Duas visitas presidenciais

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Frederico Pimenta O Chefe do Estado distinguiu dessa forma o trabalho desenvolvido pelos Salesianos a par do reconhecimento do papel dos benfeitores da obra que permitiram o desenvolvimento da instituição na sociedade deste período. Já em 1908, as Oficinas de S. José de Lisboa tinham recebido o diploma de benemerência instituído pela Liga de Educação Nacional. Em 31 de maio de 1982, foram igualmente declaradas Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique. Linhas convergentes ________________________________________________________ Por Frederico Pimenta Releitura dos documentos originais da história dos Salesianos em Portugal. Trabalho ímpar de tantos investigadores, com especial destaque para o Pe. Amador Anjos, historiador, conhecedor profundo e inspirador de dissertações e teses sobre a vida e obra dos Salesianos em Portugal. Duas visitas presidenciais O período que abordaremos encontra-se demarcado pelas movimentações iniciadas em 28 de maio de 1926, que abriram portas ao período da Ditadura militar e subsequentemente ao período do Estado Novo. Uma vez mais, procuramos a contextualização da história dos Salesianos em Portugal e, em particular, na cidade de Lisboa e os ambientes social e político que se desenrolaram após o derrube da república firmada em 1910. “O Estado Novo ficou propriamente instituído quando foi aprovada a Constituição de 1933 a que se adicionou o Acto Colonial.“ (1) Desse período, abordaremos, de forma seletiva e sintética, sempre alocados no Boletim Salesiano, duas visitas de presidentes da República às Oficinas de S. José de Lisboa: o General Óscar Carmona e o Almirante Américo Tomás. A primeira, em 27 de março de 1939, e a segunda, em 1958. Em ambas, encontramos todo o enquadramento da sociedade de então com alusão à simbologia, elementos decorativos e frases representativas do Estado Novo. A presença do General Carmona revestiu-se de grande entusiasmo e foi acompanhada de grandes nomes da sociedade lisboeta e nacional. No rescaldo da visita, o Boletim Salesiano (2) apresenta quatro títulos de periódicos nacionais, A Voz, Novidades, Diário de Notícias e O Século, e deles transcreve os parágrafos mais luminosos da jornada presidencial e da identidade das Oficinas de S. José de Lisboa. A documentação fotográfica faz presença através de quatro elementos devidamente legendados: “Lisboa – Os Srs: Presidente e Ministro Carneiro Pacheco, ladeados pelo Director e Vice Director das Oficinas, na sala de exposição”, “Nas Oficinas de S. José (Lisboa): O Sr. Presidente da Republica presidindo a Sessão Solene”, “A sala de exposição das Oficinas de S. José, de Lisboa, vendo-se dispostos com estética os lindos moveis executados na secção de Marcenaria” e “Lisboa – O Sr. General Carmona, Presidente da republica, e o Sr. Ministro da educação Nacional visitando a Sessão da Tipografia e Impressão”. Deste último documento extraímos a fotografia usada neste artigo. O curto espaço disponível não permite a publicação dos outros testemunhos. A comparência do General não era inédita nos ambientes salesianos, pois esteve igualmente, em 19 de maio de 1930, presente na “comemoração festiva em Portugal da beatificação de Dom Bosco”. (3) “Nos lugares de honra assistiam o Chefe do Estado, Sua Eminencia o Cardial Patriarca, o sr. Ministro da Marinha e os srs. Embaixador do Brasil, ministro da Italia e Auditor da Nunciatura.” (4) Este memorial teve como promotor o veemente Pe. Pedro Rota que viria a falecer em 8 de agosto de 1931, na cidade de Lisboa, com 70 anos de idade. O Pe. Rota foi o nono diretor das Oficinas de S. José de Lisboa, cargo que ocupou de 1930 a 1931. A sua vasta experiência, adquirida especialmente no Brasil, Argentina e Uruguai, levou-o a encarar os ambientes salesianos em Portugal de forma diferente daqueles que trilharam a História. (5) Data, então, de 17 de março de 1939 a visita do presidente Carmona às Oficinas de S. José de Lisboa, que “(…) têm actualmente uma frequência de 170 alunos internos, 160 externos e 250 no recreatório dominical”. (6) Os acontecimentos desse dia ficaram documentados em textos de grande simpatia e extrema eloquência pela obra salesiana em Lisboa e fotografias que perpetuaram esse evento. Aquando da visita, o diretor das Oficinas de S. José de Lisboa era o Pe. Hermenegildo Carrá, sendo o décimo primeiro da lista de diretores, iniciada em 1896 pelo Pe. Pedro Cogliolo. O momento mais