Linhas convergentes ________________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. 1951 – “O Beato Domingos Sávio encoraja-nos a praticar fielmente o sistema educativo de S. João Bosco” No mês de janeiro de 1951, como habitualmente, o Reitor Maior dos Salesianos, nesta data o Pe. Pedro Ricaldone, (1) distribuiu o lema desse ano: “O Beato Domingos Sávio encoraja-nos a praticar fielmente o sistema educativo de S. João Bosco”. Servir-nos-á igualmente como título deste artigo pela extraordinária riqueza emanada das presenças salesianas no mundo e em especial em Portugal. A base de comunicação e partilha destas vivências será o Boletim Salesiano do ano correspondente. Realce, no escrito do Pe. Ricaldone, para a alusão à fundação, no Funchal, “das Escolas Profissionais”. (2) As ações decorrentes nesse ano estendem-se no período do Estado Novo, na altura do desaparecimento físico do General Óscar Carmona e da ascensão do General Craveiro Lopes como Chefe do Estado, cargo que ocupará até 1958, sendo “afastado por se ter tornado menos maneável ao ditador”. (3) As figuras dos dois generais foram noticiadas e enaltecidas nas páginas do Boletim Salesiano com destaque de página inteira e respetiva fotografia. As notícias do desenvolvimento e vivências salesianas desse ano tiveram origem em Lisboa, Estoril, Mogofores, Porto, Évora, Funchal, Cabo Verde, Macau, Timor, Vila do Conde e Poiares da Régua. Lugares onde a presença salesiana robustecia no apoio aos mais desfavorecidos. Relativamente a Lisboa, lançando um olhar único concretamente às Oficinas de S. José, são apresentados cômputos relativos aos alunos e à sua distribuição pelos diversos cursos. 450 alunos frequentavam diariamente as instalações escolares, sendo 175 internos do Curso Industrial. Infere-se ainda que 200 operários foram então formados nas Oficinas desde 1930. A instrução primária, desde 1929 até 1951, recebera 2400 alunos, não sendo possível a admissão de mais jovens. Os 250 alunos externos recebiam “educação religiosa e instrução primária totalmente gratuitas e muitos deles também uma sopa diária”. (4) O Curso Comercial iniciou-se no ano de 1948 com o número de 60 alunos. O Oratório Festivo recebia 210 crianças dos bairros pobres desta zona de implantação da Obra Salesiana, Oficinas de S. José, em Lisboa. No ano de 1950, no dia 3 de dezembro, celebrou-se o 50.º aniversário da Consagração da Sociedade Salesiana ao Sagrado Coração de Jesus, “estando presentes muitos dos nossos benfeitores“. (5) Igual destaque para a festa da Imaculada Conceição que contou com a presença do Bispo de Macau e a pregação de “Mons. Castilho de Noronha, ilustre deputado da Nação”. (6) A descrição dos três meses, março, abril e maio, dá-nos a conhecer a rica vivência do espaço das Oficinas de S. José e a linha histórica que a entrecruza com personalidades e acontecimentos de relevo na sociedade, da década de cinquenta, do século passado. Deste modo, anotamos a presença de vários representantes de outras Ordens e Congregações Religiosas no momento festivo da celebração de D. Bosco, a presença do Visitador Extraordinário, Pe. António Candela, e as manifestações de simpatia com que foi agraciado por todos os diretores das Casas de Portugal, tendo feito uma explanação verbal sobre a Obra Salesiana no mundo. Numerosos foram os registos da presença de altas personalidades de destaque, como o Bispo de Macau, o Ministro do Perú e o Patriarca das Índias. No aspeto musical, as Oficinas de S. José, e em concreto a sua banda, continuavam a animar todas as atividades domésticas da Casa de Lisboa e “as grandiosas procissões que por este tempo se fazem na capital”. (7) Parágrafo de destaque para a festa em honra de Domingos Sávio, no dia 31 de março desse ano, e a inauguração do monumento, em bronze, da figura do jovem santo conjuntamente com a conferência proferida pelo deputado Dr. Carlos Alberto Moreira. Esta mesma estátua continua, hoje, a receber, no pátio escolar, todos os que se avizinham das Oficinas de S. José. A inauguração foi apadrinhada pela Sua Alteza a Sr.