1952 – A Virtude da Humildade – um ano nas Oficinas de S. José à luz do Boletim Salesiano

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Frederico Pimenta

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Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

1952 – A Virtude da Humildade – um ano nas Oficinas de S. José à luz do Boletim Salesiano. (1)

A 25 de novembro de 1951 faleceu o Pe. Pedro Ricaldone. A notícia do seu desaparecimento inundou as páginas da 1.ª publicação do ano seguinta do Boletim Salesiano. (2) A notícia percorreu o mundo salesiano e os momentos que se seguiram foram intensamente vividos. O escrito do Boletim Salesiano elencou em seis momentos a abordagem da vida do Pe. Ricaldone:    

“O pesar da sua morte”, “A figura do Pe. Ricaldone”, “A última obra”, “Sonho incompleto”, “Dados biográficos” e “O Pe. Ricaldone e Portugal”.

No funeral, ocorrido no dia 27 de novembro de 1951, “A Inspectoria Portuguesa estava representada pelo seu Provincial Rev.mo P. Vieira Pontes com alguns sacerdotes e clérigos”. (3)

O Boletim Salesiano de janeiro-fevereiro de 1952, além do elenco da sua riquíssima vida, aduziu ainda, no contexto português, as três visitas que o Pe. Ricaldone efetuou em terras lusas: “a primeira em 1906, inaugurando as Oficinas de S. José, de Lisboa; a segunda em 1914, encontrando uma revolução nas ruas de Lisboa, (…) e a terceira em 1931, inaugurando a obra Salesiana do Estoril”. (4) A imprensa portuguesa coeva abordou este falecimento e nas casas salesianas de Portugal celebraram-se missas por sufrágio da sua alma. Respeitante às Oficinas de S. José de Lisboa, celebraram-se essas liturgias na Basílica da Estrela.

Igualmente neste número do Boletim Salesiano, noticia-se, com elevado destaque, o falecimento do Pe. José da Silva Lucas, no mês de outubro de 1951. Sobre esta personalidade já abordámos, em artigos anteriores, a sua vida de admirável continuador da obra de D. Bosco.

O lema do ano aqui abordado (1952) foi ainda redigido pelo Pe. Ricaldone dias antes do seu falecimento e fez-se a sua divulgação no número conjunto de março/abril de 1952. Nele se firma a ideia A Virtude da Humildade, que foi o lema proposto, dando-se igualmente nota das fundações erigidas no ano anterior, das quais sobressai “Portugal: Em Viana do Castelo, Escolas Elementares e Oratório Festivo; No Porto, Orfanato e Escola Profissional”. (5)

O novo Reitor Maior foi eleito a 1 de agosto de 1952, dando-se, assim, início ao admirável trabalho desenvolvido pelo Pe. Renato Ziggiotti, sendo a notícia publicada na edição de julho/agosto/setembro de 1952. (6)

Avocando o nome da rainha D. Amélia, o Boletim Salesiano recorda quatro episódios centrados na figura da rainha, extraídos da imprensa, da publicação Novidades: a caridade, “as Oficinas de S. José mereceram desde a sua fundação o desvelo de Sua Magestade a Rainha D. Amélia”; (7) a criação da schola cantorum das Oficinas de S. José e o epíteto real de Canários; a presença do Pe. Miguel Rua e o relacionamento com a Família Real e, por último, o desejo da Rainha entregar aos Salesianos uma “Casa de Correcção”, projeto que só anos mais tarde se realizaria. 

No concernente às Oficinas de S. José, dá-se nota, na primeira publicação do ano de 1952, da Festa de S. João Bosco, em 31 de janeiro, com as respetivas atividades religiosas e culturais, destacando-se a inauguração de uma nova máquina para as oficinas de encadernação. Este sinal, em continuidade com outro semelhante que adiante abordaremos, testemunha o desenvolvimento das Oficinas de S. José na sua constante modernização técnica.  Esta inauguração foi apadrinhada pela Exma. Sra. D. Maria do Espírito Santo Silva Melo. O Natal está igualmente elencado, sobressaindo a distribuição de prémios, “tudo no valor de mais de 5.000$00”. (8) No elenco dos benfeitores, surge o nome da esposa do Presidente da República, D. Berta Craveiro Lopes.

Estatisticamente, o trabalho realizado nas Oficinas de S. José no ano de 1952 encontra-se bem documentado no Boletim Salesiano. O primeiro dado estatístico provém do movimento escolar de 1951/52, com o número total de 702 jovens; no que respeita à beneficência, 986 jovens; e relativamente à Instrução religiosa, 635 jovens.

