Linhas convergentes
Por Frederico Pimenta
Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.
D. Manuel II – Boletim Salesiano – ano 1932
Este número do Boletim Salesiano (BS) (1) apontado reporta-nos marcantes notícias para a Congregação, tais como “O Capítulo Geral dos Salesianos e os Cooperadores”, os “Novos Membros do Capítulo Superior”, “carta do Papa Pio XI”, “carta do Geral da Companhia de Jesus”, “Peregrinação Nacional Portuguesa ao Santuário de Fátima”, “o Congresso de Dublin”, “notícias das Missões”, Festas de Nossa Senhora Auxiliadora nas Oficinas de S. José (OSJ) e no Brasil e “Notícias de Aquem e Alem Mar”. Acresce a estes títulos outro de suma importância no contexto histórico português: “Um grande mestre de dignidade moral e devoção patriótica”.
A análise deste último artigo publicado no BS, reporta-nos para a realidade então vivida: “Desde o dia 2 de Agosto do corrente ano repousa no jazigo dos reis, seus maiores, o desventurado monarca e último rei de Portugal – D. Manuel II”. Após esta introdução, somos confiados às palavras do Cónego da Sé do Porto, Revmo. Dr. Francisco Corrêa Pinto, e às considerações tecidas então.
Acompanhando a sequência normal do desenrolar do tempo, cronologicamente falando, o BS percorreu os diferentes momentos históricos de Portugal desde o final do século XIX até à vinda dos Salesianos para a nação lusa e desde o início do século XX até à atualidade.
A localização no atual posicionamento urbanístico das Oficinas de S. José possibilitou o testemunhar de acontecimentos ímpares da nossa História.
Deste conjunto de diferentes acontecimentos temos destacado aqueles que referenciaram o fim do regime monárquico e a instauração da república. Nestas balizas, realçámos em artigos anteriores, igualmente, o ambiente pré-salesiano, a inauguração das novas instalações das Oficinas de S. José e o relacionamento com a Família Real, o batismo e o crisma do infante D. Manuel, o regicídio e, em datas diversas, as visitas da Família Real, o rei D. Carlos I e a Rainha D. Amélia. A implantação da república, as atribulações intrínsecas e as visitas às instalações igualmente realizadas marcaram este período transformador das Oficinas de S. José.
Apontamos hoje o destaque dado no BS às cerimónias de trasladação dos restos mortais do último rei português. “O gesto desta trasladação foi largo, foi generoso, atraente, acolhedor, um gesto característico da gente e da terra portuguesa.” Anuímos a esta tarefa como o fechar de um ciclo em torno do acompanhamento de uma personalidade histórica e do pensamento salesiano coevo a este acontecimento. D. Manuel II falecera, em Inglaterra, no dia 2 de julho de 1932. O Presidente do Conselho, então o Dr. António de Oliveira Salazar, autorizou a cerimónia. Por esta anuência, escreveu-se: “O gesto do Governo foi, pois, ao mesmo tempo, um gesto de justiça e um gesto de recompensa”.
O papel de relevo de D. Manuel II no serviço a Portugal, mesmo no exílio, está amplamente estudado quer nos aspetos políticos quer culturais. “Quis ser, e foi realmente, isto, por que havia nêle uma reserva surpreendente de energias e possibilidades morais. Portugal acima de tudo!”
Abusiva surge a leitura que fazemos, pois já o próprio BS, considerado como documento histórico, transcreve partes da “oração fúnebre” então proferida. Dados históricos inovadores não existem, mas fica mais um fugaz instante escrito da presença salesiana na contextualização da história lusa.
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- Boletim Salesiano – Orgão dos Cooperadores Salesianos, Ano XXIX, Setembro-Outubro, n.º 5, 1932.