Avaliamos para conhecer, não avaliamos para classificar. Não é verdade que à atividade de avaliação se siga inevitavelmente a da classificação. Nem tão pouco tal corresponde a uma suposta lógica natural. De facto, a avaliação como prática pedagógica habitual de classificação tem uma história muito curta e muito recente; nasce com claros propósitos de justificação da exclusão. Tal como a conhecemos é própria dos sistemas educativos do século XX. A avaliação é uma atividade natural enquanto que a classificação é artificial e de mera conveniência social, que só por razões ideológicas, de oportunidade burocrático-administrativa ou por simples comodidade se pode justificar. Quando as atribuímos, para além de perverter, empobrecer e desvirtuar o ato de avaliar, fabricamos um artefacto enganoso ao qual aderem supostos valores de conveniência que desempenham bem funções diversas e díspares; só uma amálgama artificial de procedimentos, que aparentemente servem para o mesmo – avaliar e classificar o rendimento do aluno, por exemplo – lhes confere um significado que apenas representa os parâmetros que definem e delimitam a própria convenção que os inventou. Quando agimos reflexiva e racionalmente partindo de princípios morais, convertemos aquela atividade espontânea e natural em atividade formativa. Porque obtemos conhecimento a partir da avaliação, podemos intervir inteligentemente de uma forma justa, equânime, equitativa para aumentar o conhecimento de quem aprende e de quem ensina. O que não é racional, e, ainda menos, racionalmente sustentável, é que sejam os exames o que define o conhecimento. Tal facto constitui uma perversão do conhecimento. Vulgarizam-no e empobrecem-no, reduzindo a um produto de consumo imediato para o êxito fugaz na prova, de onde se volta tratado como mercadoria. Também é perversão do que é aprender e do que é avaliar, considerando como evidente a pobreza intelectual de quem ensina com esse espírito. O raciocínio é simples: para aprender sempre há tempo, para examinar, não. Avaliamos em contextos naturais; examinamos em cenários artificiais. O paradoxal é que com frequência se rouba tempo à aprendizagem para tarefas de exame. Com frequência também, e de um modo contraditório, o exame acaba por funcionar como controlo da aprendizagem e do tempo que a ela se dedica. Mas também o exame significa controlo de comportamentos, do que os alunos mais estudaram, mais do que comprovação do que aprenderam; significa controlo do programa mais do que procura do valor dos conteúdos trabalhados; controlo da atenção prestada às explicações mais do que verificação da compreensão e da assimilação da informação recebida; controlo das respostas dos alunos mais do que estimativa do valor formativo das perguntas a que se veem obrigados a responder. O equilíbrio entre extremos pode-se conseguir convertendo o tempo de aula em tempo de aprendizagem e integrando a avaliação nas atividades de aprendizagem. Méndez, J.M. Álvarez (2002). Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto: Edições ASA, pp. 89-96.