Boletim Salesiano – 1974 – Goa

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Frederico Pimenta

Linhas convergentes

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

Boletim Salesiano – 1974 –  Goa

Remetendo para o título em epígrafe, retomamos e relembramos o tempo e o espaço vividos pelos Salesianos nos territórios da Índia e em destaque no território de Goa.

Fazemo-lo, retrocedendo meio século e socorrendo-nos do artigo indicado publicado no Boletim Salesiano (BS), assinado pelo Pe. José Casti. O diretor do BS, nesse momento cronológico, era o Pe. Álvaro dos Santos Gomes. O papel dos Salesianos é destacado pelo contributo que a Congregação dava para o desenvolvimento daqueles territórios do continente asiático.

O Pe. Casti descreve com rigor o contexto daquela atuação ao longo do tempo.

Começa com as agitações do denominado “movimento hippie” e a comparação, noutra vertente, relacionada com a educação dos jovens que “(…) têm necessidade urgente de formação escolar e profissional”.  Traça um quadro conciso do processo de industrialização do território indiano e realça o papel dos Salesianos, afirmando: “(…) que chegaram em 1946, estão a tentar uma formação escolar e profissional dos jovens”.

Historicamente, delimita o território de Goa no seu posicionamento de colónia portuguesa inserida na União Indiana. Menciona o Pe. Vicente Scuderi e o acolhimento amistoso que o Patriarca D. José da Costa Nunes partilhou com um grupo de missionários que vivia uma situação adversa experimentada com a colónia inglesa. Sobre este assunto, abordámos, em artigo anterior este relacionamento. Ainda no campo da História, o redator evoca o período da expansão marítima portuguesa e o nome de S. Francisco Xavier bem como a sua importância no processo de evangelização.

O difícil período de consolidação da presença dos Salesianos naquele lugar começou pela necessidade de edificação de um espaço habitacional. O sítio de Panjim forneceu essa estrutura através de um asilo de velhos com quem foi partilhada a residência sem, contudo, deixarem de existir dificuldades. Seguiu-se o Centro Juvenil e o desenvolvimento da obra missionária. Rapidamente os jovens ocuparam todo o edifico do asilo após a criação de uma nova morada para o albergue de velhos desamparados.

Em 1949, de acordo com a sequência histórica seguida pelo Pe. José Casti, o governo reconheceu a escola que, entretanto, se desenvolvera, possibilitando-se a edificação de alguns pavilhões: “(…) um para a escola, outro para a residência dos salesianos, outro para as primeiras máquinas de uma rudimentar escola profissional”. Na concretização destes espaços, advém o permanente problema da falta de estrutura económica para salvaguardar o projeto, acrescido do facto de que o Pe. Carrenho, diretor da Obra, admitia todos os rapazes que se aproximavam da missão, criando enormes dificuldades. A nível sanitário, elenca-se que as condições eram insipientes, levando à utilização de elementos de medicina alternativa: “O esterco de boi é para esta gente um remédio universal”.

Comprovando-se o incremento da presença neste espaço geográfico, faz-se uma descrição dos elementos edificados e suas respetivas utilidades.

No âmbito histórico, foca-se o ano de 1961 e a passagem deste espaço de Goa para território indiano, deixando de pertencer a Portugal. A nível demográfico, no contexto cronológico do artigo, enumera-se os locais de emigração dos goeses, sabendo-se que estes são cerca de um milhão, metade católicos.

O desenvolvimento da Obra passou pela criação de uma escola agrícola em Sulcona, uma missão em Valpoi e uma escola técnica em Margão. Nestes locais, “A pobreza é sempre grande, dramática”. A fome existente obrigou à criação de refeições para os rapazes.  Por último, a descrição do desenvolvimento registado em Panjim dá nota de uma grande edificação moderna com igreja, escola com mil e quatrocentos rapazes, aulas noturnas para trezentos alunos, internato, centro juvenil e escola profissional para cem alunos.

O trabalho dedicado aos rapazes era igualmente expandido na vertente feminina, expondo o BS um documento fotográfico que apresenta Indira Gandhi, primeira-ministra da Índia no período de 1966 a 1977 e entre 1980 e 1984, num colégio das Filhas de Maria Auxiliadora. O mesmo testemunho usamos no topo deste texto.

O Pe. Casti termina a relação, afirmando tratar-se de “Um verdadeiro mundo juvenil (…)”.

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  • Boletim Salesiano, Ano XXXI, N.º 303, Novembro, 1974.

Todas as citações inclusas neste artigo provêm desta fonte.