No seguimento dos momentos festivos assinalados, sobressai a data de 4 de maio, com a festa de Domingos Sávio, destacando-se a presença da Ação Católica com as Companhias religiosas, JOC e PRE-JOC. A celebração teve a presença do Pe. José Maria Alves, diretor da casa salesiana do Funchal. O momento recreativo esteve ao cuidado da banda das Oficinas de S. José e aquentou com as palavras de D. Manuel Trindade Salgueiro e do diretor, Pe. Armando Monteiro.

Ainda no campo dos momentos festivos, elencou-se a festa de Nossa Senhora Auxiliadora, igualmente com os momentos religioso e recreativo. Destaque para uma festa benemérita, denominada Festa da Caridade, que reuniu no Jardim da Estrela, em 4 de junho desse ano, todos aqueles que contribuíram para o apoio à casa de Lisboa. Grande é a lista apresentada com o nome dos beneméritos que ali acorreram. (9)

Destaque evidente para a apresentação do Pe. Renato Ziggiotti como Reitor Maior da Sociedade Salesiana, no dia 1 de agosto de 1952. Apresentaram-se os traços gerais do novo eleito e a respetiva eleição. (10)

Na continuação dos dados estatísticos do ano 1951/1952, surgem, referenciados para o território português, excluindo Cabo Verde, Índia, Macau e Timor, os números referentes ao Apostolado Salesiano, no caso concreto das Oficinas de S. José de Lisboa: alunos internos, 160; alunos externos, 360; oratórios e catequeses, 240; antigos alunos, Ação Católica, aulas de Moral e Obra dos Soldados, 455 num total de 1215 jovens de um somatório nacional de 4905 jovens.

O retorno dos missionários salesianos, designados no Boletim Salesiano, ao território africano, nomeadamente a Moçambique e concretamente a Namaacha, no Instituto Mouzinho de Albuquerque, teve lugar neste ano e vem igualmente relatado nas páginas do Boletim Salesiano. Concretizava-se o retomar do trabalho truncado pela implantação da república em 1910. A viagem realizou-se no paquete Império e teve início no dia 12 de agosto de 1952. O Instituto comportou o número de 150 alunos internos com diferentes cursos que abrangiam os de agropecuária, marceneiro, carpinteiro e ferreiro.  A cerimónia da despedida destes missionários foi intensamente vivida nos ambientes salesianos, especialmente no que às Oficinas de S. José de Lisboa concerte, e vem profusamente documentada na imprensa. (11) O ano em causa foi de extrema riqueza para o espírito missionário salesiano nos territórios longínquos de Cabo Verde, Macau e Timor, que receberam um número significativo de pessoal para expansão do carisma salesiano. Foi igualmente importante o ano de 1952 pela ordenação de dois novos padres salesianos portugueses em Turim e Barcelona e a dinamização dos encontros dos Antigos Alunos Salesianos, sendo, uma vez mais, destacado o espaço das Oficinas de S. José. Saliência ainda para a inauguração do Colégio de D. Bosco de Artes e Ofícios, em Macau, no dia 10 de fevereiro deste ano, com a comparência do Governador desse território asiático. (12)

O encerramento do ano letivo teve lugar em 16 de julho com duas cerimónias: a primeira, a   inauguração de uma nova máquina para a oficina de tipografia, que recebeu o nome do P. Ricaldone, tendo como madrinha a Duquesa de Palmela; a segunda, a distribuição de prémios do ano letivo.  As listagens de alunos e os resultados dos diferentes exames concluem a estatística do ano escolar e testemunham os excelentes resultados obtidos. O somatório dos Cursos Industrial e Comercial, juntamente com a Instrução Primária, perfazia o número de 900 alunos. (13)

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  • Todas as transcrições inclusas neste texto respeitam as normas de ortografia em vigor aquando da sua redação primitiva.
  • Todas as transcrições foram retiradas dos cinco números publicados no ano de 1952, respetivamente janeiro/fevereiro; março/abril; maio/junho; julho/agosto/setembro e outubro/novembro.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 78, Janeiro/Fevereiro, 1952.
  • Ibidem.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 79, Março/Abril, 1952.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 81, Julho/Agosto/Setembro, 1952.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 78, Janeiro/Fevereiro, 1952.
  • Ibidem.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 80, Maio/Junho, 1952.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 81, Julho/Agosto/Setembro, 1952.
  • Ibidem.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 79, Março/Abril, 1952.
  • Boletim Salesiano, Órgão da Pia União dos Cooperadores Salesianos e das Obras e Missões de S. João Bosco, Ano XI, N.º 81, Julho/Agosto/Setembro, 1952.