Duas breves circunstâncias!

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Por Frederico Pimenta

Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal.

Duas breves circunstâncias!

Leitura mais atenta do Boletim Salesiano (BS) neste individual datado de 1980 fez sobressair pequenas indicações que confirmam o pensamento, aceite no geral e igualmente neste particular, da existência de pequenos pormenores que estruturam as grandes realizações. Estamos, pois, no lugar genuíno de um compreensível sonho e do nascimento de uma grande obra.

A importância dos cooperadores salesianos ficou marcada desde o início da Obra com a criação, pelo próprio Pe. João Bosco, em 1876, da Associação dos Cooperadores Salesianos, concretizando assim o pensamento do fundador de serem verdadeiros Salesianos no mundo. No primeiro BS (1) do ano de 1980 e anexada à revista, surge uma breve separata com a formulação e análise do papel do cooperador: “Dossier – Cooperadores Salesianos – Quem são?”. É, pois, um documento marcante para a intelecção deste “ramo secular da família Salesiana”. (2)

Em 1980, com abundantes elementos informativos e formativos, como o exemplo anteriormente indicado, isolamos dois paradigmas do papel dos cooperadores e, mais concretamente, duas mulheres que se evidenciaram, legitimando pelo testemunho o mérito desta evidência. Com o carimbo de empenho edificativo das cooperadoras elencadas, ressaltaram dois títulos importantes: “Em Cristo voltarão à vida” (3) e “Noticiário – Colégio S. João Bosco ao Restelo”. (4)

No primeiro título, estamos perante a notícia do falecimento de D. Maria Madalena de Oliveira Martins, em 11 de dezembro de 1980. A redação deste texto funéreo resume a ligação estreita da cooperadora com as Oficinas de S. José de Lisboa, estando, portanto, subjacente à História da instituição. O carinho partilhado pela família Oliveira Martins encontra-se cravado no parágrafo “A família está muito ligada ao nascimento da benemérita instituição”. (5) Recordamos, assim, apelando desta forma para artigos anteriores, igualmente o nome do Dr. Guilherme de Oliveira Martins e o entrelaçar permanente com o crescimento das OSJ, neste local onde hoje se enobrece o nome dos Salesianos. Recebeu D. Maria Madalena a inclusão na Associação de Cooperadores, no ano de 1903, por intermédio de D. Miguel Rua. Encontramos igualmente o nome desta cooperadora no período menos visível da presença salesiana durante a década que se seguiu à implantação da república, em 1910. Fruto das políticas de então, o culto religioso cingiu-se ao interior das instalações das OSJ. A família Oliveira Martins esteve presente nestes momentos mais desgostosos da História das OSJ e deu, inclusive, guarida aos salesianos encarregados das instalações fortemente atormentadas pela vivência republicana. Estes relatos encontram-se elencados no texto elaborado aquando do falecimento desta magnânima cooperadora e demonstram a ligação intrínseca desta secular com os Salesianos. Essa união estendeu-se, inclusivamente, à primeira etapa do erguer da presença salesiana em Évora e ao apoio dado por D. Maria Madalena ao Pe. Carlo Frigo no seu encontro pioneiro com a realidade eborense, em 1926. 

No segundo título e numa outra realidade que denominámos no título como circunstância, noticia-se no BS a existência de um espaço escolar com a designação de D. Bosco e que “Certamente poucos dos nossos Irmãos saberão (…)”. (6) Pela leitura, tomamos conhecimento da existência de um Colégio que, no início da sua atividade, foi um Lar de acolhimento. Situava-se, à data da publicação no BS, em Lisboa, na zona habitacional denominada Restelo, circundante à malha urbana do território municipal da urbe lisboeta. O entusiasmo com o carisma de D. Bosco levou D. Maria de Lourdes Miranda, instituidora desse espaço, à criação de um estabelecimento de ensino, denominado Colégio S. João Bosco. Foi, portanto, tendo subjacente o carisma de D. Bosco que a cooperadora se moveu, “(…) a levou, por espírito de caridade, a dedicar-se a esses jovens tão carecidos de carinho e de cuidados médicos”. (7) Eram 43 os internados nesta instituição e o articulista do BS aponta reflexos de progresso da instituição. Quanto a D. Maria de Lourdes, afirma o autor do artigo que “A fundadora, por sugestão dum Salesiano, está a aprofundar o espírito dos Cooperadores e quer agregar-se à Família Salesiana”. (8)

 Estas linhas, contendo os testemunhos edificantes sobre a realidade, embora de forma sintética e bastante seletiva, no que ao momento cronológico concerne, resumem o seguinte  pensamento: “o Cooperador experimenta a grande alegria que resulta da partilha e da promoção pessoal do trabalho e espírito de D. Bosco”. (9)

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  • Boletim Salesiano, Revista da Família Salesiana, N.º 339, Janeiro-Fevereiro, 1980.
  • Ibidem.
  • Ibid.
  • Boletim Salesiano, Revista da Família Salesiana, N.º 342, Julho-Agosto, 1980.
  • Boletim Salesiano, Revista da Família Salesiana, N.º 339, Janeiro-Fevereiro, 1980.
  • Boletim Salesiano, Revista da Família Salesiana, N.º 342, Julho-Agosto, 1980.
  • Ibidem.
  • Ibid.
  • Boletim Salesiano, Revista da Família Salesiana, N.º 339, Janeiro-Fevereiro, 1980.