“Cada aluno toca o seu instrumento, não vale a pena contrariá-lo. A delicadeza está em conhecer bem os músicos e encontrar a sua harmonia. Uma boa turma não é um regimento que acerta o passo e marcha, é uma orquestra que estuda a mesma sinfonia. E se herdarmos o pequeno triângulo que só faz ting-ting, ou o berimbau que só faz boing-boing, o que interessa é que o façam no momento certo, o melhor possível, que se tornem um excelente triângulo, um irrepreensível berimbau, e que se sintam orgulhosos da qualidade que o seu contributo confere ao conjunto. Como o gosto da harmonia conduz ao progresso de todos, o pequeno triângulo acabará também ele por aprender a música, talvez não tão brilhantemente como o primeiro violino, mas tocará a mesma melodia.” (Pennac, p.115, 2007) NA UNIVERSIDADE DO Sul da Califórnia, um curso de liderança era oferecido todos os anos para os cinquenta melhores alunos dentre os vinte e sete mil da escola, escolhidos a dedo em cada departamento. No fim do semestre, o avaliador do curso era instruído a dar para um terço dos estudantes a nota “A.’, a um terço a nota “B”, e ao outro terço a nota “C” – mesmo que o trabalho de qualquer membro desta turma estivesse acima de todos os outros alunos da universidade. Imagine o impacto causado à moral do ansioso e dedicado estudante que recebeu um “C” [a classificação mais baixa]. Não se aplica exatamente a este caso, mas na maioria das vezes, a nota recebida diz pouco a respeito do trabalho realizado. Quando você demonstra ao aluno que ele interpretou erradamente um conceito ou que deu um passo errado na resolução de um problema matemático, está indicando algo real a respeito do seu desempenho, mas quando você lhe dá um B +, não está dizendo nada sobre todo seu domínio da matéria, você está apenas comparando-o com os outros estudantes. A maioria reconhece que o principal objetivo da graduação é comparar um estudante com o outro. A maioria das pessoas também percebe que a competição coloca tensão entre amizades e quase sempre destina aos estudantes uma jornada solitária. Muitos atribuem à Michelangelo a frase de que dentro de um bloco de mármore habita uma linda estátua; necessita apenas que alguém remova o excesso de material para revelar o trabalho de arte que há dentro. Se nós aplicarmos este conceito visionário à educação, deixa de ter sentido comparar um estudante com outro. De outra forma, toda energia ficará focada em talhar a rocha retirando o obstáculo que existir no caminho do desenvolvimento de talentos, maestria e capacidade de auto-expressão. Chamamos a esta prática de dar um A. É uma estimulante forma de abordar as pessoas que prometem transformá-lo tanto quanto a elas mesmas. É uma mudança de atitude que torna possível você falar livremente a respeito de seus pensamentos e sentimentos, enquanto dá apoio aos outros no sentido de se tornarem o que tanto sonham. A prática de dar um A transporta os relacionamentos do mundo mensurável para o universo das possibilidades. Um “A” pode ser dado a alguém em qualquer momento da vida – a uma copeira, ao seu patrão, à sua sogra, a um membro da equipe concorrente ou a um dos motoristas no trânsito. Dando um “A’ você fala às pessoas não da posição de quem mede o quanto elas se colocam contra seus padrões, mas de uma posição de respeito que lhes dá espaço para se realizarem. O seu olhar está na estátua que existe dentro da rocha bruta. Esse A não é uma expectativa a ser vivida, e sim uma possibilidade a se viver. B & R Zander, A arte da possibilidade.