Terça – feira, 27 de novembro, 16.58h.
A subir a pequena escadaria do auditório 1 da nossa escola faço o resumo mental do dia. O que fiz. O que falta fazer. Tenho listagens. Vou-me esquecer de falar com alguém. Tenho que me lembrar de dar o recado à minha DT. Amanhã há bom dia. A festa de Natal está quase. Será que a sinopse está bem? Meu Deus…faltam 3 semanas!
À passagem fui cumprimentando colegas e amigos. Fui vendo e sentindo o ambiente.
Percebi que o convidado já estava presente juntamente com o nosso Diretor Pedagógico.
Se calhar está-me a faltar alguma coisa. Tenho que enviar mensagem não vá a família ter-se esquecido que estou em formação. Mando rápido que não gosto de mexer no tlm nestas alturas.
Todos estes pensamentos me assolam quando me sento com o caderno de notas que funciona estilo portfolio. Começo por fazer listas de coisas por fazer. Por comprar, por tratar.
Começa a formação. O professor Morais só teve que dizer “boa tarde” uma vez…curioso. E bom.
Poucos minutos após o Doutor David Rodrigues começar a falar sinto uma empatia imediata. “Ele ia compreender porque é que eu andei em Letras. E em Ciências Religiosas. E em Dança. E em Ballet clássico. E porque é que amo o teatro. E a música. E a arte. E porque é que estou a ter dificuldades em pensar em “apenas” 10 filmes”.
“ No child left behind”. Lembro-me do meu amigo Daniel que não tinha braços. Mas tinha mãos. Era da nossa turma. Igual a nós. Brincávamos juntos e não me lembro nunca de ele ter ficado de fora de QUALQUER atividade. Pois é. Há 50 anos que se fala em inclusão em Portugal. “Ele ia compreender porque é que para nós o Daniel era igual. Nunca nos ensinaram que ele era diferente! Claro que tinha limitações. Eu também tenho. Principalmente no bricolage” (e senti a alma a sorrir).
“Todos os alunos importam e importam o mesmo”. Olha Dom Bosco! O que tu havias de sorrir nesta Formação, Joãozinho! Quase que te senti a passear de batina lá atrás. De um lado para o outro a ouvir com os ouvidos e a guardar tudo no teu coração. Pois importam! Ai de nós que não importassem. Se falhamos? Claro! Se nem sempre conseguimos, claro! Mas que seja claro também que TODOS IMPORTAM E IMPORTAM O MESMO!
“Neurónios espelho”. Não sei o que são. Mas vou aprender. Há qualquer coisa neste discurso de apaixonante. Será que a família está ansiosa pela minha saída? É que não me canso de o ouvir e já passa das 18h. Sinto-me quase como na Disney. Sim, na Disney. Não me enganei. Estou a ouvir aquilo que penso e que ainda não consegui traduzir para palavras. Sensação Disney: o Walt entrou na minha cabeça, esteve em todos os meus sonhos de menina e conseguiu tornar real o que eu não consegui verbalizar…
“Eu não existo porque penso mas porque sinto”. Professor David, sou sua fã! E da sua filha de 14 anos! Das escolas que visitou, das crianças com quem aprendeu, dos adultos que constroem os nossos jovens.
Sou fã dos sorrisos que ouvi, das gargalhadas sentidas, consentidas e com sentido.
Pensei que ía para uma formação e, afinal, senti-me uma menina na noite de Natal.
Mamã, Papá, obrigada por me terem deixado ser diferente.
Por me terem dado as asas da arte, do trabalho, da amizade, do esforço.
Afinal eu não sou diferente, nem hiperativa, nem elétrica.
Sou só uma criança que “was never left behind”.
Mónica Henriques | Professora