ª D. Maria Adelaide de Bragança van-Uden. Da descrição deste acontecimento extraímos o documento fotográfico utilizado neste escrito. O número 75 do Boletim Salesiano de 1951 (8) notifica-nos acerca dos acontecimentos dos meses de abril, maio e junho do ano em análise. O Ministro da União Indiana, Parakat Achieta Menor, visitou, com bastante agrado, as Oficinas de S. José. Após a festa de S. José, o diretor da Obra lisboeta deslocou-se aos territórios de África e Ásia e, na despedida, ouviu-se o som da banda da escola devidamente formada no pórtico. No dia 19 de abril, os alunos e respetivos responsáveis desfilaram perante a urna do Marechal Carmona, que falecera no dia 18, no Palácio de S. Bento, tendo acompanhado o cortejo fúnebre, no dia 21 de abril. No dia 29 de abril, com a finalidade de ganharem o Jubileu do Ano Santo, os “Superiores, mestres da Oficina, e alunos desta casa foram em romagem visitar as quatro Basílicas de Lisboa”. (9) Salienta-se a visita do Secretário Geral da Assistência Internacional de Proteção à Infância, que tomou contacto com a realidade da escola, visitando aulas e assistindo à formatura dos alunos, ao som da banda. Nos dias 19 e 20 de maio, concretizou-se o momento festivo em honra do Diretor, Pe. Armando Monteiro, que foi vivido com grande entusiasmo e decorreu com o acompanhamento de “grande número de jornais da Capital como a Voz , Novidades , Notícias , Século , etc.”. (10) Termina esta síntese do mês de maio com as festas de Corpo de Deus e Maria Auxiliadora, que contaram com a presença do Pe. Miguel Bernardino Rodrigues, missionário salesiano de Cabo Verde, Doutor Carlos Zeferino Coelho, Dr. Carlos Moreira, Monsenhor Filipe Cardoso, Professor Rosa de Carvalho, D. Nuno Sequeira e Professor Antero Varejão. Em junho, no dia 3, realizou-se a homenagem ao Patriarca de Lisboa, que constou de “três Missas pela intenção de Sua Eminência” (11) e de um certame catequístico. No mês de julho, dias 1 e 8, realizaram-se as Missas Novas do Pe. Lourenço Galarate e do Pe. Miguel da Silva Barros, respetivamente. Este último desempenharia um importante papel no campo desportivo, na casa salesiana do Estoril e no país, em especial no desenvolvimento do hóquei em patins. Realizou-se nesta altura o habitual passeio geral com destino a Setúbal, no dia 18, e o ano letivo concluiu-se no dia 22. Os resultados dos exames dos Cursos Industriais de Tipógrafos, Encadernadores, Marceneiros, Entalhadores, Alfaiates e Sapateiros foram “muito satisfatórios”. (12) Ainda a 22 de julho, realizou-se o almoço dos professores e alunos diplomados. Destaque no mês de agosto para a chegada, a Lisboa, do Pe. Agenor Vieira Pontes, Inspetor da Província Portuguesa, da sua viagem a Lourenço Marques (Moçambique), Goa, Macau, Timor e Hong Kong. __________________________________________________________________________ (1) Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco , Ano X, N.º 73, Janeiro-Fevereiro, 1951. (2) Ibidem. (3) Garcia, José Manuel, História de Portugal – uma visão global , Editorial Presença, Porto, 1981. (4) Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco , Ano X, N.º 73, Janeiro-Fevereiro, 1951. (5) Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco , Ano X, N.º 74, Março-Abril-Maio, 1951. (6) Ibidem. (7) Ibid. (8) Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano X, N.º 75, Juho-Julho, 1951. (9) Ibidem. (10) Ibid. (11) Ibid. (12) Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano X, N.º 76, Agosto-Setembro, 1951.