| A difícil missão de ser professor |

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– As classes normais são demasiado grandes – disse-lhe Lisa – e por isso os professores não conseguem alcançar essas crianças. Eu fui professora de classes normais. As crianças com dificuldades são três em trinta, três ou quatro. Não é muito mau. Temos o progresso das outras para nos ajudar a continuar. Em vez de pararem e darem  aos alunos mais atrasados aquilo que precisam, misturam-nos, mais ou menos, e vão-nos empurrando com os outros, pensando – ou fingindo que pensam – que eles avançam levados pela onda. São arrastados, assim, para o segundo ano, o terceiro ano, o quarto ano… e depois é o falhanço grave. Mas aqui só há essas crianças, aquelas a quem não é possível chegar e a quem não se chega, e como eu sou muito emotiva no que diz respeito aos meus alunos e ao meu ensino, isso afeta todo o meu ser… todo o meu mundo. E a escola, a direção…  não presta, pai. Temos uma diretora sem a mínima visão do que pretende e temos uma misturada de pessoas a fazerem o que julgam ser o melhor. Mas que não é necessariamente o melhor. Quando aqui cheguei, há doze anos, foi formidável. A diretora era de facto boa. Deu uma volta completa à escola. Mas agora tivemos vinte e um professores em quatro anos. O que é muito. Perdemos uma quantidade de gente boa. Há dois anos passei para Recuperação de Leitura porque as aulas tradicionais me estavam a consumir. Dez anos do mesmo, dia após dia. Não podia suportar mais. 

Philip Roth, (2004). A Mancha Humana, Lisboa: Leya, p. 80-81