O momento que a humanidade atravessa é um dos mais desafiantes dos últimos largos anos. Ao olharmos para trás, vemos que história relata muitos outros desafios, pelos quais tantos passaram e que tantos superaram.
Perante os desafios, especialmente os mais difíceis, o carisma salesiano dita que estejamos com, para e pelas crianças e jovens mais pobres. Basta tomarmos como exemplo D. Bosco quando, em 1854, a cólera atingiu Turim. Tomando todas as medidas preventivas, D. Bosco pôs “mãos à obra”, com os seus jovens, para auxiliar os doentes.
Consciente de que a situação que a humanidade vive atualmente é uma das mais difíceis, o Serviço SolSal de Lisboa tomou este exemplo que nasce da fé, que caminha pelo Amor e que ilumina tantas vidas, como fonte de inspiração para delinear um plano que desse a mão a quem mais precisa e que minimizasse as problemáticas sociais e emocionais que têm surgido na sequência do COVID-19.
As últimas semanas têm sido de trabalho intenso no Serviço SolSal de Lisboa. Em apenas uma semana, após o início da crise, o número de famílias apoiadas pelo SolSal subiu na ordem dos 20% e a tendência continua no sentido do aumento, face ao crescente número de encaminhamentos dos diferentes parceiros sociais. Este aumento resulta das dificuldades económicas que as famílias atravessam num tempo que é de incerteza, complexidade e ambiguidade e cujos impactos exigem respostas efetivas, céleres e solidárias.
Com a certeza de quem ninguém ficará para trás, e por forma a aumentar a capacidade de resposta, a equipa técnica assumiu todas as tarefas inerentes ao apoio alimentar das famílias e a cantina dos Salesianos de Lisboa começou a confecionar mais 50 refeições diárias, adicionais ao que já era doado anteriormente, permitindo assim aumentar o número de famílias apoiadas. Também o número de famílias apoiadas com cabazes de bens de primeira necessidade teve um aumento significativo, tendo sido integradas mais 20 famílias neste apoio.
De forma menos visível, mas não menos importante, tem sido realizado um trabalho diário e sistemático que, apesar da distância física, garante a proximidade necessária no acompanhamento às famílias que, em especial, atravessam dificuldades ao nível da estabilidade familiar e emocional. São conhecidos os riscos que esta nova realidade de isolamento social acarretam, quer ao nível da saúde mental, quer ao nível das relações interpessoais. Agravam-se e emergem situações de depressividade, de violência e de ansiedade que necessitam de um acompanhamento cuidado e atento. Com esta consciência, o acompanhamento psicológico foi adaptado, por forma a que cerca de duas dezenas de crianças, jovens e adultos continuassem a beneficiar deste apoio, na modalidade à distância. Também à distância, são efetuados contactos diários, estando a ser acompanhados cerca de uma centena de pais/mães e encarregados de educação, nos desafios que esta nova realidade impõe às vivências e às dinâmicas familiares.
As rotinas familiares, especialmente para os mais pequenos, sofreram reviravoltas e perderam-se muitas delas. Neste sentido, o Serviço SolSal de Lisboa também tem procurado contribuir para que, pelo menos, algumas delas se possam manter, ainda que de formas diferentes. A criação e a adaptação das atividades presenciais que eram realizadas no serviço, como o Programa Socioeducativo Salesiano “1815” e o Programa de Psicomotricidade e de Promoção de Competências Sócio-emocionais “Kids In”, para versões a realizar em casa, têm sido desafios superados pelo envolvimento que as famílias têm demonstrado. Com a colaboração dos pais e das mães, cerca de 25 crianças continuam a crescer e aprender com estas atividades. A estas, juntar-se-ão muitas outras!
As contas do último dia de março de 2020 ditam que o Serviço SolSal de Lisboa chega a 104 famílias, num total de 362 pessoas. Destas, 208 têm menos de 25 anos. São vidas preciosas a quem é urgente dar a mão, com a confiança e a fé no inabalável Amor de Deus. A forma como recordaremos estes tempos será descrita pela resposta que consigamos dar, em especial àqueles que vivam com mais fragilidades, preservando a nossa humanidade e mantendo a esperança de que o futuro que se avizinha renascerá como a Primavera. Para esta Primavera, somos todos missão na sementeira do bem. Somos todos missão na multiplicação do Amor!
