Esta semana, na primeira semana do ano, mês de Dom Bosco, gostaria de partilhar com a nossa comunidade escolar uma pequena reflexão profundamente espiritual, porque humana, que nos poderá ajudar a valorizar o que já somos. Aquilo que diariamente somos convidados a pôr ao serviço dos alunos. E que colocamos realmente de forma única e autêntica, com aquilo que já transportamos no coração! Proponho uma renovada forma de olhar para o que somos! João Barata de Tovar O corpo é todo ele instrumento e expressão da alma. Esta, porém, não se encontra nele à maneira duma pessoa sentada em sua casa. Reside e age em cada membro e em cada fibra; fala em cada linha, em cada forma e movimento do corpo. De maneira especial, porém, o rosto e a mão são instrumento e espelho da alma. Quanto ao rosto, é, só por si, evidente. Mas observa uma pessoa, ou a ti mesmo, e repara como cada movimento do espírito, — alegria, surpresa, expectativa, — se manifesta na mão. Um brusco erguer da mão ou um seu leve manejar não dizem muitas vezes mais do que a própria palavra? Não parece grosseira, por vezes, a palavra falada em comparação com a delicada e significativa linguagem da mão?… Esta é, depois do rosto, a parte mais espiritual do corpo. Apresenta-se, é certo, firme e forte como instrumento de trabalho e como arma de ataque e de defesa; mas, no entanto, é também uma coisa finamente construída, bem articulada, móvel, repassada de nervos delicadamente sensíveis. É, pois, um verdadeiro instrumento, através do qual o homem pode manifestar a própria alma e ao mesmo tempo acolher a alma dos outros. Pois também isto se faz com a mão. Não será acolher a alma dos outros apertar as mãos que se nos estendem, com tudo o que elas exprimem de confiança, alegria, assentimento e dor? Forçoso é pois, que a mão tenha também a sua linguagem onde a alma, fala e escuta de modo muito particular: na presença de Deus. Onde ela se quer dar a si própria e receber a Deus: na oração. Quando alguém se concentra em si mesmo e está em sua alma a sós com Deus, aperta as mãos uma de encontro à outra, cruza os dedos entre si, como se o fluxo interior, que desejaria extravasar, tivesse de passar de uma para a outra mão e refluir para o interior, a fim de que tudo fique lá dentro, para guardar o Deus escondido, como se a alma dissesse: «Deus é meu e eu sou d’Ele, aqui dentro estamos sós um com o outro». O mesmo faz a mão quando alguma angústia íntima, uma grande necessidade, uma dor, ameaça irromper: de novo a mão se aperta contra a mão e, lá dentro, a alma luta consigo mesma até se vencer e acalmar. Mas se alguém está diante de Deus em atitude interior humilde e respeitosa, então une levemente as mãos pelas palmas, em sinal de disciplina simples, de acatamento recatado. É um exprimir humilde e bem ordenado da própria palavra e um ouvir pronto e atento de Deus, que traduz devoção, dedicação, porque depomos, por assim dizer, atadas nas mãos de Deus, as mãos com que nos defendemos. Acontece também que a alma se abre toda diante de Deus em grande júbilo e agradecimento. Como se fora um órgão, abrem-se todos os registos deixando fluir a torrente interior. E quando se levantam e clamam veementes desejos? Então o homem abre e levanta bem as mãos, de palmas estendidas, para que a torrente interior corra livremente e a alma possa receber em plenitude o que a traz sequiosa. E finalmente pode suceder que alguém se concentre em si com tudo o que é e possui, para se oferecer a Deus em pura dedicação, consciente de que caminha para o sacrifício. Então aperta mãos e braços sobre o peito como que em forma de cruz. Bela e grande é a linguagem da mão. Dela diz a Igreja que nos foi dada por Deus para «nela trazermos a alma». Toma, portanto, a sério esta linguagem santa. Deus escuta-a com atenção porque brota do íntimo da alma. Esta pode também falar de preguiça do coração, de dissipação e de outras coisas pouco belas. Põe as mãos como deve ser e procura que o teu interior se harmonize verdadeiramente com esta atitude exterior. É assunto muito delicado aquele de que acabamos de falar. De tais coisas não se fala com gosto, mas quase com dificuldade. Tanto maior deverá ser na prática a nossa solicitude, para não fazer do que dissemos um jogo vão e afectado, mas antes absoluta sinceridade, aquilo que a alma sente. GUARDINI, Romano; A mão in Sinais Sagrados; Secretariado Nacional da Liturgia; 2º Ed.; Fátima; 2017 Nós educadores usamos as mãos para escrever, gesticular e claro para abraçar. Usamos as mãos para espelhar o que trazemos no nosso mundo interior: a sabedoria, mas também as memórias que guardamos. Usamos as mãos para refletir a nossa alma. Se educar é coisa do coração e a mão é espelho do coração, então, para educar precisamos de ter as mãos livres para receber aqueles diamantes, quase em bruto, que os pais nos confiam diariamente.