João Dionísio (Prof.) e Miguel Miranda (aluno) “O interesse pela importância da Rússia cresceu nestes dois últimos anos letivos pois os alunos confrontaram-se com algo inesperado: uma guerra na Europa, motivada por ideologias que, pensavam eles, estariam mortas e enterradas há muito tempo.” Até há cerca de dois anos, ao lecionarmos conteúdos relacionados com a História da Rússia, eu sentia a pouca motivação por parte dos alunos. “A Rússia, stor? Mas isso interessa alguma coisa??? É lá tão longe”. Sempre lhes disse que estávamos muito mais dependentes da Rússia do que aquilo que imaginávamos: dependentes no trigo que dá substância ao pão que comemos; dependentes no gás que nos aquece e satisfaz o nosso bem-estar diário… E era aqui que a nossa arte enquanto professores era exigida: fazê-los compreender a importância que a Rússia teve no mundo ao longo do século XX, mais precisamente, desde o fim do czarismo e da implantação do regime marxista em 1917. Mesmo assim… não chegava. Pois a Rússia não é como os ditos países ocidentais, cujas referências se sentem nos nossos dias… nem mesma a China, cuja primeira ideia que nos vem à cabeça é um chavão que li/ouvi algures: “Deus fez o mundo. O resto é feito na China”. No final do século XX, com a desagregação do bloco soviético e com o fim da Guerra Fria, o mundo ocidental acreditou piamente numa ideia de triunfo do Bem sobre o Mal; de que a nossa civilização e a nossa cultura prevaleceriam… que outras ameaças e outros “ismos” surgiriam – após o 11 de setembro de 2001 – mas com os quais a Rússia nada teria a ver. Em fevereiro de 2022, tudo mudou. E os nossos alunos aperceberam-se que a Rússia continua a ter um papel importante num mundo cada vez mais interligado por uma teia de relações económicas, políticas, sociais e culturais; de que, apesar dessa ideia de aldeia global lhes parecer (aos olhos de um jovem nascido e crescido neste novo milénio…sentado ali na nossa frente) algo virtuoso, há contradições e choques complexos. Muitos alunos costumam perguntar aos professores de História se aquilo que aconteceu vai resultar em algo semelhante ao que já aconteceu no passado. Respondi-lhes sempre que um professor de História, se soubesse adivinhar o futuro com garantia e objetividade, arriscar-se-ia a ser o mais bem pago profissional do mundo. A prudência diz-nos que, em História, as leis não existem (como na matemática ou nas restantes ciências puras e duras), logo é-nos impossível adivinhar a reação que determinada ação terá. Pois a História lida com a coisa mais imprevisível sobre o planeta: a ação humana. O interesse pela importância da Rússia cresceu nestes dois últimos anos letivos pois os alunos confrontaram-se com algo inesperado: uma guerra na Europa, motivada por ideologias que, pensavam eles, estariam mortas e enterradas há muito tempo. Não. Estávamos todos errados e os nossos alunos precisavam de perceber que mundo é este em que – afinal de contas – nasceram e terão de viver, deixando um pouco da sua marca. Foi neste âmbito que o departamento de História procurou realizar esta palestra, trazendo à nossa escola aquele que, atualmente, se considera “A” sumidade relativamente à Rússia e à sua História. O professor Milhazes estudou e viveu na antiga União Soviética, logo o seu conhecimento baseia-se no empirismo de ter sentido na pele o que era viver “do outro lado do muro…”. A proposta foi clara: quem é Vladimir Putin; o que levou ao fim da URSS e de que forma a Rússia é o que é atualmente. No fundo percebemos que aquilo que a Rússia é deveu-se, em grande parte, à forma como o ocidente muitas vezes olhava a Rússia com a sua histórica sobranceria; que muito daquilo que motiva o regime russo se deverá a roupa suja (ou mal lavada) que só se entenderá através da História… O entusiasmo dos alunos materializou-se na quantidade de perguntas que foram, já na última parte da sessão, colocadas ao professor José Milhazes. Por fim, quero agradecer à Leya/Dom Quixote pela forma como possibilitou esta brilhante sessão. João Dionísio | Professor Na Festa de São José, que ocorreu nos Salesianos de Lisboa, no passado dia 17 de março, os alunos de História do Ensino Secundário tiveram a oportunidade de assistir a uma conferência intitulada “Do fim da Guerra Fria à ascensão política de Vladimir Putin”, apresentada pelo Professor José Milhazes. Durante cerca de duas horas, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco mais da história contemporânea da Rússia, aprofundando temas lecionados nas aulas de História. Evidencio, dentro dos vários temas abordados, a oposição entre o modo de vida ocidental e soviético durante a Guerra Fria, aos olhos de uma pessoa que vivenciou as duas distintas realidades. Outro dos aspetos que destaco, por considerar muito relevante para a compreensão do mundo atual, foi o fim da União Soviética, especificamente a liderança de Mikhail Gorbachev, que, através das suas políticas para a restruturação do país a vários níveis, conduziu à desagregação da superpotência. Este acontecimento, que, como o Professor José Milhazes explorou, gera na Rússia até aos dias atuais, pretensões de recuperar parte do “Império” Soviético. Deste modo, saliento a pertinência desta palestra pela relação que estabelece com o mundo atual, nomeadamente no conflito entre a Rússia e a Ucrânia, que, num momento de questões, foi abordado, assim como a personalidade Vladimir Putin e as suas políticas expansionistas, também explicadas pelo Professor José Milhazes, com recurso ao seu vasto conhecimento sobre aquela que é atualmente uma das maiores potências militares e nucleares do mundo. Miguel Miranda |11E3