Advento: tempo para acolher a presença

> Seara > Advento: tempo para acolher a presença

João Ensina (seleção do texto)

O significado da palavra “advento” inclui também o de visitatio que quer dizer “visita”; neste caso, trata-se de uma visita de Deus: Ele entra na minha vida e quer dirigir-se a mim. 

Na existência quotidiana, todos nós vivemos a experiência de ter pouco tempo para o Senhor e pouco tempo também para nós. Acabamos por ser absorvidos pelo “fazer”. Não é verdade, porventura, que com frequência é precisamente a atividade que nos possui? Não é a sociedade com os seus múltiplos interesses que monopoliza a nossa atenção? Não é verdade que dedicamos muito tempo à diversão e a distrações de vários tipos? Às vezes, a realidade “arrebata-nos”. 

O Advento, este tempo litúrgico forte que estamos a começar, convida-nos a refletir silenciosamente para compreender uma presença. Trata-se de um convite a compreender que cada um dos acontecimentos do dia é um sinal que Deus nos dá, um vestígio da atenção que Ele tem por cada um de nós. 

Quantas vezes Deus nos faz sentir algo do seu amor! Fazer, por assim dizer, um “diário interior” deste amor seria uma tarefa bonita e saudável para a nossa vida! O Advento convida-nos e estimula-nos a contemplar o Senhor que está presente. Não deveria a certeza da sua presença ajudar-nos a ver o mundo com olhos diferentes? Não deveria levar-nos a considerar toda a nossa existência como uma “visita”, um modo como Ele pode vir ter connosco e estar ao nosso lado em cada situação? 

Outro elemento fundamental do Advento é a espera, expectativa que é ao mesmo tempo esperança. O Advento leva-nos a compreender o sentido do tempo e da história como ”kairós”, como ocasião favorável para a nossa salvação. Jesus explicou esta realidade misteriosa mediante muitas parábolas: na narração dos servos convidados a esperar o retorno do patrão; na parábola das virgens que esperam o esposo; ou naquelas da sementeira e da colheita. 

Na sua vida, o homem está constantemente à espera: quando é menino, deseja crescer; quando é adulto, tende para a realização e o sucesso; na idade avançada, aspira ao merecido descanso. Mas chega a hora em que ele descobre que esperou demasiado pouco se, para além da profissão ou da posição social, nada mais lhe resta para esperar. A esperança marca o caminho da humanidade, mas para os cristãos ela é animada por uma certeza: o Senhor está presente no fluxo da nossa vida, acompanha-nos, e um dia enxugará também as nossas lágrimas. Um dia, não distante, tudo encontrará o seu cumprimento no Reino de Deus, Reino de justiça e de paz. 

Existem modos muito diferentes de esperar. Se o tempo não foi preenchido por um presente dotado de sentido, a espera corre o risco de se tornar insuportável; se se espera algo, mas neste momento não há nada, ou seja, se o presente permanece vazio, cada instante que passa parece exageradamente longo, e a expectativa transforma-se num peso demasiado grave, porque o futuro permanece totalmente incerto. Ao contrário, quando o tempo é dotado de sentido, e em cada instante compreendemos algo de específico e de válido, então a alegria da espera torna o presente mais precioso. 

Queridos irmãos e irmãs, vivamos intensamente o presente, em que já nos são concedidos os dons do Senhor, vivamo-lo projetados para o futuro, um porvir repleto de esperança. Deste modo, o Advento cristão torna-se ocasião para despertar em nós o autêntico sentido da espera, voltando ao centro da nossa fé que é o mistério de Cristo, o Messias esperado durante longos séculos e nascido na pobreza de Belém. 

Quando veio para o nosso meio, trouxe-nos e continua a oferecer-nos o dom do seu amor e da sua salvação. Presente entre nós, fala-nos de muitas maneiras: na Sagrada Escritura, no ano litúrgico, nos santos, nos acontecimentos da vida quotidiana e em toda a criação, que muda de aspeto se Ele é reconhecido como o seu fundamento, ou se ela está ofuscada pela neblina de uma origem incerta ou de um futuro inseguro. 

Por nossa vez, podemos dirigir-Lhe a palavra, apresentar-Lhe os sofrimentos que nos afligem, a impaciência e as interrogações que brotam do nosso coração. Temos a certeza de que Ele nos ouve sempre! E se Jesus está presente, já não existe tempo algum vazio e sem sentido. Se Ele está presente, podemos continuar a esperar, mesmo quando os outros já não conseguem garantir-nos qualquer apoio, até quando o presente se torna cansativo. 

Queridos amigos, o Advento é o tempo da presença e da espera eterna. Precisamente por esta razão é, de modo particular, o tempo da alegria, de um júbilo interiorizado, que nenhum sofrimento pode anular. É alegria, pelo facto de que Deus se fez Menino. Esta alegria, invisivelmente presente em nós, encoraja-nos a caminhar com confiança. Modelo e ajuda deste íntimo júbilo é a Virgem Maria, por meio da qual nos foi oferecido o Menino Jesus. Que Ela, discípula fiel do seu Filho, nos conceda a graça de viver este tempo litúrgico vigilantes e diligentes na esperança. 

Bento XVI