Linhas convergentes
Por Frederico Pimenta
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
1956 / 57 – Crónica da Casa – Oficinas de S. José
Apresentam-se dois momentos vividos pelas Oficinas de S. José (OSJ) no ano de 1956, que nos dão uma leitura geral do espaço das OSJ no contexto da urbe lisboeta e o desenvolvimento da instituição salesiana nos diferentes períodos cronológicos. Por vezes, parecem pequenos e ingénuos momentos, mas não podemos colocar de parte a ideia de que são eles que naturalmente construíram o que a instituição é.
Abordamos o dia 10 de junho de 1956 e a cerimónia de homenagem ao Pe. Diretor, Armando Monteiro, tendo-se nela incluído o surgimento de um pequeno espaço nas OSJ.
À distância de 68 anos, vivenciemos esses momentos inseridos na Crónica da Casa – Oficinas de S. José e nos recortes de jornais que abordaram estes assuntos.
Inseridas nas datas de caráter nacional e enquadradas pela estrutura do Estado Novo, as Oficinas de S. José tomaram parte de cerimónias significativas desses tempos, apresentando-se desta forma inseridas nos contextos sociais, desportivos (1) e políticos da época. Neste caso, a celebração do 10 de junho: “Anteontem os Salesianos e alunos das Oficinas de S. José, prestaram junto da estátua de Camões significativa e empolgante homenagem à Pátria”. (2) Outras instituições o fizeram, aumentando assim a dignidade da apresentação das Oficinas de S. José na estrutura Olisiponense. Refere-se a presença do comandante da Polícia Municipal, a banda da Casa Pia, a Sociedade Voz do Operário, os Escuteiros de Portugal, a Unidade Tradicionalista Lusitana e os Amigos de Olivença e menciona-se também, de acordo com o Diário Popular que “Durante o dia a União Zoófila distribuiu milho aos pombos daquela praça”. (3)
Num primeiro momento, aborda-se, assim, a data de 10 de junho de 1956 e o tom político que então se lhe dava como dia da Pátria, nesse ano junto à estátua de Camões.
A Crónica da Casa de Lisboa, Oficinas de S. José, contém profusa e substancial documentação fotográfica sobre o acontecimento essencial aqui destacado. Documentação significativa, onde se pode observar a dimensão da representação das Oficinas de S. José nas cerimónias realizadas no dia 10 de junho de 1956. Completa-se, através da primeira imagem deste grafado, a descrição do perfilar dos 380 alunos, em farda de verão, e dos Salesianos nas escadarias do Palácio de S. Bento aquando da deslocação pelas ruas de Lisboa no percurso de ida e retorno das Oficinas de S. José para o Largo Luís de Camões, em Lisboa. Este documento encima este texto, concluindo e enriquecendo, portanto, a respetiva descrição e leitura do espaço envolvente. Na Crónica da Casa lê-se: “A volta fez-se pelo Palácio de S. Bento, em cujas escadarias tirámos uma foto-grupo geral”. (4)
A participação das OSJ constou, num primeiro momento, do desfile pelas ruas: “Depois todos cheios de brio e entusiasmo, envergando a linda calça branca e camisola branca com as letras SALESIANOS no peito, começou o desfile”. (5) Seguidamente, consistiu no entoar do Hino Nacional, prosseguindo com a colocação de um ramo de flores, por três alunos, junto à estátua de Luís de Camões. Já perto do fim, incluiu a leitura da saudação e do telegrama enviado ao Presidente da República e ao Presidente do Conselho, respetivamente o General Craveiro Lopes e António de Oliveira Salazar seguida de algumas palavras, igualmente pelo Pe. Armando Monteiro, alusivas à cerimónia vivida, terminando esta presença cerimoniosa com o Hino das OSJ da autoria do Pe. Benedito Nunes. No telegrama enviado podia ler-se: “Presidente Salazar – Lisboa. No dia de Portugal salesianos e alunos das Oficinas de S. José jubilosos pelo ano cinquentenário das actividades em favor da juventude pobre e abandonada saudam o salvador da Nação e prometem fidelidade à Nação e à Pátria na pessoa de V.ª Ex.ª”. (6) O orço final resumiu-se na esclarecedora frase: “Tanto o povo humilde, como as autoridades louvaram e admiraram os «Salesianos»”. (7)
