em território brasileiro. (6) No número de maio-junho do ano de 1928, o Boletim Salesiano noticia a realização de importante festa realizada em honra de S. José e remete para a edição seguinte o relato do acontecimento. Efetivamente, esse relato acontece sob a cuidadosa transcrição de alguma imprensa escrita, como é o caso de A Voz e Novidades , “O programma dos festejos foi executado no meio de geraes applausos das muitas centenas de bem-feitores daquela casa de caridade, entre os quaes se via o que de mais nobre há no meio social de Lisboa, e que alli foram levar, com a sua presença, maior brilho ás festas”. (7) A parte religiosa decorreu no período da manhã desde as 7 horas e trinta minutos. A missa solene contou com a presença do Ministro da Itália sendo os cânticos assegurados pela “Schola Cantorum” orientados pelo Pe. Consolini. No período da tarde, as instalações das Oficinas de S. José foram abertas ao público para visitas, nas quais se incluiu o Governador Civil de Lisboa, major Luís de Moura. Aprovada foi a participação da banda de Sapadores de Caminhos de Ferro, que encantou todos os que a ouviram no átrio da escola. O encerramento do festejo fez-se no salão de festas, onde o Pe. Consolini, de acordo com a imprensa, salientou a necessidade de ampliação das instalações e a falta de recursos, referindo que “Para isso não falta architecto, nem alicerces, nem planta… falta a «massa», falta dinheiro!” (8) Igual tratamento jornalístico teve a festa de Nossa Senhora Auxiliadora. Os diários lisboetas fizeram sobressair a presença do Snr. Ministro da Itália. A banda das Oficinas de S. José, sob a orientação do Pe. Pedro Moraes, acompanhou musicalmente parte do momento festivo. Assistiu-se à criação da Associação dos Devotos de Nossa Senhora Auxiliadora, reafirmando-se deste modo importantes nomes da sociedade portuguesa, devidamente elencados nas páginas do Boletim Salesiano coevo. “O rev. P. Paulo Consolini, ilustre e zeloso director das Officinas de S. José procedeu á ceremonia da imposição da fita branca com a medalha de Nossa Senhora Auxiliadora (…)” (9) Este acontecimento perpetuou-se na fotografia que acompanha este texto. A missa da manhã foi presidida por Mons. Efrem Forni, Encarregado dos Negócios da Santa Sé, e, de tarde, a cerimónia foi presidida pelo rev. Cónego Manoel Anaquim, Vigário Geral do Patriarcado. Participou na parte musical desta celebração a banda da Marinha, sob cortesia do respetivo ministro. Como na festa anterior, também aqui se realizou uma visita às instalações e igualmente o Pe. Consolini teceu palavras oportunas sobre a obra de Lisboa. O terceiro momento festivo ocorrido nas Oficinas de S. José e relatado no Boletim Salesiano desenrolou-se no momento da distribuição de prémios escolares e foi documentado, uma vez mais, pela imprensa escrita, neste caso através da Novidades . Presidiu o diretor, Pe. Paulo Consolini, que, falando aos alunos, “(…) dedicou palavras de incitamento (…)”. (10) Discursou ainda o deputado Dr. Joaquim Diniz da Fonseca. Em jeito de conclusão, o Pe. Fellipe Rinaldi faz o computo do ano de 1928, afirmando: “O anno de 1928 ficará para sempre memorável em nossa história, pela protecção visivel de Maria SS. Auxiliadora para comnosco”. (11) __________________________________________________________________________ (1) Boletim Salesiano, revista das obras de Dom Bosco , Anno XXV, Janeiro-Fevereiro, Numero 1, 1928. Introdução feita ao ano de 1928 por D. Felippe Rinaldi. (2) Ibidem. (3) Garcia, José Manuel, História de Portugal-uma visão global, Editorial Presença, Lisboa, 1981. (4) Boletim Salesiano, revista das obras de Dom Bosco, Anno XXV, Março-Abril, Numero 2, 1928. (5) Ibidem. (6) Anjos, Amador , Oficinas de S. José, os Salesianos em Portugal, Lisboa, 1999. (7) Boletim Salesiano, revista das obras de Dom Bosco, Anno XXV, Maio-Junho, Numero 3, 1928. (8) Boletim Salesiano, revista das obras de Dom Bosco, Anno XXV, Julho-Agosto, Numero 4, 1928. (9) Boletim Salesiano, revista das obras de Dom Bosco, Anno XXV, Setembro-Outubro, Numero 5, 1928. (10) Boletim Salesiano, revista das obras de Dom Bosco, Anno XXV, Novembro-Dezembro, Numero 6, 1928. (11) Boletim Salesiano, orgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVI, Janeiro-Fevereiro, Numero 1, 1929.