Ano letivo 1960/1961 – Encerramento das atividades escolares das Oficinas de S. José de Lisboa

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Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

Ano letivo 1960/1961 – Encerramento das atividades escolares das Oficinas de S. José de Lisboa

Terminado, nas Oficinas de S. José (OSJ) o ano letivo de 1960/1962, os alunos que se destacaram nas diferentes competências receberam, como habitualmente, as distinções pelo trabalho desenvolvido. Desde o início da Obra Salesiana, estes momentos eram vividos intensamente por todas as comunidades escolares de índole salesiana.

Destaca-se neste escrito, o discurso do ministro da Justiça, Dr. João de Matos Antunes Varela, que ocupou, no período do Estado Novo, por duas vezes, esta pasta, correspondendo temporalmente o documento que observamos a este segundo momento de governação.

Uma vez mais, a vida sentida e vivida no interior das OSJ articulava-se, como é natural, com os ambientes onde se encontrava inserida.

O início da intervenção ministerial fez-se com a saudação ao contemporâneo Arcebispo de Cízico, ao centro no documento fotográfico usado neste artigo, testemunha da cerimónia exposta, (1) exprimindo o seu sentimento de satisfação “Pelo calor da sua presença, pela simplicidade da sua palavra e pela irradiante simpatia da sua figura de prelado tão prestigiado e tão digno”. (2)

Como presidente desta cerimónia de encerramento das atividades escolares das OSJ, o ministro salientou a honra concedida e a alegria de partilhar aquele espaço onde, disse, “(…) vivi aqui, confesso, momentos de muito prazer”. (3)

Destacou o “galardoar mérito” pelo esforço e atividade dos alunos “(…) mais do que pelas suas qualidades de inteligência (…)” sem esquecer “(…) o esforço dos seus mestres (…)”.

Alude, com conhecimento inerente à pasta ministerial que lhe foi concedida, ao papel relevante dos Salesianos na Escola Profissional de Santa Clara, iniciado em 1944, e na Escola Agrícola de Santo António de Izeda. A primeira instituição teve a presença dos Salesianos e recebeu a designação indicada em detrimento de reformatório, desde 1944, no cinquentenário da presença salesiana em Portugal, e a segunda, desde 1960, após várias convenções que lhe atribuíram diferentes denominações. Focando esta última referência, a denominação usada pelo ministro advém de anterior acordo em que recebeu, no ano de 1951, o nome de Escola Agrícola, sendo fixado, no ano de 1960, o nome de Escola Profissional de Santo António de Izeda.

Vejamos com algum pormenor esta evolução. Em 21 de março de 1951, no Diário da República, num primeiro acordo, nos termos do Decreto-Lei de 24 de novembro de 1943, para entrega da direção e administração da Colónia Correcional de Izeda à Província Salesiana, lê-se no segundo parágrafo: “A Colónia Correccional de Izeda passa a designar-se Escola Agrícola de Santo António (…)”.

Em 21 de março de 1961, na  renovação deste primeiro acordo, com assinatura do Diretor-geral dos Serviços Jurisdicionais de Menores e do Provincial da Província da Sociedade Salesiana, Pe. Armando Monteiro, lê-se igualmente no 2º parágrafo: “A Colónia Correccional de Izeda, designada no anterior acordo de 21 de Março de 1951 por Escola Agrícola de Santo António passa a denominar-se Escola Profissional de Santo António (…).“ Este novo acordo foi publicado no Diário do Governo de 28 de agosto de 1961.

No seguimento da sua intervenção, o Ministro analisou o papel dos Salesianos no momento educativo coevo e reconheceu que “(…) a acção educativa dos Padres Salesianos das Oficinas de S. José assenta essencialmente sobre o ensino técnico profissional acompanhado duma adequada formação moral e religiosa dos rapazes”. Neste aspeto, realçou a importância do ensino profissional como a via de “(…) valorizar o trabalho (…)” e criar condições para a existência de uma profissão, no final do curso: “(…) vi com grande prazer que alguns deles ao mesmo tempo que lhes foi entregue o diploma da conclusão do seu curso, lhes foi ministrada a carteira profissional (…)“. Neste reconhecimento está subjacente o grande objetivo salesiano de criar honestos cidadãos a par de bons cristãos.

No seguimento da sua explanação, o ministro refletiu sobre o facto da existência de pouco investimento no ensino dos métodos agrícolas em benefício do ensino da indústria e do comércio, aproveitando para introduzir os sinais de desenvolvimento nestes campos dos exemplos existentes no país. Desta forma, salientou “(…) todas as amplas possibilidades de criação duma indústria pesada neste País a partir da indústria Siderúrgica”. Neste enquadramento, situou o papel educativo dos Salesianos, por si balizado nos conceitos políticos do Estado Novo. Considerou que o papel das OSJ “É no sentido de darem ao País os operários técnicos, especializados que a sucessiva criação de novas indústrias no nosso País e em terras de Além-Mar, necessáriamente há-de reclamar”.

No seu discurso, salientou “(…) os acontecimentos graves que o país atravessa (…) “e como tais momentos poderiam comprometer o desenvolvimento das políticas traçadas. Aludia assim aos acontecimentos vividos nos territórios africanos, nomeadamente Angola, geografias então administradas por Portugal. Poucos meses antes, desenrolaram-se naquele território africano confrontações graves que antecederam o período da Guerra Colonial que marcou profundamente Portugal. Neste discurso, tal reflexão é explanada com os contornos naturais da política coeva.

O ministro, na reflexão geral sobre a educação, conclui que esta “(…) mede-se principalmente em função das necessidades da pessoa humana”.

No final da sua exposição, e na figura do Pe. Armando Monteiro, Provincial dos Salesianos, augurou repetidos êxitos no trabalho desenvolvido pelos Salesianos e apelou ao Estado e organismos oficiais compreensão para a instituição.

Palavra final para formulação de votos para que “(…) haja mais Pão, mais Justiça, mais felicidade para todos os Portugueses”.

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  • Na mesma fotografia, podemos constatar, além do Bispo, Manuel Maria Ferreira da Silva, a presença dos Padres, Armando Monteiro, Provincial, e Lino Ferreira, Diretor das OSJ, e das entidades oficiais.
  •  Discurso de S. Excia o Senhor Ministro da Justiça no enceramento das actividades escolares das Oficinas de S. José de Lisboa, Lisboa, 9 de julho de 1961.
  • Ibidem. Todas as citações usadas neste escrito provêm deste documento e respeitam a ortografia coeva.