«Será que eles se lembrarão de trazer o objeto? E se não trouxerem? O que faço? Lá se vai a bela da aula de desdobramento que tinha planeado… »
A verdade é que trouxeram. Bom, quase todos. O que pedi aos alunos não era simples: na sequência do estudo do conto “Felicidade Clandestina”, de Clarice Lispector, onde a narradora, enquanto criança, revela a importância que um livro teve na sua vida, os alunos teriam que trazer para a aula, de entre todos, apenas um objeto que tivesse marcado a sua infância e justificarem a sua escolha. Aquilo que, inicialmente, pretendia ser, apenas, uma apresentação oral, transformou-se, na prática, num momento altamente emotivo, onde os alunos abriram a porta das suas vivências íntimas, contando, sem receios ou amarras, episódios cristalizados do seu passado, sob pretexto do tema solicitado.
Gratidão é a palavra que se impõe. Sou grata aos alunos por esta aula onde pude ficar a conhecê-los melhor. E, na verdade, todos aprendemos algo nesse dia: é tão bom ser escutado! Que o diga a Maria.
Não sei bem explicar como tudo aconteceu, foi uma grande confusão de emoções.
Começámos por entrar na sala, penso que estávamos todos um pouco nervosos. Cada um pela sua razão, uns por não terem preparado nada, outros pelas histórias que iriam contar. E também havia eu.
Não fazia a mínima ideia de como iria ser…nova escola, novos professores, novos métodos de ensino e de avaliação, uma turma nova, não sabia minimamente qual seria a reação de cada pessoa.
Começaram as apresentações e aquele frio na barriga ia subindo. De repente, ouvi o meu nome e comecei a falar. Contei tudo o que tinha planeado e preparado e, sem que desse conta, acabou! Meu Deus! Que sensação de alívio maravilhosa!
Mudei agora de escola. Vim de uma escola pública em Oeiras e, pela primeira vez, fi-lo sozinha, sem que nenhuma das minhas amigas mudasse também comigo. Adorava a minha escola e adoro as pessoas que deixei para trás. Mas aquele momento não o trocaria por nada.
Faço apresentações orais desde o meu quinto ano, mas só agora percebi qual é a sensação de estar a falar para alguém e sentir que estou a ser ouvida e avaliada. Finalmente, senti e percebi o que significa ter respeito pelo outro!
Por isso, congratulo todas as pessoas que fazem com que essa sensação seja possível.
A escola que eu frequentei não era muito problemática e, no início, a minha turma, apesar de difícil, era muito unida, mas, nos últimos tempos, as coisas tinham mudado um pouco e essa união foi-se desfazendo, o que levou à falta de respeito pelo outro e a uma falta de confiança entre todos.
Por tudo o que vivi e senti, só tenho a agradecer a todos os professores e colegas por tornarem possível, neste colégio, a possibilidade de poder sentir consideração e confiança entre todos!
Assim, agradeço por me terem dado a oportunidade de estar aqui!
Maria Fernandes e professora Sónia Neves | 9E