Durante as duas últimas décadas, a educação e o ensino caíram no encantamento da performatividade. As escolas têm de ter um bom desempenho, têm de mostrar a sua eficácia e demonstrar que o dinheiro investido nelas foi usado de forma eficaz e que resultará em resultados adequados. Cada vez mais, a educação é considerada pelos decisores políticos e também pela “opinião pública” como um investimento que tem de ser gerido eficazmente. Mais formalmente definida, a performatividade refere-se a “uma tecnologia, uma cultura e uma forma de regulação que emprega juízos, comparações e demonstrações como meios de incentivo, controlo, desgaste e mudança – baseados em recompensas e sanções (tanto materiais como simbólicas). Os desempenhos (dos indivíduos ou das organizações) servem como medidas de produtividade ou rendimento, demonstrações de “qualidade”, “momentos” de promoção ou inspeção (Ball, 2003: 216). A eficiência e a eficácia tornaram-se nas preocupações-chave que têm de ser monitorizadas, medidas e comparadas com os resultados de outros. Para tal! os decisores políticos – e isto tem de ser dito, com a ajuda interessada dos especialistas em Ciências da Educação – desenvolveram toda uma série de tecnologias e de procedimentos: padrões e testes baseados em padrões (standards), procedimentos de auditoria e métodos para a auto-avaliação, etc. Em alguns países, isto resultou em rankings de escolas, testes de elevado risco (high stakes testing), currículos formais … Os formadores de professores viram-se confrontados com listas de competências básicas que os seus estudantes devem alcançar. Mas também foram criadas novas metodologias e ferramentas de monitorização, de gestão e de avaliação da aprendizagem dos futuros professores de modo a servir a estrutura da performatividade: diferentes formas de portefólio, tarefas para reflexão … Contudo, deste modo, a performatividade “oculta as diferenças, exigindo que tudo seja mensurável em relação a tudo o resto para que as coisas possam ser classificadas segundo a mesma escala e para que todos possam “prestar contas” com base nos mesmos padrões. Por sua vez, isto implica a desvalorização, e talvez a eliminação, do que não pode ser classificado” (Blake, Smeyers, Smith & Standish, 1998: 1). Ball fala mesmo sobre o “terror da performatividade” (Ball,2003).
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O comprometimento profissional para além do contrato: Autocompreensão, vulnerabilidade e reflexão dos professores
Geert Kelchtermans