No segundo instante selecionado, relata-se o acontecimento, efetivado no dia 17 de junho de 1956, enquadrado no momento festivo das Oficinas de S. José aquando da homenagem ao Pe. Armando da Costa Monteiro como Diretor desta instituição. A carta-convite, datada de 5 de junho de 1956, elaborada pelo administrador Pe. Luis Knoll, apelava à participação na festa “Para dar cumprimento a um ponto dos Regulamentos que prescrevem dever todos os anos ser homenageado, o Director de cada colégio (…)”. (8) Assim se fez e realizou-se a cerimónia que foi profusamente noticiada na imprensa. Estiveram presentes membros destacados da sociedade portuguesa dos anos cinquenta, nomeadamente benfeitores, políticos, membros de outras casas salesianas, membros de distintas ordens religiosas, diretores da imprensa escrita e “(…) cooperadores de todas as categorias, sobretudo humildes, reconhecidas pelo grande bem, feito pelos salesianos em favor dos filhos do povo”. (9)
Na publicação Novidades, e ainda coeso ao acontecimento anterior, destacou-se, em 18 de junho de 1956, a curiosíssima notícia: “Seguidamente, às 11 horas, e entre os maiores aplausos e ovações, o Rev. dr. Armando da Costa Monteiro deu a bênção e inaugurou um rinque de patinagem construído com a colaboração dos alunos”.(10) Anteriormente, a Crónica da Casa referia-se a esta obra, dando notícia da evolução da construção. A primeira notícia sobre a construção surge, nesse mês de junho de 1956, no dia 4: “O Rinque de patinagem está em bom andamento. Já fizeram hoje as primeiras duas placas, ou melhor, quadrados”; (11) no dia 6 do mesmo mês, a obra é dada como praticamente pronta: “O pavimento do Rinque de patinagem, está completo. Começaram a soldar os tubos metálicos, de protecção”. (12) Também aqui a documentação é profícua e reveladora do crescimento de um espaço importantíssimo da pedagogia salesiana. O pátio adaptou-se assim às necessidades dos jovens. Saliência para a leitura que é possível fazer do enquadramento do espaço das OSJ na malha urbana então existente neste local da cidade. Mais tarde, outras realizações arquitetónicas subjugaram esta aqui inaugurada, para maior satisfação dos jovens e mais adequada aos tempos contemporâneos, no espaço concreto das Oficinas de S. José de Lisboa.
(1) Neste mesmo ano, as Oficinas de S. José ofereceram as suas valias para abrilhantarem as cerimónias de inauguração do Estádio José Alvalade, pertencente ao Sporting Clube de Portugal. O Diretor escolar, Pe. Ernesto Alfredo Barreiros, redigiu e enviou à Direção desse clube essa disponibilidade, nomeadamente o grupo coral e a banda das Oficinas de José, realçando que “Entre as «estrelas» de futebol das 1.as categorias do Sporting contam-se alguns Antigos Alunos Salesianos (…)”.
(2) Novidades, 12 de junho de 1956.
(3) Diário Popular, 11 de junho de 1956.
(4) Crónica da Casa de Lisboa – Oficinas de S. José, Junho a Dezembro, 1956.
(5) Ibidem.
(6) Novidades, 12 de junho de 1956.
(7) Crónica da Casa de Lisboa – Oficinas de S. José, Junho a Dezembro, 1956.
(8) Ibidem.
(9) A Voz, 18 de junho, 1956.
(10) Novidades, 18 de junho, 1956.
(11) Crónica da Casa de Lisboa – Oficinas de S. José, Junho a Dezembro, 1956.
(12) Ibidem.