Há muita gente que diz que não gosta de História. Que o que aconteceu já é passado, não pode ser mudado e, por isso, é irrelevante saber ou não saber. Mais mil anos, menos mil anos, quem é que quer saber? Está parado no tempo, não interessa a ninguém que queira viver agora.
Para mim, o problema dessa visão está em si mesma: ao olhar para a História como um mero relato de factos absolutos e irrefutáveis que não podem ser alterados, está-se a descaracterizar toda a essência daquilo que ela verdadeiramente é. Não, a História não são relatos absolutos e inalteráveis; são, aliás, interpretações diversas de acontecimentos que nos permitem criar um fio condutor até à atualidade.
De facto, não existem sequer acontecimentos absolutos: todo e qualquer acontecimento é diferente consoante o olho de cada um que o viveu, ou que o soube vivido por outros. Com efeito, apercebemo-nos disso no dia-a-dia. Por exemplo, há quem olhe loucamente para o fogo como um fascínio. Uma outra pessoa que seja afetada por esse fogo olha para ele como o seu maior medo. Outra, como o destruidor de tudo aquilo pelo qual trabalhou durante a sua vida. O mesmo fogo, o mesmo acontecimento, é olhado através de diversas perspetivas, portanto nunca será relatado da mesma maneira, o que dá origem a um vasto conjunto de diferentes interpretações. De seguida, veja-se o exemplo dos Quatro Evangelhos: todos pretendem relatar os mesmos acontecimentos históricos da vida de Jesus, e nem por isso são idênticos – cada um realça alguma característica mais marcante para o autor de cada um deles.
E é assim que podemos compreender a História e o seu importante papel no mundo de hoje. Começando pelos estudantes, devem olhar para aquilo que leem nos livros como uma interpretação de acontecimentos, e tendo em conta que há, efetivamente, certos factos históricos, devem procurar perceber o porquê, o como e o onde, pois para tudo há uma explicação (mesmo que não esteja ainda ao nosso alcance). Ao fazê-lo, estarão a criar a sua própria interpretação, relacionando os conhecimentos que têm entre si, e aí, sim, estarão a cumprir o seu papel como estudantes de História nos dias de hoje. E assim deve acontecer com todas as outras pessoas – mesmo que não seja algo que façam regularmente.
Por fim, o mais importante serviço que a História nos presta é ensinar-nos os erros passados, para não os cometermos no futuro. Porque por mais que se diga isto, a verdade é que a História repete-se. E, se passarmos a assumi-la e a estudá-la como, essencialmente, uma interpretação de acontecimentos, e não como uma data de datas para decorar, então aí, e só aí, estaremos capacitados a analisar e interpretar as situações do mundo atual de forma consciente e saberemos como resolver os problemas que enfrentamos, não repetindo os erros que os nossos antepassados cometeram. A correta interpretação dos acontecimentos passados para aprender a agir será a solução para os problemas que enfrentamos atualmente e que mais nos aterrorizam.
Catarina d´Orey | 12.º H1