alto do dia foi quando “O Venerando Chefe do Estado, Sr. General Carmona, aproveitou o ensejo para distinguir com a Comenda da Ordem da Instrução aquele Estabelecimento, na pessoa do seu director, e para condecorar com a Grã-Cruz da Ordem de Benemerência a Sra. Duquesa de Palmela (…)”. (7) O Chefe do Estado distinguiu dessa forma o trabalho desenvolvido pelos Salesianos a par do reconhecimento do papel dos benfeitores da obra que permitiram o desenvolvimento da instituição na sociedade deste período. Já em 1908, as Oficinas de S. José de Lisboa tinham recebido o diploma de benemerência instituído pela Liga de Educação Nacional. Em 31 de maio de 1982, foram igualmente declaradas Membro Honorário da Ordem do Infante D. Henrique. Perfizeram-se, pois, 19 anos após a presença do General Carmona até à visita do Almirante Américo Tomás, realizada no dia 6 de novembro de 1958. Os objetivos do momento foram diferentes dos da primeira visita relatada. O enorme prestígio do trabalho desenvolvido pelos Salesianos levantou a curiosidade do Presidente “Porque desejava conhecer as Oficinas de S. José e os métodos de ensino aplicados pelos salesianos (…)”. (8) O Diretor era o Pe. Benedito Nunes, sendo provincial o seu antecessor. Pe. Armando Monteiro, com a sua caraterística de excelente orador, referiu-se ao momento: “É que, se nos surpreendeu imenso a grata notícia de que V. Ex.ª desejava conhecer de perto esta instituição de beneficência e educação, e ver como nela se trabalha e se ensina a trabalhar, não nos sensibilizou menos o modo simples e afectuoso como quis fazê-lo”. (9) O Presidente, ao longo do seu mandato, realizou igualmente outras visitas em datas importantes das memórias salesianas. Da sequência fotográfica que acompanha a visita de Américo Tomás, publicaram-se no Boletim Salesiano duas fotografias com a legenda geral de “Aspectos da visita presidencial” (10), afigurando-se o Presidente da República, o Dr. Baltazar Rebelo de Sousa, subsecretário da Educação, e o Pe. Armando da Costa Monteiro, provincial dos Salesianos, entre outros. No rescaldo da visita, o Boletim Salesiano (11) apresenta a reportagem de O Século e dele transcreve os parágrafos mais cintilantes da jornada presidencial e da identidade das Oficinas de S. José de Lisboa. “As Oficinas de S. José têm presentemente cerca de 650 alunos, dos quais 200 internos, e ministra-se nela o curso industrial, com aprendizagem nas oficinas.” “O Chefe dos Estado visitou demoradamente as vastas dependências: oficinas de artes gráficas, modernamente apetrechadas: de mecânica, electromecânica, alfaiate, marcenaria, entalhador, serração e todas as restantes (…)” “(…) os nossos aprendizes e os nossos jovens podem enfrentar confiadamente, com as suas habilitações práticas e realistas o seu futuro de trabalhadores no meio da sociedade.” A conclusão desta visita é feita tendo subjacente a frase do Presidente da República destacada no Boletim Salesiano: “A solução dos problemas sociais e oficinais está na abertura de muitas escolas destas”. (12) Além do Presidente da República e do Pe. Armando Monteiro, intervieram os aprendizes Pedro Manuel Ferreira das Neves e José Rodrigues Bairrada, respetivamente com mensagem geral dos alunos e poema sobre a visita. No final da visita, cantou-se o hino do colégio. Nos dias subsequentes, uma delegação formada por dois alunos e pelo Pe. Inspetor, Pe. Armando Monteiro, deslocou-se à residência presidencial para agradecimento da visita e simultaneamente para a entrega do diploma de Cooperador Salesiano. Uma vez mais, o registo desse momento ficou testemunhado fotograficamente no Boletim Salesiano. (13) __________________________________________________________________________ (1) Garcia, José Manuel, História de Portugal – uma visão global, Editorial Presença, 1981. (2) Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores Salesianos, Ano XXXVI, Maio-Junho 1939. (3) Anjos, Amador, Oficinas de S. José, os Salesianos em Portugal, Lisboa, 1999. (4) Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores salesianos, Anno XXVII, Julho_Agosto 1930, Numero 4. (5) Anjos, Amador, Oficinas de S. José, os Salesianos em Portugal, Lisboa, 1999. (6) Boletim Salesiano, órgão dos cooperadores Salesianos, Ano XXXVI, Maio-Junho 1939. (7) Ibidem. (8) Boletim Salesiano, órgão das Obras de D. Bosco, Ano XVIII, N.º 139, Janeiro, 1959. (9) Ibidem. (10) Ibid. (11) Ibid. (12) Ibid. (13) Boletim Salesiano, Órgão das Obras de D. Bosco, Ano XVIII, N.º 142, Abril, 1959.